"O Zé do Vale tem uma propriedade fantástica que o diferencia dos demais pugilistas do mercado. Ele consegue dar um soco nas pessoas, com uma bala de canhão revestida com uma camada de espuma, para que não deixe marcas no corpo do adversário morto." – Dihelson brincando com meu estilo nos blogs do Cariri
“Todos os homens são mortais” um problema existencial sem solução no romance de Simone Beauvoir. A imortalidade de apenas um quando todos os outros morrem. Sem que o imortal pudesse completar o ciclo de cada geração. Sem os seres que amam: vindo e indo, nenhuma possibilidade de viver como eles, por eles e igual a eles. A imortalidade é o supremo tédio de uma estrela morta, de um buraco negro da astrofísica.
Mesmo que espuma usasse nas balas de canhões, a solidão a que os mortos me levariam, seria um horror maior do que nunca ter vivido. Nascido bem pertinho do leito do Rio Batateira, lambuzado o bucho de garapa e ter sofrido todos os óleos de rícino com os quais as lombrigas retornavam ao solo de onde seus ovos me contaminaram. Não poderia ter as cicatrizes das pedras de baladeira que alguns, só por puro desafio, me criaram.
Jamais ter visto os olhares que derretiam a cratera do meu vulcão interior. Olhares tão intensos e dissimulados, na Praça Siqueira Campos. Elas se recolhiam à proteção de seus pais e eu secava todo o magma da força do amor, sem interrupção de dias e noites, frio e calor, chuvas e guarda-chuvas.
Oh! Meus queridos leitores destas plagas dos Cariris, não quero a morte, não quero a solidão, quero a vida até daquele de mais duvidoso comportamento. Sei que mesmo que assim imagine, resta para ele a dúvida sobre a qualidade da minha classificação, que bem pode estar errada. Eu não sou nada sem que estejam brotando e pulsando cada minuto da vida como desejam a vida para si.
Se vivesse para tocar fogo no rastilho do canhão, iria desejar que a fundição nunca houvesse existido ou que em breve se findasse. Gostaria que nunca tivessem misturado o salitre, com o enxofre e o carvão. Não se pode querer vida sem derrubar os obstáculos a ela.
Quero a vida de todos. E entre todos gostaria de me encontrar. Até quando vida não houver, apenas memória dos filhos e netos. Pois se a quero para mim, não posso ficar calado, paralisar as vibrações de minhas cordas vocais, dizer, mesmo que flechas pareçam, aquilo que vejo e revelo. Apenas revelo por desvelo.
3 comentários:
Parabéns pelo texto, Zé do Vale.
Você fez do seu sentimento pura poesia e redimensionou seu amor à terrinha nossa.
O texto foi suave e ao mesmo tempo sintomático e incisivo, retratando a alma digna que transparece na dimensão do que você "apenas revela por desvelo".
Um abraço,
Claude
P. S. Preciso falar contigo faz tempo, podemos falar amanhã quando eu etiver em Sobral? (depois das 20h)
Re-abraço
Zé do Vale e Claude,
Vocês foram bem lembrados , na noite de ontem!
Claude, poderemos. Amanhã estarei em casa neste horário e durmo tarde. Sobre o texto: entendi a brincadeira do Dihelson, mas a visão da morte daqueles a quem dirigo a palavra me incomodou. Não o Dihelson, apenas a visão.
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