Toda tarde tu me chegas
Pra cantar no meu terreiro
E eu fico a te procurar
Entre os galhos do oitizeiro
Mas, não é pra te espantar
Quero só te escutar
Sabiá sei que tu cantas
Por querer me alegrar
O meu peito consolar
Só porque me viu chorar
Quando pela estrada andei
Procurando o que deixei
Meu sabiá, eu chorei
E a você vou negar não
Chorei porque não achei
Aquele velho cajueiro
Onde desenhei um coração
Com as iniciais do amor primeiro
Porque não vi o engenho
A doce cana caiana
A garapa, a rapadura
Aquele doce umbuzeiro
O gado no pasto berrando
E o vaqueiro campeando
Sabiá, também chorei
Quando para o curral olhei
E não vi mais a fartura
Do leite cru no capucho
Porque não vi apitando
O carro de boi na estrada
Sabiá, se eu chorei
Foi porque não encontrei
O riacho de água doce
Onde eu ia me banhar
Chorei ao ver os terreiros
Onde eu corria e brincava
E ao lembrar-me dos brinquedos
Que eu mesmo inventava
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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