Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 13 de novembro de 2011

Aos sábados...
- Claude Bloc -


Tinha chovido. Quis sentir de novo a estrada de terra e seus solavancos novos... Despertar, assim, minhas intuições e meus desejos de vida nova. O sol hoje sorria, mas as poças de lama ainda brincavam de respingar pelos pneus recém lavados.

Seguimos. Crato foi ficando pra trás. O som dos pneus percorria todos os ligamentos nervosos de meu ouvido, excitando-os a tal ponto, que alegria foi tomando conta do meu humor abalado. Meus olhos procuravam atentamente o verde de todos os lados, resultado das poucas chuvas de novembro. Fiquei pensando em minhas últimas estações de chuva e já nem sei há quantos sábados procurei esse oásis de paz... se mil ou dois mil ou sei lá quanto, só sei que se demorasse um pouco mais, meu coração que tem nem sei quantos mil sábados não suportaria continuar a procura e eu teria de desistir de todos os sábados que se seguiriam em minha vida.

Na viagem, lembrei-me de não sei quantos sábados passados. Mantive os sentidos aguçados, a visão restrita à paisagem e à estrada. Em compensação, meus olhos viam e imaginavam uma coisa e a boca(desordenadamente) falava outra, desbancando qualquer possibilidade de me fazer entender. Minha alma era puro júbilo.

E sei que depois disso será apenas um sábado atrás do outro, e de lá para cá ou de cá pra lá, e vai sempre estar em mim esta eterna ciranda na busca de mais sorrisos como se a alegria fosse um baile onde eu tivesse um espaço imenso para dançar.

Chegando à Fazenda, meus olhos entraram em sintonia com a boca e trabalharam incessantemente. Olhei para a casa como se nunca mais a tivesse visto. Desbravei-a. Olhei para a frestas do telhado ainda não consertados. Para as rachaduras das paredes e quase chorei. Por que as coisas têm que se desgastar? Deviam permanecer como as guardamos na memória. Imaculadas !

Um sábado atrás do outro, pensei.  E a imaginação voltou a acontecer em mais um sábado. Meus olhos já foram se perdendo nos detalhes de quem procura sem medo e a boca, diante da saudade, finalmente aprendeu a se calar, emudeceu. Deixou que meus olhos implorassem pelas lembranças para que elas voltassem a bailar pelos cantos da casa onde as marcas se depositaram, embaixo e ao lado de meus olhos.

Aí, meus olhos fizeram descer um gota de água salgada e entraram em compasso com meu coração. Por diversas vezes eu ouvi o som de uma cigarra atiçando meus nervos.

Era verdade. Eu voltava ali aos sábados e abundantemente degustava o sabor desse sábado, mas o relógio não parava.  Vi-me atrás de um par de olhos preocupados com o tempo, mas meu coração clamava por felicidade.


Claude Bloc



5 comentários:

Dihelson Mendonça disse...

Outro coração doente ficou aqui querendo ir também...

Abraços,

DM

Edilma disse...

Claude,
Agora entendo porque o seu celular não atendeu no sábado.
Serra verde, né?

Feliz feriadão!

Claude Bloc disse...

Edilma,

Cheguei já de noite, mas também tentei te ligar... Precisava falar contigo.

Abração.

Claude

Claude Bloc disse...

Ei, Dihelson,

Não precisa adoecer, basta não sumir.

Abraço,

Claude

Dihelson Mendonça disse...

Vou me lembrar disso, Claude!

Abraços,

DM