Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Que rapaz é esse? Que estranho canto.....

Sidney Miller morreu aos 35 anos de idade em 1980. Andava um tanto esquecido da sua vida de compositor e trabalhava na FUNARTE. A Sala de Apresentações recebeu seu nome. Na época corria a boca pequena que ele suicidara-se, mas hoje a versão que predomina é a morte subida por parada cardíaca.

Mas foi o que ocorreu com a morte de outro grande compositor e poeta, o piauiense Torquato Neto. Ele morreu aos 28 anos de idade e foi achado morto no dia seguinte pela empregada da família, enquanto sua mulher e filha dormiam num quarto vizinho.

Estas duas composições, no entanto, antecipam fatos. Dizem coisas que ocorrerão. Uma por anúncio (Torquato Neto – leiam a letra abaixo) e a outra por uma profunda crítica ao modelo de desenvolvimento que esvazia as pessoas e as deixam sem razões de viver, pois é, prá quê?


Prá dizer Adeus (Edu Lobo e Torquato Neto)

Adeus /Vou pra não voltar / E onde quer que eu vá /Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor / Nem é bom pensar / Que eu não volto mais / Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber / Como te contar / Que o amor foi tanto /
E no entanto eu queria dizer / Vem / Eu só sei dizer / Vem / Nem que seja só
Pra dizer adeus

Pois é, prá quê? (Sidney Miller)

O automóvel corre / A lembrança morre /O suor escorre / E molha a calçada
A verdade na rua / A verdade no povo / A mulher toda nua /Mas nada de novo
A revolta latente / Que ninguém vê /E nem sabe se sente/ Pois é, prá que?
O imposto, a conta / O bazar barato / O relógio aponta / O momento exato
Da morte incerta / A gravata enforca / O sapato aperta /O país exporta
E na minha porta / Ninguém quer ver / Uma sombra morta / Pois é, prá que?
Que rapaz é esse? / Que estranho canto / Seu rosto é santo / Seu canto é tudo
Saiu do nada / Da dor fingida / Desceu a estrada / Subiu na vida
A menina aflita / Ele não quer ver / A guitarra excita / Pois é, prá que?
A fome, a doença / O esporte, a gincana / A praia compensa / O trabalho a semana
O chopp, o cinema / O amor que atenua / Um tiro no peito / O sangue na rua
A fome, a doença / Não sei mais porque / Que noite, que lua / Meu bem, prá que?
O patrão sustenta / O café, o almoço
O jornal comenta / Um rapaz tão moço
O calor aumenta A família cresce
O cientista inventa / Uma flor que parece
A razão mais segura / Prá ninguém saber
De outra flor / Que tortura...
No fim do mundo / Tem um tesouro
Quem for primeiro / Carrega o ouro
A vida passa no meu cigarro / Quem tem mais pressa
Que arranje um carro / Prá andar ligeiro
Sem ter porque / Sem ter prá onde / Pois é, prá que?
Pois é, prá que? / Pois é!

2 comentários:

Aloísio disse...

Do Vale,

Bem lembrados Sidney e Torquato que tiveram vida curva mas deixaram obras grandiosas.

Abraços
Aloísio

socorro moreira disse...

Encontrar vida e descobrir a vontade de vivê-la não é difícil.

Não cuidar dessa vontade é doença ou comodismo.

Mas quem pode sentir pelos outros, sem ficar triste?

A música transcende a dor de existir.
A música transforma em rítmo , o risco da vida.
Vivemos com música e riscos.