(ao meu pai nos vinte anos de sua ausência)
Eu não tinha cinco anos
Vi o meu pai viajar
Apressado, na carreira
Saiu sem nos abraçar
Foi pra um lugar distante
Uma cidade crescida
Para se examinar
Com um doutor desse lugar
Eu criança, não sabia
O que de certo acontecia
Não queriam me dizer
Pra eu não entristecer
Mas o tempo foi passando
Vi meu pai se demorando
Resolvi a perguntar
Ninguém quis me responder
Fiz a ele uma carta
Dessas cartas de criança
Que a tia junta as palavras
Pra carta ser mais bonita
Como eu nada sabia
Já que ninguém me dizia
Pedi a ele um presente
Sem saber sua agonia
Pra trazer na sua bagagem
Quando de volta viesse
Pedi a ele uma calça
Dessas que só homem veste
Em pouco tempo chegou
O presente que eu pedia
Era uma calça topeka
Do jeitinho que eu queria
Eu fiquei muito contente
Com a minha primeira calça
Mas, não podia entender
Porque veio antes dele
Vestido com minha topeka
Me danei a passear
E com a minha tia Cristina
Fui ao grupo escolar
Mas, não era para estudar
Era só para brincar
Pra sorrir, me distrair
Pro tempo logo passar
Sentia uma coisa ruim
Não sabia explicar
Disse isso a minha mãe
Ela me disse: é saudade
Foi essa a primeira vez
Que a danada me pegou
Era uma dor incontida
No meu peito escondida
Depois de um certo tempo
Tudo foi se clareando
Meu coração se apertando
Com medo do que viria
Quando enfim ele voltou
Minha alegria ruiu
Nunca mais vesti a calça
Pois só queria de presente
Ver o meu pai novamente
Inteiro como saiu
Marcos Barreto de Melo
SSA, 2009
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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4 comentários:
Alô Marcos
Que alegria ver seus poemas aqui no Cariricaturas. E este sobre seu pai, o extraordinário Geraldo Melo foi por demais emocionante. Parabéns pelos seus versos que estão enriquecendo o Cariricaturas.
Como me orgulho do valor poético desse menino do São José, que a Bahia nos roubou e foi reconhecido até por Dominguinhos que musicou um dos seus poemas.
Abraços
Gostei demais de do texto...
Obrigada, J. Marni, pela oportunidade de nos fazer ler coisa boa...
Abraço,
Claude
Prezado Carlos Eduardo,
Foi bom lhe encontrar no cariricaturas. Fico muito lisonjeado com suas palavras de apoio e incentivo.
Um forte abraço,
Marcos Barreto de Melo
Marcos,
Como é bom ver você expressando suas tristezas e saudade com a beleza de sua poesia.
Abraços
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