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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Torloni


Chistiane Torloni - "Acredito em Dinah"
TV Guia - 26 Novembro 1994
Por: Maria Eugénia Laboriau


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É a atriz brasileira que mais polemica causou em Portugal. Venceu, com a popularidade e desconvenceu com a despedida. Mas já «voltou»: vê-mo-la, diariamente, em A Viagem, na SIC. Num papel «do outro mundo».

Depois de ter vivido dois anos em Portugal (mais propriamente em Cascais), que deixou a alguns meses - não sem antes estar no centro de uma grande polemica a propósito da peça 10 Elevado a Menos 42 - Extasis - , a atriz Christiane Torloni regressou ao nosso convívio, mas através do pequeno ecrã.

Protagonista da principal telenovela da SIC, A Viagem, a atriz «veste» a pele da bela e decidida Dinah nesta recente produção da TV Globo. Mais uma das muitas e diversificadas personagens a que a atriz dá vida. No papel de Dinah, ela mostra-se agora uma mulher apaixonada, muito ciumenta e insegura. A sua separação de Teo (Mauricio Mattar) vai contribuir para uma mudança que passa por um reconhecimento do seu inconsciente e de outras vidas passadas. Por outro lado, o seu amor por Octávio Jordão (António Fagundes) revelar-se-à eterno e «celestial». Não é, aliás, a primeira vez que que Torloni contracena com António Fagundes. Recorde-se que eles apaixonaram o público e a crítica ao viverem um romance atribulado na telenovela Louco Amor e, também, no filme Besame Mucho.

Christiane Torloni aceitou de bom grado conceder esta entrevista porque considera importante não guardar rancores a respeito do «episódio» da sua estada entre nós: «Construí muitas coisas e muitos amigos durante o tempo que vivi em Portugal. Não quero que esse assunto as destrua».

O último papel que a atriz havia interpretado em televisão tinha sido na série As Noivas de Copacabana, altura em que já vivia em Portugal, tendo regressado ao Brasil propositadamente para as gravações da referida produção. Nessa altura, Torloni declarou que só voltaria às telenovelas com uma personagem que o justificasse.

«Recebi o convite para fazer a Dinah ainda em Portugal. Mas só aceitei mesmo trabalhar quando cheguei ao Brasil. Já fiz A Gata Comeu, que é também da autoria de Ivani Ribeiro, um texto de que gostei muito. Ela escreve sem pudores sobre a paixão e o ódio. A vida espiritual é um tema muito bonito e, por isso, acredito na personagem», confessa a atriz.

E o fato de a telenovela ser um «remake» de uma versão mais antiga não desmotiva Christiane Torloni, que, contrariamente ao que dizem outros atores, entende que os bons temas devem ser regravados. «Fiz também a segunda versão de Selva de Pedra. Acho importante que outras gerações possam também ver este trabalho. E em todo o mundo estão a acontecer refilmagens. Quando relemos um livro, não quer dizer que sejamos leitores sem imaginação. O mesmo acontece com os telespectadores, que podem querer rever o tema de uma novela na televisão», assim justifica a atriz o seu interesse pelos «remakes».

Além da personagem que interpreta em A Viagem, Torloni está igualmente envolvida numa remontagem da peça Hamlet, de Shakespeare. Ela encarna o papel da Rainha Gertrude e o seu ritmo de trabalho tem sido muito intenso. «Muitas vezes é uma correria. Mas, em compensação, é quando desempenho o meu trabalho de atriz que exerço mais o meu lado generoso. Por isso, é possível conciliar outros interesses da vida», revela, demonstrando o seu evidente entusiasmo.

«Tenho Fé»
Quando em Outubro de 1991, perdeu Guilherme, um dos seus filhos (gêmeos) de 12 anos - num acidente na garagem do condomínio onde morava -, Christiane Torloni pensou em enfrentar a perda em Portugal. «Fui a Portugal em Agosto de 1991, quando a novela Kananga do Japão, onde eu desempenhava a Dora, estava no ar. Então liguei para o meu filho e ele fez-me perguntas sobre o país. Respondi-lhe; e ele, então, pediu-me para ir morar para lá. Com a perda de Guilherme, tomei essa decisão».

