por Alberto Dines
Balística e jornalismo investigativo têm algo em comum: independente do calibre da arma e da força do projétil, é crucial avaliar o ângulo do disparo e a vulnerabilidade do alvo.
As denúncias da Veja contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, publicadas no fim de semana 15-16 de outubro (edição 2239) devem demorar a derrubá-lo ou talvez nem o derrubem. Foram formuladas canhestramente. São ineficazes.
Para começar: o denunciante é réu. Portanto, suspeito. Tem ficha de truculento, negocista, policial-bandido, miliciano típico. Esteve envolvido no mesmo esquema que agora tenta demolir. Faz parte do mesmo bando que agora está sendo investigado. O desvio de verbas do ministério para ONGs que promovem o esporte assistencial já estava sendo investigado há mais de dois anos pelas polícias de Brasília e Federal, pela CGU e pelo Ministério Público.
O fato novo, bombástico, é a entrega de dinheiro vivo na mão do ministro ou de seu motorista. E esta tremenda novidade não colou porque carece de provas. Veja embarcou em nova aventura denuncista sem ter qualquer comprovante. Saiu atirando.
Na ânsia de ganhar o campeonato nacional de tiro-aos-ministros, o semanário fez escolhas estratégicas erradas. Quando a Folha de S.Paulo atirou em Antonio Palocci, mirou apenas em seu incrível e vertiginoso enriquecimento. Não pensou no PT nem em alvos próximos. Apontou, atirou, acertou na mosca, Palocci estrebuchou um bocadinho e emborcou.
O frenesi ideológico dos atiradores de Veja leva-os a optar pela rajada e esta nem sempre é mais letal do que o tiro único, certeiro. Queriam pegar o ministro e também o seu partido, fazer o trabalho completo. Não pegaram nem um nem outro.
O PCdoB, tal como uma porção significativa da base aliada, está envolvido em bandalheiras. Sua imagem de estoicismo e idealismo há muito evaporou. A vigorosa reação dos familiares das lideranças comunistas históricas em seguida à propaganda televisiva do partido (Anita Leocádia Prestes e Victoria Grabois, por exemplo) é prova de uma indisfarçável degradação.
São consistentes muitas das revelações sobre o que acontece dentro e em torno do Ministério do Esporte não apenas porque já vinham sendo investigadas, mas porque agora passarão a ser monitoradas também pela Procuradoria Geral da República. É da natureza da PGR relutar, não dispersar-se em muitas ações e trabalhar longe dos holofotes. Mas quando anuncia publicamente que vai apurar malfeitorias é porque pressente o que deve encontrar.
Esporte perigoso
A editoria de denúncias do semanário da Editora Abril não levou em conta as chamadas “circunstâncias ambientais”: a destituição do ministro do Esporte quando faltam três anos para o início da Copa do Mundo só poderia ocorrer diante de colossais ilícitos. Comprovados cabalmente. Também não levou em conta que naquele momento o ministro Orlando Silva não poderia ser facilmente sacrificado porque representava uma ala do governo que tenta oferecer resistências ao poderio conjugado dos abutres Fifa-CBF.
Para ser eficaz, o jornalismo de cruzadas deve evitar fúrias, ser preciso. A grande mídia está apostando para ver quem derruba mais ministros até o fim do ano. Trata-se de um esporte radical, cansativo e perigoso. Corre o risco de ficar desacreditado.
8 comentários:
Zé do Vale,
Na verdade, o Alberto Dines dispensa comentários (trata-se de um paradigma de competência e seriedade).
Só que tem gente que prefere
"jornalistas" (???) da estirpe de um Cláudio Humberto, Diogo Maynarde e Reinaldo Azevedo da vida.
Triste...
Há quem pense diferente deste "paradigma de competência e seriedade" que defende o ministro corrupto.
A conferir:
Salto-mortal – por José Roberto Guzzo (*)
1
É muito difícil para qualquer governo, por mais esforço que faça, ter uma equipe de ministros tão horrorosa quanto a que foi escolhida pela presidente Dilma Rousseff. De onde saiu essa gente toda? O acaso, apenas, não é suficiente para explicar uma calamidade desse tamanho. É preciso fazer força, e muita, para chegar lá - afinal, a dificuldade para armar um ministério nota 10 é a mesma que se tem para armar um ministério nota zero, ou quase isso, como é o caso da turma que está aí. A comprovação de sua ruindade está no desempenho que vem tendo, conforme mostram os fatos. Em nove meses de mandato da presidente, cinco ministros foram para a rua, um sexto; o do Esporte, acabou de virar assombração ninguém, nem a própria presidente, é capaz de garantir quantos conseguirão completar seu primeiro aniversário no cargo. Se uma equipe dessas não está entre as piores de todos os tempos, o que seria preciso, então, para que estivesse?
(continua)
2
Não houve azar nas escolhas: nessas coisas não existe azar. É de supor, também, que presidente não nomeou gente ruim de propósito, só pelo gosto de conviver com indivíduos de baixo nível em volta de si - ou que sua presença no governo faça parte de um plano secreto, cuja utilidade só é conhecida pela própria Dilma.
Dizer que ela não sabia que estava escolhendo pessoas de alta periculosidade seria um disparate. É possível, até, ter ocorrido algum engano em relação a um ou dois nomes - mas seis? É pouco provável, enfim, que a presidente acreditasse que esse pessoal todo, depois de assumir o cargo. iria se arrepender da vida que levava até então e se transformar em cidadãos exemplares.
