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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 11 de outubro de 2011

O linguajar matuto


Pedro Esmeraldo

De vez em quando, tenho vontade e a sensação de reavivar a memória com o intuito de estudar a origem das palavras primitivas do Nordeste.

É um linguajar eivado de erros que faz todos nós matutarmos como se fossem palavras modernas e eficientes, mas com atenção pronunciados nesses tempos modernos. Com efeito, há pronunciamento errôneo que vem sendo falado através dos tempos por um povo risonho, mas possuidor de pouca prática do uso do ofício.

Como convivi desde minha infância com o pessoal da roça, habituei-me a dialogar os dizeres desse povo, pois tinha intimidade em ouvir as suas orações provenientes dos costumes antigos.

O matuto caririense era intuitivo, dotado de um saber medieval que às vezes causava admiração quando alguns deles se deparavam nas disputas de violeiros, quando freqüentavam os terreiros da casa grande do patrão do Sertão. Contudo reinava entre eles sabedoria, pronunciando versos elevados, mostrando saber que deixavam todos boquiabertos. Entre meios rústicos havia pessoas cultas que demonstravam loquacidade, deixando muitos admirados, como é entre os homens moradores do Sertão nordestino. Eram estudiosos, narravam com dignidade as histórias dos feitos heróicos dos tempos da dinastia da época de Carlos Magno.

Por isso, desejo contar para reavivar a memória, fatos acontecidos do segundo quartel do século XX. Esta história foi narrada pela minha mãe, visto que durante a costumeira visita à sua terra natal do médico cratense, psiquiatra, professor da Universidade do Brasil, membro de uma ilustre família local, rumou para um outro mundo no início de sua juventude a fim de buscar conhecimentos médicos – para nunca mais morar em sua terra.

Pois bem, certa vez retornando ao Crato com ânsia de matar a saudade e rever seus familiares não estava mais habilitado a observância dos costumes matutos; estranhou quando ouviu os hábitos alimentares dessa gente com pratos elevados de comida, cheios de gordura; então teve a idéia de perguntar ao pobre matuto se essa comida não repugnava. O matuto atoleimado ficou perplexo e não entendeu palavra do médico, respondendo apenas a palavra errada, dizendo: Cuma? Novamente o médico repetiu a pergunta e o matuto não entendeu patavina de suas palavras. Daí minha mãe vendo que o matuto não entendia a pergunta do médico tomou a palavra e disse: espere aí Zaqueu, é assim que se fala: não arripuna não? Aí o matuto entendeu respondendo: arripuna inhô sim. Aí o médico não teve outra coisa senão rir. Por certo, nunca mais esqueceu estas palavras erradas pronunciadas pelo matuto.

Naquela época a civilização ainda não tinha chegado ao interior do Nordeste. Somente em algumas cidades mais evoluídas tinha o desejo de se estudar com mais perfeição. Somente com uma dosinha elevada de sacrifício tinha de se deslocar para os meios maiores procurando com o desejo de aprimorar os seus conhecimentos como foi o caso desse médico que teve que ir para o Rio de Janeiro e lá então foi uma pessoa influente já então na capital federal.

Autor: Pedro Esmeraldo

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