Muitos pensam que a primeira paróquia criada no Vale do Cariri foi a de Nossa Senhora da Penha de Crato, fato ocorrido em 1768. Entretanto, em 28 de janeiro de 1748 -- vinte anos antes da ereção da paróquia de Crato -- foi criada a Freguesia dos Cariris Novos (hoje cidade de Missão Velha), tendo como padroeira Nossa Senhora da Luz. (Ao lado a imagem de Nossa Senhora da Luz, Rainha e Padroeira de Curitiba-PR)
Em 1759, o modesto templo que abrigava a única igreja-matriz do Cariri estava arruinado. O seu vigário, padre Manoel dos Prazeres de Sousa Magalhães, obteve então a autorização do bispo de Olinda, dom Francisco Xavier Aranha, para erguer uma nova igreja, mas – fato curioso – tendo agora São José como padroeiro. Desconhecem-se as razões que motivaram a troca de Nossa Senhora da Luz por São José.
O fato é que Nossa Senhora da Luz, em passado remoto, foi a primeira padroeira oficial das terras caririenses. Infelizmente, nos dias atuais, nada mais resta para lembrar essa devoção, hoje totalmente desconhecida pelas novas gerações missãovelhenses. Com o intuito de relembrá-la, damos a palavra ao historiador Murilo Zampieri.
“Foi em Portugal, no decorrer do século XV, que a devoção a Nossa Senhora da Luz floresceu e, dali, veio para o Brasil. Pedro Martins, simples agricultor da pequena vila portuguesa de Carnide, levava uma existência tranquila com sua esposa. Mas eram turbulentos os tempos em que viviam. As crônicas não relatam exatamente como, mas ele teve o infortúnio de cair prisioneiro dos mouros da África. Do ambiente de afeto de sua família, caiu na desgraçada condição de escravo, sujeito a um regime sem compaixão de trabalhos pesados, sob clima atroz e, sobretudo, privado por completo do conforto da religião cristã. Passavam-se os anos, e nenhuma esperança humana restava ao infeliz cativo. Vendo-se de tal modo desamparado pelos homens, Pedro Martins se voltou então, com mais intensidade do que nunca, para Deus.
“Numa noite, isolado em sua cela, resolveu rezar com mais fervor e fé. Após horas de oração, vencido pelo sono, adormeceu. Então lhe apareceu em sonho uma Senhora cheia de luz, a qual lhe prometeu voltar mais vezes para consolá-lo e, após sua última visita, fazê-lo voltar para Carnide. Acrescentou que, lá chegando, ele deveria procurar algo que pertencia a Ela e fora escondido perto de uma fonte. Deu-lhe também a incumbência de ali edificar uma capela, cuja localização exata Ela lhe indicaria por meio de uma luz.
“Trinta noites consecutivas passou ele consolado pela própria Mãe de Deus! As dores sofridas durante o dia se desvaneciam pela luz e a suavidade das horas passadas aos pés de Maria. No entanto, ele continuava cativo. Ao despertar da trigésima noite, oh surpresa! De modo milagroso e inesperado, estava ele de volta em sua boa aldeia. Tomado de emoção, encontrou-se com os seus entes amados, os quais muito se admiravam por vê-lo salvo.
“Mas ele não se esqueceu do pedido da Virgem, e logo se pôs a procurar aquilo que, segundo a indicação d’Ela, tinha sido escondido “perto de uma fonte”. Na verdade, num local chamado Fonte do Machado, há tempos uma luz misteriosa andava aparecendo, e de toda parte vinha gente curiosa para ver tal fenômeno. Decidiu então Pedro ir à noite, acompanhado de um primo, para ali fazer a busca. Realmente, ao chegar à fonte avistaram uma luz a se mover diante deles. Seguiram-na até um matagal, e ela parou sobre umas pedras. Eles não pensaram duas vezes. Retiraram as pedras e com encanto se depararam com uma lindíssima imagem de Nossa Senhora. A notícia dessa milagrosa descoberta correu por todo o país, e naquele mesmo ano – 1463 – deu-se início à construção de uma capela, conforme fora ordenado pela Santíssima Virgem. Anos mais tarde, ela seria substituída por uma magnífica igreja.
“Atravessando os mares, a devoção a Nossa Senhora da Luz estendeu-se pelo mundo inteiro, frutificando também no Brasil”.
Essa devoção chegou ao Cariri em 1748, com a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Luz dos Cariris Novos, a qual, em 1760, receberia a nova denominação de São José dos Cariris Novos.
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael
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