A psicologia coletiva do cratense
Uma
cidade não se resume a mera aglomeração de indivíduos. Uma cidade, ou
melhor, qualquer sociedade, se constitui numa comunidade de comunidades,
pois dotada do espírito de coletividade e certa unidade social. É o que
se poderia denominar de “psicologia coletiva”.
O Crato são muitos! poderíamos afirmar, parodiando Carlos Drummond de Andrade.
E no entanto, existem vínculos coletivos nesta Mui Nobre e Heráldica Cidade de Frei Carlos Maria de Ferrara que unificam; Que obtém alto percentual de consenso; Que se integram ao imaginário popular e à memória coletiva desta urbe.
Isto posto, poderíamos afirmar que na psicologia coletiva cratense há
um lugar de destaque para a ufania, para um bairrismo – às vezes
exagerado – por esta cidade aristocraticamente crismada por Princesa do Cariri.
Tudo que acontece de perda ou prejuízo para esta cidade é culpa “dos políticos”.
Fica esta impressão: o habitante de Crato desconhece os limites de um
deputado. Este apenas legisla, não tem poder de executar obras. Mas,
triste de quem se eleger deputado com votos do Crato, pois o povo
atribui ao legislador poderes maiores do que os do presidente da
república.
Ser cratense
é ser religioso e devoto da Virgem Maria! Deu para perceber isso,
recentemente, na coroação e inauguração do monumento de Nossa Senhora de
Fátima. Uma sensação de orgulho, de vaidade mesmo, percorreu – naqueles
dias – todas as camadas sociais desta terra. Já perceberam que o
habitante desta cidade finge respeito por quem se autoproclama ateu?
Pura falsidade! No íntimo, passa a desconfiar do descrente. E pelas
costas do coitado (Ah! a velha falsidade!) quando alguém fala do ímpio, o
interlocutor dá a clássica rabissaca seguida da frase: “Fulano? Tenho lá minhas dúvidas. Não deve ser boa bisca”.
Agora o que o cratense gosta mesmo é das atividades culturais. Está no
sangue desta gente. Tem participante de anônimo jogral dos anos 60 que
hoje se ufana: “Fui uma das vítimas da ditadura! Uma vez fomos
recitar nossas poesias no grêmio do ginásio e agentes do Dops e SNI
baixaram na hora. Felizmente fugimos pegando o rumo do Rabo da Gata, até
sair no Cafundó e escapamos”...
Uma verdade: o cratense é super-hospitaleiro. Quando chega, por estas
bandas, gente de fora, o visitante vira logo celebridade. Nos primeiros
dias o adventício é lisonjeado de todas as maneiras. Passado algum
tempo cai na rotina. Perde o status, a ponto de quando um amigo encontra
outro vai avisando: “Evite passar na Siqueira Campos que o “beócio do
fulano” está lá, julgando-se o Rei da Cocada Preta. Vôte!”
Afora isso, o cratense é uma homem cordial, solidário, gosta de um bom
papo, de contar a última piada, de frequentar a ExpoCrato... O
jornalista Antônio Vicelmo cunhou até esta expressão: Ser cratense é um
estado de espírito.
São muitas as características que plasmaram a psicologia do cratense. Ainda voltaremos ao assunto.
Missa do Divino Pai Eterno, celebrada no Mirandão, em Crato, para cerca de 50 mil pessoas. O evento foi televisionado para todo o Brasil
Um comentário:
Caro Armando
Li com interesse e bastante admiração sua bela crônica sobre o Crato e seu povo. Você é um dos grandes escritores de nossa terra e disso podemos nos orgulhar. Quanto sua observação sobre as atribuições de um deputado, está corretíssimo. Porém, não sei se por que eles não conhecem bem suas próprias atribuições, mas o que eles mais fazem, como norma de suas obrigações é pleitear junto aos órgão públicos os benefícios para sua terra. em meus quase 25 anos à frente de Departamentos de Operação da Coelce era muito procurado por vários deputados. Principalmente quando exerci o cargo de Chefe do Departamento de Projetos, responsável por todos os projetos de redes elétricas do nosso estado.
Um grande abraço.
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