Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

LIXEIRAS AMBULANTES

          
            somos fruto do que vemos, pensamos, sentimos, falamos, ouvimos e tocamos. somos depositários de tudo que de uma forma ou de outra convive conosco. tudo entra e sai de nós. nossos sentidos, visão, audição, olfato, tato e paladar são nossas antenas, nossas portas de entrada e saída através dos quais nos relacionamos com coisas e pessoas. estamos conectados no mundo e nas pessoas com nossos sentidos. portanto, precisamos entender como podemos melhorar a utilização deles na busca de uma vida mais saudável e feliz.

            escutamos besteiras o dia todo e queremos contar e proclamar maravilhas (?). falamos mal de tudo e de todos e queremos receber boas notícias (?). queremos ser elegres, mas só escutamos tragédias e só falamos de desgraças (?). queremos ser equilibrados, mas nossa vida está à deriva. somos o que querem que sejamos. perdemos a capacidade de nos encontrar conosco mesmo. nem mais sabemos que somos. vivemos como bêbados. não conseguimos liderar a nós mesmos, quanto mais a nossos filhos, amigos e colegas de trabalho. quaremos ser livres, mas vivemos escravizados pelo poder da globalização, da desumanização, da imbecialização, da animalização. falamos o que querem que falemos, escutamos o que nos determinam, comemos o que nos impõem, agimos sem pensar, quando pensamos não agimos, emburrecemos para conviver, convivemos para morrer, estamos morrendo sem perceber.

            só converso de problemas. só escuto problemas. durmo e acordo convivendo com problemas. como encontrar soluções se só conheço problemas? em quase todas minhas conversas falo de problemas financeiros, doenças, descrenças, desavenças, falo mal de amigos e inimigos, falo mal de quem não conheço, critico todos e tudo, enfim falo de tanta coisa ruim e depois não sei por que  ando me sentindo meio para baixo. não sei por que estou triste e depressivo. coloco para dentro de mim, todo tempo, lixo e não quero me sentir como lixeira. estou repleto de lixo, como não ser lixeira? estou podre, como não ser fedido? estou nauseado pelo meu cheiro. sinto vontade de me vomitar.

            minha alimentação é baseada em tecido morto. como carne todos os dias. minhas células precisam fazer um esforço sobrenatural para expulsar o que é morto de dentro de mim, afinal parece que estou vivo, mas se coloco tecido podre, putrefato dentro do meu corpo, envelheço mais cedo, morro mais cedo.

            assisto novelas, reality shows e jornais que são puro lixo intelectual, puro e concentrado lixo emocional, lixo social. ora! como com todo esse lixo para dentro de minha mente pretendo ser alegre e feliz? quantas vezes sinto minha vida sem sentido, minha vida sem razão? meus sentidos foram maltratados pela globalização. preciso me proteger de tanto lixo. o meu interior, o meu meio ambiente está contaminado pelo lixo das relações humanas desprovidas de qualquer significado, pelo lixo do desamor, pelo lixo da corrupção, pelo lixo da mentira, da injustiça, e, pior, pelo lixo da falta de esperança.

            sinto-me fedido. sinto-me podre. por onde vou levo meu cheiro de lixo que, pasmem, já nem faz tanta diferença assim porque todos, globalizados que estamos, temos o mesmo cheiro e fedemos da mesma forma. a sociedade está um lixo. perdemos quase tudo de bom, só não perdemos tudo porque, apesar de malcheirosos, resta-nos uma fragrância, um aroma, um perfume de deus, por quem fomos plasmados. porém, nosso olfato não consegue mais sentir o cheiro de deus. nossos sentidos estão doentes, acostumados que estão a sentir o odor do podre, do fétido, das fezes. não só perdemos os sentidos, mas perdemos o sentido de nossas vidas.

            precisamos ter a coragem de mergulhar fundo dentro de nossa lixeira. vamos nos sujar ainda mais, vamos ficar ainda mais fedidos, mas somente com esse mergulho profundo vamos poder reencontrar o melhor cheiro de nossa identidade, o melhor aroma de nossa humanidade, o melhor perfume de nossa sociedade. não dá mais para vivermos assim fedidos como gambás e sujos como porcos. precisamos recuperar o perfume da ética, o aroma da justiça, a fragrância da paz. precisamos recuperar os odores que todos podem sentir, que todos podem usufruir, que todos podem compartilhar.

            quero viver para perfumar. no meu perfume quero me identificar. quero perfumar para alegrar. quero alegrar para compartilhar. quero compartilhar para amar. quero descobrir-me cheiroso e misericordioso. sei que tenho dentro de mim o aroma de deus habitado dentro do meu coração e que pode conduzir aos perfumados caminhos dos valores perenes do amor maior. um amor que desde sempre sentimos, pois fomos esculpidos nele e que hoje podemos continuar sentido através de nossos sentidos: no paladar do jesus eucarístico, no tato de um abraço fraterno, na escuta da lamúria de um pobre, na voz que consola um aflito e na visão de um mundo muito melhor, um mundo de tesouros. tesouros que estão escondidos dentro de nossos corações. um saudável e fraterno abraço.

rubens amaral – rubens@jornaldaorla.com.br
FOT|O DA INT|ERN|ET

Um comentário:

Edilma disse...

Valeu Dedê,

Um grande abraçp!