Quando as modernas sociedades começam a regulamentar especialmente para certos grupos da população, agem movidas por dois acertos e dois erros inerentes. Os dois acertos seriam: reconhecer que estruturas físicas e sociais modernas não são iguais às sociedades rurais e, portanto, existem diferenças que agridem certos grupos e promover as mudanças físicas e culturais para proteger tais grupos.
Os erros inerentes seriam: fragmentar a ética geral da sociedade em face da especificidade, assim perdendo a grandeza de uma sociedade universal que compreenda naturalmente as diferenças, e o outro erro seria desenvolver contradições entre grupos a partir da especificidade regulamentada de modo a salientar as diferenças ao invés de reduzi-las.
Peguemos o caso do idoso. As cidades, onde vive a maioria da população mundial, se desenvolveram na lógica do processo industrial e capitalista e, portanto, como estruturas para dinâmicas produtivas. As pessoas que vivem nas cidades passam a ter uma “funcionalidade” em razão da performance produtiva, assim como Chaplin apertando parafusos em Tempos Modernos.
Duas coisas são essenciais na performance produtiva: a agilidade muscular e a corrida cerebral por desempenho superior aos demais. As pessoas deixam de ser e passam à categoria de coisa, assim como uma propriedade do sistema produtivo. Nesta ótica falamos de algo azeitado e sem falhas na atividade.
Ora com a idade os músculos perdem agilidade e o cérebro além de ampliar o volume de memória, começa a se “cansar” da concorrência com outros cérebros mais “jovens”. Não tem solução o sistema produtivo retira-o, por inútil, para um ócio absoluto: ausente de todos os demais e confinado a espaços isolados, embora no meio de uma multidão.
A reserva de memória, o aprendizado de processos, a reflexão que consome tempo (e tempo é dinheiro), entre tantas características do idoso, passam a ser estorvo para a dinâmica capitalista e com isso se queima história, sabedoria e conhecimentos. Nesta corrida produtiva, como se trata de corrida, eles só percebem a primeira fila da disparada e a isso chamam inovação.
Como passamos por um fato inusitado no campo da demografia humana, que é o envelhecimento relativo da população, estamos diante de um contingente ocioso sem igual em relação ao conjunto da população. Aí começam as tais políticas específicas para tais grupos. E no que elas estão dando.
Em primeiro lugar podem formar um contingente de miseráveis sem capacidade de renda para viver em sociedade ou um contingente com recursos materiais, mas infantilizado por tais políticas específicas. Não é a toa que as instituições, que se multiplicam para ganhar dinheiro com políticas para este grupo, tratam-no como incapaz e passível de uma direção como se fosse “escoteiro” ou “bandeirante”.
Levam os velhinhos para passear e balançar, ritmicamente, os bracinhos numa simbologia do nada. Os bailes da terceira idade a dar-lhes uma alegria de picadeiro. A ginástica como a dar ordem unidade para os grupamentos formados em torno do sargento e assim por diante. Claro que neste meio existem as adaptações físicas nas ruas, nos prédios e nos transportes isso é o positivo em contradição com o negativo da especificidade dirigida e usurpadora do ser humano que não é uma “coisa”, mas um ser em plenitude como qualquer outro.
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