somos fruto
do que vemos, pensamos, sentimos, falamos, ouvimos e tocamos. somos
depositários de tudo que de uma forma ou de outra convive conosco. tudo entra e
sai de nós. nossos sentidos, visão, audição, olfato, tato e paladar são nossas
antenas, nossas portas de entrada e saída através dos quais nos relacionamos
com coisas e pessoas. estamos conectados no mundo e nas pessoas com nossos
sentidos. portanto, precisamos entender como podemos melhorar a utilização
deles na busca de uma vida mais saudável e feliz.
escutamos
besteiras o dia todo e queremos contar e proclamar maravilhas (?). falamos mal
de tudo e de todos e queremos receber boas notícias (?). queremos ser elegres,
mas só escutamos tragédias e só falamos de desgraças (?). queremos ser equilibrados,
mas nossa vida está à deriva. somos o que querem que sejamos. perdemos a
capacidade de nos encontrar conosco mesmo. nem mais sabemos que somos. vivemos
como bêbados. não conseguimos liderar a nós mesmos, quanto mais a nossos
filhos, amigos e colegas de trabalho. quaremos ser livres, mas vivemos
escravizados pelo poder da globalização, da desumanização, da imbecialização,
da animalização. falamos o que querem que falemos, escutamos o que nos
determinam, comemos o que nos impõem, agimos sem pensar, quando pensamos não
agimos, emburrecemos para conviver, convivemos para morrer, estamos morrendo
sem perceber.
só converso
de problemas. só escuto problemas. durmo e acordo convivendo com problemas.
como encontrar soluções se só conheço problemas? em quase todas minhas
conversas falo de problemas financeiros, doenças, descrenças, desavenças, falo
mal de amigos e inimigos, falo mal de quem não conheço, critico todos e tudo,
enfim falo de tanta coisa ruim e depois não sei por que ando me sentindo meio para baixo. não sei por
que estou triste e depressivo. coloco para dentro de mim, todo tempo, lixo e
não quero me sentir como lixeira. estou repleto de lixo, como não ser lixeira?
estou podre, como não ser fedido? estou nauseado pelo meu cheiro. sinto vontade
de me vomitar.
minha
alimentação é baseada em tecido morto. como carne todos os dias. minhas células
precisam fazer um esforço sobrenatural para expulsar o que é morto de dentro de
mim, afinal parece que estou vivo, mas se coloco tecido podre, putrefato dentro
do meu corpo, envelheço mais cedo, morro mais cedo.
assisto
novelas, reality shows e jornais que são puro lixo intelectual, puro e
concentrado lixo emocional, lixo social. ora! como com todo esse lixo para
dentro de minha mente pretendo ser alegre e feliz? quantas vezes sinto minha
vida sem sentido, minha vida sem razão? meus sentidos foram maltratados pela
globalização. preciso me proteger de tanto lixo. o meu interior, o meu meio
ambiente está contaminado pelo lixo das relações humanas desprovidas de qualquer
significado, pelo lixo do desamor, pelo lixo da corrupção, pelo lixo da
mentira, da injustiça, e, pior, pelo lixo da falta de esperança.
sinto-me
fedido. sinto-me podre. por onde vou levo meu cheiro de lixo que, pasmem, já
nem faz tanta diferença assim porque todos, globalizados que estamos, temos o
mesmo cheiro e fedemos da mesma forma. a sociedade está um lixo. perdemos quase
tudo de bom, só não perdemos tudo porque, apesar de malcheirosos, resta-nos uma
fragrância, um aroma, um perfume de deus, por quem fomos plasmados. porém,
nosso olfato não consegue mais sentir o cheiro de deus. nossos sentidos estão
doentes, acostumados que estão a sentir o odor do podre, do fétido, das fezes.
não só perdemos os sentidos, mas perdemos o sentido de nossas vidas.
precisamos
ter a coragem de mergulhar fundo dentro de nossa lixeira. vamos nos sujar ainda
mais, vamos ficar ainda mais fedidos, mas somente com esse mergulho profundo
vamos poder reencontrar o melhor cheiro de nossa identidade, o melhor aroma de
nossa humanidade, o melhor perfume de nossa sociedade. não dá mais para
vivermos assim fedidos como gambás e sujos como porcos. precisamos recuperar o
perfume da ética, o aroma da justiça, a fragrância da paz. precisamos recuperar
os odores que todos podem sentir, que todos podem usufruir, que todos podem
compartilhar.
quero viver
para perfumar. no meu perfume quero me identificar. quero perfumar para
alegrar. quero alegrar para compartilhar. quero compartilhar para amar. quero
descobrir-me cheiroso e misericordioso. sei que tenho dentro de mim o aroma de
deus habitado dentro do meu coração e que pode conduzir aos perfumados caminhos
dos valores perenes do amor maior. um amor que desde sempre sentimos, pois
fomos esculpidos nele e que hoje podemos continuar sentido através de nossos
sentidos: no paladar do jesus eucarístico, no tato de um abraço fraterno, na
escuta da lamúria de um pobre, na voz que consola um aflito e na visão de um
mundo muito melhor, um mundo de tesouros. tesouros que estão escondidos dentro de
nossos corações. um saudável e fraterno abraço.
rubens amaral – rubens@jornaldaorla.com.br
FOT|O DA INT|ERN|ET
Um comentário:
Valeu Dedê,
Um grande abraçp!
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