Os que, sabiamente, optam pelo uso de um mínimo de bom senso (ancorados na responsabilidade, evidentemente), percebem que é humanamente impossível o processamento de mudanças radicais numa cultura secularmente estratificada, ao simples toque de uma varinha (mágica) de condão, especialmente quando se está a lidar com a “coisa pública”; já aqueles passados “na casca do alho”, sabem que é ilusório se pensar que práticas e conceitos de há muito vigentes e arraigados possam vir a ser eliminados, de cima pra baixo e de um dia pra outro, através da decretação de alguma providência de caráter extraordinário (via edição de medidas provisórias, por exemplo); enfim, mudanças estruturais, que mexem com milhões de pessoas e até com o destino de uma nação, precisam e exigem, além da coragem para tomá-las, responsabilidade profunda e um determinado tempo de reflexão e maturação (nada de intempestividade, sob pena de uma colheita catastrófica).
Com a reflexão acima, queremos fazer referência, em passant, ao regime político vigente no Brasil – o presidencialismo - já que, em razão da necessidade de constituição de uma necessária base de apoio sólida e ampla (mesmo que heterogênea) a fim de viabilizar a tal “governabilidade” o ocupante da função há de ter “estômago de avestruz”, especializar-se na arte de engolir lagartos, sapos, cobras e outros similares, a fim de aprovar projetos de interesse do país, sem que com isso tenha de abdicar ou deixar de punir os que não se enquadrem nos padrões estabelecidos na seara da moralidade administrativa (e é triste constatar que essa é uma das características do nosso regime: o poder Executivo, de certa forma, tende a tornar-se refém do Legislativo, onde impera o “jeitinho”, o beneficiar-se primeiro, o corporativismo exacerbado).
Irresponsavelmente, no entanto, de certo tempo até esta quadra, por pirraça ou mesmo por querer ver o circo pegar fogo, alguns oposicionistas que têm no radicalismo, na intolerância e no sectarismo sua bandeira primeira, questionam o fato de a presidenta Dilma Rousseff usar do comedimento, da prudência e de uma “paciência chinesa” pra definir-se em relação às sérias acusações assacadas contra alguns dos seus principais auxiliares, suspeitos de malfeitos (e aí, chegam ao absurdo da insensatez, ao acusá-la de ser leniente com a corrupção),
Por essa razão, é bom que todos tomem conhecimento que nos últimos oito anos (a partir do primeiro governo Lula da Silva), nada menos que 2.840 (dois mil oitocentos e quarenta) funcionários federais foram postos no olho da rua, 281 foram destituídos dos cargos em comissão e 204 tiveram aposentadorias cassadas, em virtude, principalmente, do recebimento de propinas e de crimes de improbidade administrativa; especificamente no governo Dilma Rousseff, só nos primeiros sete meses da sua gestão, além dos graduados (e tidos como intocáveis) quatro ministros que receberam o “bilhete azul”, nada menos que 328 funcionários foram demitidos, sem choro nem vela, em razão de se conduzirem de maneira inapropriada na condução da “coisa pública” (dados divulgados pela Controladoria Geral da União-CGU, posição em julho/11).
Reconheçamos que ainda é muito pouco, porque corrupto e desonesto é o que não falta nesse mundo, mas a “arte da prudência” e o bom senso adotado pela nossa presidenta parece-nos o mais recomendável.
No mais, apesar da presidenta Dilma Rousseff ter decepcionado determinados segmentos da sociedade (em razão da prudência adotada, de par com a firmeza das suas decisões), em compensação acaba de ser escolhida por um qualificado e respeitável júri internacional como a terceira mulher mais influente do mundo (atrás da dura chanceler alemã Ângela Merkel e da poderosíssima secretária de estado americana, Hillary Clinton), em razão do comando sereno, firme e profícuo que imprimiu à frente de uma potência complexa como o é o nosso Brasil.
E isso se acha refletido no apoio e aprovação demonstrados pela imensa maioria da população brasileira, conforme demonstram os últimos números tabulados.
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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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quinta-feira, 1 de setembro de 2011
A "arte da prudência" - José Nilton Mariano Saraiva
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