O cachorro
O cachorro me olhou com o silêncio
lacrimejante das janelas-enigma,
sempre fechadas, sem palavras, sangue
e sal diluidor, e latiu forte
como a morte, como árvore de espantos.
O cachorro rompeu o seu silêncio
de pedra exausta: precisava a dor
dizer ao mundo. O sangue na terra
clamava aos céus, o breve fim, a angústia
milenar, consentida, mas angústia.
O cachorro floriu diante do mar,
em êxtase com a água, a eternidade
nos olhos mansos, vendo o tempo frágil
desfazer-se na fria areia efêmera.
________
2 comentários:
José Carlos Brandão,
Poeta e amigo:
sempre a provocar
um sopro além
da própria existência
- o cachorro
também é terra.
Forte abraço.
Ótimo texto, José Carlos.
Seu pensamento me chegou tal qual uma tela pintada sobre os sentimentos.
Seu "cachorro" vive deveras!
Abraço,
Claude
Postar um comentário