Chocolate
- Claude Bloc -
Entrei na bodega de Seu Pedro Praieira e alguns minutos depois de pagar pelo “Diamante Negro”, fiquei esperando Gracinha terminar suas compras. Eu recebia por semana uns trocados para ir ao cinema, no Moderno ou no Cassino (e esporadicamente na Educadora). Com o troco comprava uma caixinha de Chicletes Adams ou uns dois ou três Pippers, para me entreter durante o filme. Pipocas também eram bem vindas. Mas... no domingo em que não íamos ao cinema, sobravam uns trocadinhos para uma barra de chocolate, meu pecado venial...- Claude Bloc -
Hoje pude comprovar, talvez por isso, que aquele chocolate tinha gosto de infância realmente! Atualmente, mesmo com o paladar mais exigente, ainda fecho os olhos antes de saborear uma barrinha dessas e, nesse momento, me sinto voar para o Crato, para as minhas travessias pela Irineu Pinheiro, sempre meio a galope, indo aqui e ali, trocar um dedo de prosa ou buscar alguma brincadeira junto com a turma do bairro.
Mas, afinal, o que é o “gosto de infância”? Talvez uma mistura de inocência, despreocupação e alegria. Era isso que éramos: ingênuos, alegres, barulhentos e acalorados, sobretudo nas horas em que brincávamos das mais diversas brincadeiras de que dispúnhamos na época.
Ao morder aquele pequeno pedaço de chocolate, aquele que peguei na minha bolsa há segundos atrás, relembrei alguns desses momentos e senti vontade de terminar de comê-lo assistindo a algum filme com Graça, Glória, Judite, Simone, Fátima, Rita, Dominique, Iza... numa interminável apresentação de cinema, e depois, no tempo exato em que o passeio culminava na Praça Siqueira Campos. Como era uma barra generosa, deixei para comer o restante depois. Mas, nesse momento, simplesmente flutuei pelo éter das lembranças e divaguei febrilmente. Faltava-me apenas um laço nos cabelos, pés descalços e um vestido rodado para eu voltar a ser criança.
Cada mastigada era uma lembrança que me levava a uma dessas memórias mais calmas de que me recordava no momento. Os dias de calor em que eu voltava correndo do Pio X e tomava um enorme copo d’água olhando pela janela. Quando observava, extasiada, aquelas nuvens que dançavam em sincronia com as palhas das macaubeiras das redondezas que jaziam, na sua maioria, espalhadas pelo terreno do Teodorico Teles de Quental .
Lembrava também das tardes em que minhas amigas e eu brincávamos pela rua. E das muitas vezes em que íamos ao Granjeiro para nos refrescarmos na piscina. Nesse tempo, éramos meros/as aprendizes da vida, eu sei. Mas esse processo nos transformou no que somos hoje, delineou nossa caminhada e consolidou amizades eternas.
Numa dessas vezes, cheguei em casa com minha barrinha de Diamante Negro e olhando para os olhinhos pidões de Bertrand, dei o último pedaço do meu chocolate ao meu irmão, repetindo uma frase que tinha ouvido de uma amiga. Ele me olhou com estranheza, mas na primeira mordida, compreendeu o “gosto de infância” naquele pedacinho da barra de chocolate.
Claude Bloc
5 comentários:
Parabéns Claude! Lembrei que eu comprava também um chocolate que era um peixe.
Essa fotografia desse chocolate enche nossa boca de água.rs rs
Gostei das suas memórias.
Abraços
Magali
Prezada Claude!
Acho que eu aumentei uns dois quilos só de olhar o chocolate que cuja fot você postou. Gostei de ter lido o que você escreveu.
Obrigada meus amigos. Vocês me incentivam de todas as maneiras...
Carlos, me perdoe por esquecer que você (e Socorro) são diabéticos... Mas creio que nessa época você também se deliciava com os chocolates assim como eu e Magali. Não era? (risos)
Abraço e minha amizade incondicional.
Claude
Não sou diabético. Os médicos disseram que sou pré- diabético. Mas a glicose já está controlada e posso comer chocolate uma vez ou outra.
Carlos,
Antes assim, pelo menos me sinto menos "culpada".(rindo muito)
Abraço,
Claude
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