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sábado, 12 de novembro de 2011

Crato "republicano" ? algumas considerações -- por Armando Lopes Rafael

(Excertos de um artigo publicado há 11 anos na revista A Província – nº 18, 2000)
Alguns escritores locais citam, vez por outra, a “tradição republicana” de Crato. Não acredito nessa alardeada “tradição”. Mas quero deixar claro que receberei com naturalidade, toda correção que vierem a fazer a este meu pensamento.

Começo por lembrar que o aniversário do golpe militar que implantou a República nunca foi comemorado em Crato. Nesta cidade o povo comemora datas como o 7 de setembro, 21 de Junho, Nossa Senhora da Penha, São José, São Francisco, dentre outras. Comemoração no dia 15 de Novembro – data da “Proclamação da República” – nunca vi.

O Crato, durante 149 anos (de 1740 quando foi fundado a 1889, quando houve o golpe militar que introduziu a forma de governo republicana) viveu sob a Monarquia. Não se apaga facilmente um século e meio na vida de um povo. No imaginário popular persiste a idéia de que a Monarquia é algo bom. O historiador cratense Denizard Macedo escreveu[1] :

“O povo tinha apego aos soberanos e aversão às manobras revolucionárias. Diferente do que alguns tentam demonstrar existia uma tradição moldada na fé católica e na monarquia absoluta, com seus princípios, escala de valores, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover esta herança cultural profundamente enraizada no tempo”.

Isso é verdade, ainda hoje quando o povo reconhece numa pessoa certos méritos ou qualidades acima do comum, costuma dar-lhe o título de “Rei”. Por isso temos ou tivemos; “O Rei Pelé”, “O Rei Roberto Carlos”, “O Rei do Baião”, “O Príncipe dos Poetas Populares” (o repentista Pedro Bandeira) etc. E o que dizer dos concursos que se realizam para escolha da “Rainha do Colégio”, “Rainha da Exposição”? e de nomes de lojas como “O Rei da Feijoada”, “O Império das Tintas”? Ou nomes como “Rádio Princesa FM”, “Colégio Pequeno Príncipe”?

Portanto, é um mito sem consistência essa alardeada “tradição republicana” de Crato. Precisamos ter coragem para proclamar isto, pois ela não reflete a realidade. Ainda não se conseguiu sensibilizar as camadas populares para comemorar, em Crato, o golpe militar que impôs no Brasil a República. Sempre foi assim. Vai ser assim, também, na próxima 3ª feira, dia 15 de novembro, quando o país vai parar – num feriado nacional – em comemoração à “Proclamação da República”.

“República” para o povo é sinônimo de casa de estudante, com a desorganização e improvisação comum aos jovens. Ou serve para lembrar as notícias que vêm da Capital da República como os escândalos de corrupção na Casa Civil ou a demissão dos ministros corruptos  recebidos por Dilma como "herança maldita". “República” continua a ser, no imaginário popular, a lembrança da falta de segurança, a falência da saúde pública, a precariedade da educação pública, a fila dos aposentados (expostos ao sol e à chuva) na fila das calçadas dos Bancos para receber suas míseras aposentadorias, os políticos corruptos, as obras públicas inacabadas, a demagogia e a falta de respeito para com a população…

Acima, a primeira bandeira oficial dos Estados Unidos do Brasil (nome da República até 1967). Imitação barata da bandeira norte-americana essa bandeira só durou 4 dias...

Notas:
[1]Notas Preliminares no livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, de J.dias da Rocha, 2ª Ed. Secretaria de Cultura do Ceará, 1978.

Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

Um comentário:

Edilma disse...

Armando,

A cada postagem sua nos tornamos mais ricos em informações, seja histórica, religiosa ou atual.
Obrigada por alimentar a todos nós.
Abraço!