Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 18 de maio de 2010

As tias high-tech com pena do tempo - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Isso ocorreu na segunda feira de ontem.

O sol já estava por trás da capoeira que fica nos fundos da casa. Eram os últimos minutos da velhice do dia. Rosinha no alpendre, com os óculos “prá perto” na ponta do nariz, examinava o açude em frente com seus olhos que já tinham visto muito coisa. Sem olhar para Mundinha que regava umas flores ali por perto, disse:

- Eu tenho tanta pena....E esticou o pensamento enquanto a voz emudecia a sentença.

- Pena de quê, muié? – Mundinha perguntou enquanto a água do regador dava verdor às folhas da samambaia.

- Pena das manchas da pele. Das varizes que minam em toda a perna. Dos cabelos que eram brilhosos e hoje estão como o tempo deste anoitecer.

Mundinha levantou o regador e a água deixou de beneficiar as raízes dos jarros espalhados no alpendre. Olha para a irmã e perguntou: E onde foi que tu já ouviste dizer que a gente não muda?

- Olhe o engelhado das minhas mãos – E passava a outra sobre o dorso da mão examinada. – As veias tortas teimando em pular fora como linha de novelo. Olhe as juntas dos meus dedos cheias de nó.

- Mais mulher, tenha dó! – Mundinha voltou a regar as plantas.

Rosinha tirou os óculos da ponta do nariz e ficou olhando a irmã em sua tarefa do anoitecer. Queria ouvir uma explicação para aquela exclamação. Mundinha abaixada sobre um jarro olhou de lado para a irmã, através da axila do braço que regava e disse:

- Eu tenho saudade de pai e de mãe! Como me lembro da minha vaca caboclinha... Do meu pé de bogari! Embaixo dele tanto mundo inventei. Lembro do que já tive. Sabe minha irmã eu tenho saudade até dos sonhos de futuro que já tramei. O futuro chegou, o tempo consumiu aquilo que já fora sonho e hoje tenho saudade por que passou. Eu tenho apego ao tempo que corre.

- E eu tenho dó do tempo que ficou lá atrás. Quando olho meu querido vestido de seda pura, puído de tanto guardado, tenho dó das festas que fui com ele e do tempo que deixou de ficar no meu corpo. Olho as cortinhas amareladas e lembro quando eram brancas como algodão na safra. Escuto o rádio e se acaso uma canção enche a sala, logo um doce amargor me balança a alma de tanto tempo que já fazia que não a escutava!

Foi Rosinha apresentar seu rol de saudades de fim de dia e Mundinha concluir:

- Pois só quem se encontra no eito do tempo pode dizer o que tu está dizendo. Se apegando ao que se vai, sonhando com o que virá e se alimentando do prato do dia.

Nisso, guardando seus óculos de trabalho, chega ao alpendre, para o encontro dos últimos raios do dia, a terceira irmã Maria, ainda pega o final da fala de Rosinha e pergunta qual o significado. E Rosa explica:

- Foi por que Mundinha andou lendo o blog do Cariricaturas antes de vir para o alpendre.

4 comentários:

Stela disse...

KKKKKKK, o final é fantástico. Adorei, Zé do Vale.

socorro moreira disse...

Demais !
Senti-me, a prória !
Bicho ruim é escritor sabido !

beijo.

Edilma disse...

Fiz uma revisão geral do pé a maõ.
A coisa tá feia !
kkkkkkkkk,
Do Vale, me colocou no espelho.
kkkkkkkkk,
Eita ferro !

Claude Bloc disse...

Vôte!!!
Fugi do espelho de mansinho... Olhei não...

Arrisco o olho? (risos)

Claude