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Já o talento é um gosto especial para alcançarmos determinados objetivos, independente de possuirmos alguma herança genética para tal. Talentos são portanto, atributos que podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados pelo treinamento e muita perseverança. Poderá também ser entendido como a capacidade de colocar à serviço os dons de que cada um nós dispomos.
O termo "talento" da forma que hoje o usamos, teve origem na mensagem evangélica conhecida por "Parábola dos Talentos". Narra o evangelista Mateus que um rico proprietário empreenderia uma longa viagem e, portanto confiou os seus bens a seus empregados, tudo "de acordo com a capacidade de cada um". Ao primeiro entregou cinco talentos, a outro dois e apenas um talento ao terceiro. Em seguida viajou para o estrangeiro.
Depois de algum tempo, o patrão voltou e foi ajustar contas com seus empregados. Aquele que recebeu cinco talentos, trabalhou e entregou-lhe mais cinco que havia lucrado. O patrão o elogiou: "Empregado bom, e como foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe entregarei muito mais". O que recebera dois talentos, da mesma forma recebeu idênticos elogios do patrão; mas aquele que recebeu apenas um talento, disse: "Senhor, eu sei que és um homem severo pois colhes onde não plantastes e recolhes de onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence". O patrão lhe respondeu que se aquele empregado o julgava tão cruel ele deveria ter depositado o dinheiro no banco, para que rendesse com juros. Em seguida ordenou: "Tirem dele o que tem e dêem ao que tem mais. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais e terá em abundância. Mas daquele que não tem, tudo lhe será tirado. Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão, onde haverá choro e ranger de dentes".
Quem é esse proprietário que distribui os seus bens (talentos) com os empregados, para depois cobrar de cada um o que realizou com eles? Provavelmente ele conhece profundamente seus empregados, pois distribuiu os bens de "acordo com a capacidade de cada um." E não foi pouco o bem confiado. Segundo estudos históricos, a moeda de um talento equivalia aproximadamente a 34kg de ouro. Assim sendo, ninguém poderia reclamar que recebeu pouco.
Resumindo: a parábola nos ensina que Deus, o proprietário, confiou a cada um de nós os seus bens, que são nossos talentos de acordo com as nossas limitações ou seja: conforme nossa capacidade de colocá-los a serviço da construção do Reino. E o Reino de Deus é uma sociedade pautada pelo respeito à vida, onde haja justiça, liberdade e paz. Conforme tão bem afirmava o teólogo alemão Bernhard Häring: "Se não nos convertermos profundamente a favor da paz, da justiça e da nossa responsabilidade com a criação, não haverá futuro".
Se enterrarmos nossos talentos e não contribuirmos com a construção do Reino, correremos o risco de sermos lançados na "escuridão" onde haverá "choro e ranger de dentes". Melhor traduzindo: correremos o risco de vivermos uma vida sem sentido.
Por outro lado, poderemos interpretar a parábola como as injustiças praticadas por um sistema político-econômico opressor, que escraviza e sobrecarrega os mais humildes, isto é: os trabalhadores, enquanto os proprietários gozam de privilégios, passeando despreocupadamente.
De nada adiantará lamentações do tipo: a vida é dura, não tenho tempo e por isso nada poderei fazer. Ou não sei nada, não tenho condições para desempenhar tais tarefas; por isso não poderei fazê-las. Como tão bem nos assegura a sabedoria popular: "Deus nos dá o frio, conforme o cobertor". Isto é, nenhuma missão que Ele nos confia é superior à nossa capacidade de realização, que são nossas aptidões, ou seja, a vontade de realizar; nossos talentos.
É sempre bom lembrar a frase atribuída a Albert Einstein, que ouvi certa vez de um amigo: "Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança". Ou seja, de nossos talentos.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
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