A verdade é bem mais simples. O ministério de Dilma Rousseff é o resultado que ela colheu ao aceitar nomes impostos pelo seu antecessor, ceder às exigências da banda mais venenosa da política brasileira e deixar que continuasse funcionando, quase intacto, o processo de entrega da máquina pública aos interesses particulares de caciques da "base aliada" e do seu próprio partido. Não podia dar certo. Não deu.
(continua)
3
Esse ministro do Esporte, por exemplo: não era preciso dispor de nenhuma informação exclusiva, ou contar com a ajuda dos serviços de espionagem oficiais, para saber que o homem, desde sua passagem pelo governo anterior, era uma bomba-relógio.
O que aparecia sobre ele no noticiário comum já era suficiente para Dilma riscar seu nome de qualquer lista de possíveis ministros; imagine-se, então, o que não aparecia. Colocar o personagem sob a observação do mundo inteiro, com o papel que ele iria exercer na organização da Copa de 2014? Bom, aí já era arriscar um salto-mortal triplo.
Mas a procissão foi em frente e hoje o ministro se tornou um caso clássico para os melhores manuais de mau governo que se podem encontrar na praça. Chega a ser monótono. Como a maioria dos colegas postos para fora nos últimos meses, ele vive a mesma história de empresas-laranja, ONGs flagradas em desvio de verbas, dinheiro público entregue para a prestação de serviços jamais executados e daí por diante.
Há, como em outros episódios, negócios imobiliários difíceis de entender e mais difíceis ainda de explicar. Repete-se com ele a desgraça que é a privatização do estado brasileiro - no caso, o Ministério do Esporte, terceirizado em benefício do PCdoB, o seu partido, e utilizado como propriedade pessoal dos amigos, aliados e vizinhança.
São parecidas com as outras histórias de demissão até mesmo as declarações de "confiança" que recebe por parte de companheiros de governo, os incentivos para que responda "à altura", o tiroteio contra os autores das denúncias etc. De novo, é mais do mesmo.
(continua)
4
Na primeira baixa sofrida pelo atual governo, a do ministro Antonio Palocci, os brasileiros tiveram direito a um espetáculo de arrogância capaz de fazer inveja a seu predecessor. Levantou-se todo um coro oficial para classificar as acusações como absurdas.
O caso não deveria merecer, segundo nossas mais altas autoridades, sequer um minuto de atenção. "Isso não tem como prosperar", garantiu a própria Dilma Rousseff. "É político." Foi dito que era tudo invenção da imprensa; ela teria decidido "derrubar pelo menos um ministro" antes de se completarem seis meses de governo, e faria tudo para conseguir isso.
Pois é. O tempo passa, o mundo gira e já estamos a caminho da sexta demissão. A imprensa não demitiu, nem nomeou, ninguém. A única assinatura que aparece, nos dois casos, é a da presidente da República.
(*) jornalista da revista “Veja”
Só que tem gente que prefere
"jornalistas" (???) da estirpe de um Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim, Alberto Dines e Mino Carta da vida.
Triste...
Caro Armando,
Há uma leitura equivocada de sua parte me relação ao texto do Dines. O Dines não defendeu corrupção e nem o ministro, apontou um tendenciosa prática jornalística da Revista Veja e por tabela um erro de estratégia. Sugiro a releitura do texto. Além do mais o José Roberto Guzzo se confunde com a história da revista Veja, presta-lhe serviço e obedece ao ditames de sua linha editorial. Este texto dele é um amontoado de adjetivações e futurologia que bem demonstra um golpismo político do mais antigo na história brasileira. Me admira que você não observe este tipo de coisa se tão horror tem contra outros jornalistas que nem sempre acertam na interpretação que você tem ou busca em outras fontes. Acho uma bobagem ficarmos aqui trocando figurinha de quem é o jornalismo mais sujo, pois a Veja, é parte da análise em qualquer circunstância. Agora discutir um assunto em pauta é nosso dever agora e sempre. De outro modo deixamos de publicar nos idéias. Sua ira em proteger a Veja tem sido uma constante como se ela estivesse num céu desinteressado nos assuntos terrenos.
Zé do Vale:
Observe que eu apenas usei meu direito de refutar a forma contundente (*) do primeiro comentário postado na matéria em tela – conferir abaixo:
“Zé do Vale,
Na verdade, o Alberto Dines dispensa comentários (trata-se de um paradigma de competência e seriedade).
Só que tem gente que prefere
"jornalistas" (???) da estirpe de um Cláudio Humberto, Diogo Maynarde (SIC) e Reinaldo Azevedo da vida.
Triste...”
(*) a exemplo de todos os dicionários, também no Houaiss “contundente” significa:
“Derivação: sentido figurado. que causa sofrimento, fere ou magoa”
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Errei ao utilizar as mesmas palavras usadas pelo comentarista, (mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa) o qual -- -- como sói acontecer -- -- ao burilar o que escreve, costumeiramente o faz de forma agressiva, desrespeitosa, antidemocrática, mordaz, caústica...
com o único objetivo de ferir a quem não reza pela cartilha troglodita dele.
Quanto à revista “Veja” eu nunca escondi. Considera a melhor dentre as publicações que estão a formar a resistência ao processo -- -- em andamento -- -- para transformar o Brasil numa republiqueta de opinião punica e oficial semelhante a Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua.
Numa coisa você tem razão. É bobagem eu levar em consideração “comentários” raivosos e servis como o citado.
A partir de hoje não o farei mais.
Cordial abraço.
Com a estima de sempre,
Armando
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