Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

OS FLOCOS SE FORAM ... - Por Edilma Rocha


Admirando esta linda fotografia em sépia, feita por Júlio Saraiva, da Praça da Estação como era conhecida na época, constatamos o cuidado dos Cratenses pela Natureza na década de 40.

Cenário difícil de se ver, principalmente no Nordeste Brasileiro, e comum na Europa durante a Primavera. Mas este belíssimo cenário era também apreciado no Sul do Ceará, na Região do Cariri, na cidade do Crato.

Para conseguir transformar esta imagem num texto, precisei puxar pela memória da cidadã Telma Saraiva que muito contemplou estas flores na sua adolescência.
Ela era mocinha, filha de Júlio Saraiva, este urbanista da Prefeitura na gestão do Prefeito, o saudoso, Alexandre Arraes.

A estação de trem veio trazer o progresso da pequena cidade conhecida como "A Princesa do Cariri". E entre os viajantes que chegavam da capital Fortaleza, hum em especial, "O Holandês", como ficou conhecido no Crato trazendo consigo os catálogos para a venda de semente de flores.

_ Papai, chegou o Holandês !
Estrangeiro, estatura média, gorducho, loiro, olhos azuis e sempre com a face corada pelo calor da cidade. Tinha o andar lento e mantinha sempre um lenço branco nas mãos, que enxugava constantemente o suor. Vestia uma calça escura, um casaco marrom e nos pés um par de botas surradas. Na mão direita uma maleta que continha os catálogos das flores e das sementes.

_Bom dia, Sr. Júlio !
_ Bom dia Holandês, aceita um cafezinho ?
_ Com leitinho, muito bom !
Os catálogos eram colocados na mesa um a um e as fotos das flores encantavam Telma que foleava com cuidado o lindo álbum.
Todos os anos o Holandês chegava procurando o seu freguês, Júlio Saraiva Leão. Dizia que o clima do Crato era bastante favorável ao cultivo das muitas espécies que trazia e que elas desabrochavam rapidamente devido aos cuidados e a água pura.
Júlio cultivava as sementes em pequenos caixotes de madeira, muito bem adubados e este procedimento era feito pelos jardineiros, funcionários da Prefeitura. Mas ele não permitia que as sementes fossem germinadas em outro lugar, senão no seu próprio quintal. Quando era chegado o momento de transportar  as mudas, eram levadas para as praças: da Estação, da Sé e Parque Municipal. Para as Praças Siqueira Campos e 3 de Maio, eram outros tipos de flores, as mais resistentes como "Crótons" e a maioria germinadas por bulbos.

Estas pequenas flores da fotografia se chamavam "Flocos" e tinham uma grande variedade de cores, entre elas , as azuis que chamavam muito a atenção. Segundo Telma, o bailar das borboletas encantava as crianças e curiosos mas, preocupava o seu responsável pela presença das lagartas. Quando chegavam ao fim do ciclo, se desprendiam dos caules e voavam com o sopro da brisa suave das manhãs.

Onde foi parar o cuidado com a Natureza das pessoas ? Nos perguntamos hoje...
Os bancos das praças eram colocados ali para se poder contemplar as flores, conversar e namorar. E hoje, os canteiros são pisados e cheios de lixo deixando claro a falta de educação. A Prefeitura planta outras espécies mais resistentes e mesmo assim não sobrevivem a destruição. A maioria dos canteiros são usados para pequenos comércios sem nenhum respeito a Natureza.

E hoje, esta linda imagem do passado nos trás lembranças do Crato antigo. E só podemos dizer que estes lindos "Flocos" se foram com as pessoas e com o tempo...

4 comentários:

Edilma disse...

Desculpem as falhas, meu computador travou e publicou antes da correção.

Armando Rafael disse...

-- 1 --
Edilma:
Este seu artigo proporcionou uma restauração da memória-paisagística de Crato, retroativa à década 40 do século passado.

Persiste no imaginário popular desta “ Mui Nobre e Heráldica Cidade de Frei Carlos” o excelente trabalho do urbanista Júlio Saraiva nas praças cratenses , as mais bonitas do interior do Ceará àquela época, resultante dos jardins ali existentes – impecavelmente bem tratados – e com grande variedade de plantas.

Outro dia, conversando com o memorialista Huberto Cabral este me dizia que na Praça Siqueira Campos os jardins possuíam roseiras “La France” o ano inteiro. E ninguém arrancava uma rosa.

Éramos civilizados e não sabíamos...

Armando Rafael disse...

-- 2 --

Seu escrito estimulou-me a prosseguir minha campanha de criação de um Departamento de Paisagismo na Prefeitura de Crato.

Creio que esta seja uma das prioridades para o futuro gestor. O atual prefeito, inegavelmente, fez sua parte, contribuindo para revitalização de quatro praças centrais e fazendo melhoramentos noutras.

O queremos é ver o Crato igual ao Iguatu de hoje.

Com Jardins da praças bem conservados; Projetos paisagísticos nos bairros; Retomada da campanha de arborização da cidade;

Uma urbe limpa, verde, civilizada... Como era nos anos 40 do século XX!

Edilma disse...

Armando,
Muito me agradou o seu apreço por este relato verdadeiro que começava dentro da casa do meu avô Julio Saraiva.
Minha mãe tem lindas fotos nos jardins do Crato e eu ainda alcançei algumas. Tenho orgulho em saber que a grande maioria das arvores das nossas praças foram plantadas sobre a orientação do meu avô.
A ideia de uma campanha pra a criação de um departamento paisagistico na Prefeitura do Crato é algo maravilhoso. Conte com o meu apoio.
As rosas "La France" eram cor de rosa e as preferidas da minha avó que cultiva sempre no seu próprio jardim, lembro demais. Brigava com o meu avô todas as vezes que ele as podava...
Educar a população é a coisa mais difícil, porém não impossível...

Um grande abraço!