Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Madrugada de Abril - Por Dihelson Mendonça



Dedicado a Roberto Jamacaru


Duas e trinta e oito. Canopus já brilhava alta no horizonte.
A passos lentos, uma sombra magra e tardia, range um ferrolho emperrado e poeirento
de um portão vazado e frio, de onde já se espreitam folhas insones e claras,
varridas pelo vento silencioso de uma madrugada de abril.

Um oceano do mais puro azul profundo ostenta safiras, esmeraldas e rubis piscantes
que se empalidecem ante a claridade de uma lua leitosa a boiar esplendorosamente
na imensidão celestial.
Tempo indefinido... levantando a fronte, contemplo aquele microcosmo aureolar
que define tantas verdades invisíveis quanto indivisíveis de seres de luzes tênues, quais pérolas orvalhadas, que descem e habitam almas ternas que mortificam-se em lençóis tão doces e vulneráveis...

Calhas de alumínio luminoso e cumeeiras íngremes arvoram-se em desenhar contornos que ofendem um sudário imáculo de um templo egípcio em ruínas. Uma ou outra ave perdida é avistada deslizando suas asas num jorro de leite cristalizado. E enquanto isso, Reis, príncipes e deusas desfilam para a tela da eternidade as suas glórias, em batalhas de linhas divisórias e imaginárias.

Mas, ante tudo isso, dormem os mortais!
Por sobre a terra, admirava-me a sombra de uma lua cada vez mais ocidental, que toda esparramada e nua pelos céus, esticava assuntosamente as pilastras de uma varanda de conversas longas, sussuros e sorrisos que já não há. Tarde é o tempo, e imprecisos todos os sentidos descritivos das lembranças que fulgem em crer na sua completude, nada é tão inverossímil, funesto e belo, diante do todo daquilo que apenas parece...

Poetas há que desfilam torrentes de gozo ante a via-láctea e suas vicissitudes.
Mas abraçado somente à pequenez de um instante no tempo,
sem que houvesse pobre alma mortal a companheira de verdades,
todo o universo convulsiona em beleza apenas para mim tão somente;
E como um demente, chego a crer por um breve instante, ante tanta perfeição, que posso ser um deus...
...em plena madrugada azul de Abril

Dihelson Medonça

2 comentários:

socorro moreira disse...

Dihelson , que bela sonata poética !

Versos que namoram as teclas de um piano... !
Versos que nos emocionam !

Dihelson Mendonça disse...

Obrigado, querida Socorro! Nenhuma expressão será capaz de descrever a emoção que senti ao abrir aquela porta que deu para um quintal claro como o dia de uma Lua cheia no céu azul da madrugada.

Bjus!
To indo pro Bolo Confeitado, rs rs

Di