Sobre a sua saída de Portugal e a crítica desfavorável à peça 10 Elevado a Menos 42 - Extasis, Torloni procura deter-se mais nos acontecimentos positivos. E é agora noutro tom que analisa uma situação que a fez pronunciar frases bem amargas: «Problemas acontecem em todos os locais. E lá fiz grandes amigos. Procuro tirar os factos positivos de todos estes acontecimentos. Portugal é diferente do Brasil, no sentido de que o Estado interfere mais na cultura. Por outro lado, aqui temos que correr atrás dos patrocínios junto das empresas particulares. São situações diferentes e nenhuma das duas é a ideal».

Da temporada de trabalho passada em Portugal, a atriz realça o contato que teve com alguns atores portugueses, considerando que muitos dos objetivos da sua passagem por Lisboa foram concretizados: «O brasileiro é um lutador. Tentei arrumar a minha vida, e acredito ter encontrado um eixo que, se não foi o melhor, foi o possível. E sou uma pessoa que tem fé. Neste sentido, sinto-me privilegiada por vir de uma família que me passou esse espírito».

Para Christiane Torloni, o tema central da telenovela A Viagem (a vida depois da morte) está também presente na sua própria vida, pois considera-se uma pessoa muito virada para o lado espiritual. «Não acho que o tema da espiritualidade seja uma novidade. E acho a Dinah uma personagem com qualidades admiráveis, pois ela é uma pessoa decidida e apaixonada. Tem um lado verdadeiro de que gosto muito», sublinha a atriz.

Desde que participou em Duas Vidas, da prestigiada novelista Janete Clair, Torloni já fez 13 novelas, a que ainda se devem somar 11 filmes e sete peças de teatro. Entre os seus trabalhos de destaque na televisão portuguesa estão a Fernanda de Selva de Pedra e a Dora, de kananga do Japão, se bem que os seus desempenhos em A Gata Comeu, e Araponga tenham sido igualmente muito aplaudidos.

«Fui Bem-Vinda»
Filha dos atores Geraldo Mhateus e Monah Delacy, Christiane Torloni estreou-se na Globo com 19 anos de idade. «Fui educada para dar certo, no sentido de não precisar de contar com os outros, ter a minha profissão e tentar vencer nela. Quando voltei para o Brasil, fui recebida com muito carinho pelos meus colegas. E a palavra que mais ouvi foi "bem-vinda"».

Torloni possui uma casa no Rio de Janeiro, mas desde que regressou ao Brasil está a viver num apart-hotel, no Leblon. Quanto a projetos, a atriz ainda não tem nada definido. Recebeu um convite para montar no Brasil o mesmo espetáculo que causou tanta polemica em Portugal, mas não tomou ainda qualquer decisão. «Quando fiz a peça, considerei que já estava cansada de questionar a relação homem-mulher e, por isso interpretei um "ser do outro mundo" nessa peça. Aliás, na televisão também começarei a viver um "ser do outro mundo", após a morte de Dinah».

Criada num ambiente católico, Christiane Torloni acha que tem as imagens da religião cristalizadas dentro de si própria, o que não a impede de buscar forças também em outras fontes. E acha que estes fatores a ajudaram na composição da sua personagem em A Viagem: «Acredito que Deus está em todos os lugares e não emparedado dentro de uma única religião. A morada do Senhor não é apenas a da Igreja, mas em todos os lugares e, também, nas pessoas».

Relativamente à prática de alguma religiosidade, a atriz diz que costuma fazê-lo através da sua profissão: «O palco é o maior local de desapego, compaixão, disponibilidade e amor, que são as bases de todas as religiões. Por isso costumo dizer que pratico a minha religião sendo atriz».

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