A moça, minha filha, a que se chama Júlia, entra na sala de jantar banhada na luz de todos os encantamentos, ri o riso dos confiantes, beija a ponta dos dedos da mão esquerda, sopra-me o beijo, certifica-se se eu percebi que ele veio do mesmo lado do coração e, num gesto de meio rodopio, joga de leve a juventude sobre os ombros.
Eu observara o deslizamento macio daquela capa de herói a protegê-la do olho gordo do tempo, ouvira o trinado de pássaro ferreiro do portão quando se abrira à sua passagem.
Levantei-me da cadeira às pressas para comprovar se todas as portas estavam bem fechadas; e bati os quatro cantos da casa à procura de um remédio, qualquer ungüento que derramado sobre o meu corpo me caísse até os pés. Um manto de lã de ovelha a me camuflar a velhice. Cobrir-me. E só por aquela noite não sentir frio.
Rejane Gonçalves
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