E o sertão
virou mar... de sangue … Na tomada de Canudos, o
Exército matou pelo menos 25 mil rebeldes
Não
consigo imaginar coincidências quando vemos que todas as iniciativas
politicas partidas das classes populares, tratadas como se fossem
contra os governos no Brasil, tiveram um fim trágico. A começar
pelas insurreições, pela independência do Brasil, passando pelas
revoluções de l930, Coluna Prestes, Caldeirão da Santa Cruz,
Araguaia e por aí vai. Em todas elas, a força das armas
literalmente matou ideias e ideais que podiam ser tomados como
exemplo de cidadania.
Nada
comparado às atrocidades cometidas pelos que são adestrados para
“defender a pátria”, principalmente nas frentes de batalha dos
movimentos situados nos lugares mais longínquos da sociedade urbana,
como no caso de Canudos. E eu, francamente, não me canso de ler e
reler histórias como a de Canudos, Caldeirão, Pau de Colher,
Contestado, entre outras. Continuo a cada leitura, sem entender o
motivo da ação covarde do poder dominante...
A
mim, reações à intervenção urbana nestes movimentos são
exemplos de uma rebeldia valente, objetiva, aguerrida, decidida. A
mim, eles poderiam servir como exemplo para a promoção de avanços
sociais. Avanços estes que dependem da inclusão de ideias simples,
vinda de pessoas simples, que ao invés de optarem pela teoria (ora
acadêmica, ora politica) preferiram tomar decisões baseadas na
solução de problemas diretamente ligados às suas necessidades.
Este foi o caso de Canudos.
Diziam
que Conselheiro era um louco quando pregava o fim do mundo. Pregava
como se fosse um alerta para as nossa obrigações religiosas. Quando
perguntado sobre o fim do século, dizia Ele em seus sermões
que...”em 1900 as luzes se apagariam e choveriam
estrelas. Antes, porém, aconteceriam fatos extraordinários...Em
1896 mil rebanhos correriam da praia para o sertão e o mar se
tornaria sertão e o sertão mar. Em 1897 o deserto se cobriria de
pasto, pastores e rebanhos se misturariam e a partir de então
haveria um só rebanho e um só pastor. Em 1898 aumentarias os
chapéus e diminuiriam as cabeças, e em 1899 os rios ficariam
vermelhos e um planeta novo cruzaria o espaço.(SIC)...(trecho do
livro A GUERRA DO FIM DO MUNDO, Vargas Llosa)
Pelo
que li, essa profecia também foi feita por Nostradamus para outra
data, outros fatos, porém, de ideia semelhante. Só não compreendo
por que Nostradamus é profeta e Conselheiro é “louco”. Mas
isto é ideia para outra discussão.
Certo,
é que Antônio Mendes Maciel, levou grande parte da sua vida sertões
adentro, a aconselhar pessoas, principalmente no interior da Bahia,
conclamando a todos a se voltarem pra Deus, ao trabalho e às
orações. Conclamava o povo de sertão a recuperar e cuidar de
igrejas católicas para, junto com eles, rezar e pedir a Deus a
providencia divina para os sofrimentos de todos os sertanejos daquela
sofrida região do Nordeste.
“Dava
conselhos ao entardecer, quando os homens tinham voltado do campo e
as mulheres terminado os afazeres domésticos e as crianças já
estavam dormindo. Dava-os nos descampados desmatados e pedregosos que
existem em todos os povoados do sertão...falava de coisas simples e
importantes, sem olhar para ninguém em especial entre as pessoas que
o cercavam, ou melhor, olhando, com olhos incandescentes, através
através do ajuntamento de velhos, mulheres, homens e crianças, algo
ou alguém que só ele podia ver...Os vaqueiros e os peões do
interior escutavam-no em silêncio, intrigados, atemorizados,
comovidos, e assim o escutavam os escravos libertos dos engenhos do
litoral e as mulheres e os pais e os filhos de uns e de
outras(idem)”.
Assim
foi que Antônio Mendes Maciel ganhou a alcunha de “CONSELHEIRO”,
passando a ser tratado como Antônio Conselheiro. A caminhar pelos
sertões levando palavras de enlevo aos que lhe retribuíam com a
atenção peculiar do sertanejo.
Um
dia a sociedade urbana resolveu que era hora de acabar com a sua
história. Conselheiro já tinha se fixado num parte de terra,
fundado uma vila (arraial) chamada “CANUDOS. Os homens da cidade
empenharam-lhe guerra. Exércitos foram mandados para liquidar com a
sua historia. Os sertanejos que o seguiam, em defesa do arraial
venceram três de quatro grandes expedições empreendidas. Tombaram
na quarta investida, quando o exercito se utilizou da mais cruel e
sangrenta tática de guerra, se utilizando inclusive de canhões.
Contam
os pesquisadores que a ultima derrota do Beato deu-se por conta de
uma disenteria aguda, quando Antônio Conselheiro morre no dia 22 de
setembro. O cadáver não foi sepultado de imediato pois que, os seus
seguidores, acreditavam que ele pudesse ressuscitar e continuar na
luta. Só quando o corpo do beato começa a se deteriorar, já com a
fedentina a atrair a sanha dos urubus, os sertanejos o enterram.
O
cerco do Exército torna-se mais rigoroso. Passada uma
semana, no dia 1º de outubro daquele ano, as tropas do governo
empenham o ultimo e decisivo ataque, conseguindo por fim tomar a
vila.
Em seu livro, Os Sertões, Euclides
da Cunha descreve esse momento final da seguinte forma:
"Canudos não se rendeu.
Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento
completo. Expugnando palmo a palmo, na precisão integral do termo,
caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos
defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam,
raivosamente, cindo mil soldados.(Euclides da Cunha, OS SERTÕES)”.
De inicio cerca de trezentas
mulheres levando pelo braço um contingente de crianças se rendem ao
exército, mas os homens continuam resistindo numa luta desigual, com
as poucas armas que ainda restam, aí incluídas armas brancas,
artesanais como foices, pedras e pedaços de pau. No dia cinco de
outubro tombam os últimos sertanejos. Eram os quatro heróis falados
por Euclides da Cunha.
“Caiu o arraial a 5.No dia 6,
acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5 200,
cuidadosamente contadas."Depois da invasão, as ruínas da vila
são destruídas e dinamitadas pelos militares. No final, de 25 mil a
35 mil rebeldes morreram nos combates. Entre os soldados, o total de
baixas chegou a 5 mil. O corpo de Conselheiro foi desenterrado e sua
cabeça foi levada como um troféu do Exército para Salvador,
simbolizando o fim de Canudos(http://mundoestranho.abril.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário