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Mucuripe
Entre os barcos e as casas dos pescadores
Há uma mesa com seus bancos fincados no chão,
Alguns copos, um ou dois pratos, talheres
E bocas famintas e olhos arregalados.
Cachorros andam de um lado para o outro
Perseguindo a própria sombra,
Um resto de comida, a vida
Preguiçosa como os gatos pardos,
Que se esparramam por ali,
Na modorra de donos absolutos do lugar.
As árvores projetam a sua sombra verde
Sobre esse chão pobre, cheirando a lixo e dor.
Uma criança chora: é sinal de vida.
Um velho ergue uma garrafa de pinga
Enquanto exibe o peito coberto de tatuagens.
Uma mulher oferece um peixe e grita como louca: Viva a vida!
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2 comentários:
O José Carlos Brandão,
Colocar Mucuripe nesta condições, que certamente são reais, a não ser que a foto me engane como sendo beira-mar, revela muito do ambiente das nossas margens de areias das praias urbanas.
Agora olhem a ironia: lembrei-me das Velas do Mucuripe e aí, o poema é mais ferino ainda.
Belo, belíssimo !
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