Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quem diz anonimato, balbucia nomes - José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma grande cidade é a moradia do anonimato. Os carros como trens intermináveis nas curvas das ruas. Andam tão colocados uns aos outros que nem brecha existe para um simples corpo humano esgueirar-se. Com uma individualidade móvel, sopram veneno pelos canos de escapamento um atrás do outro, mas não existe um início da fila. Todos parecem se encontrar bem no meio dela.

Você cruza pelo outro que é o mais exacerbado outro que jamais se pensou existir. Nem estrangeiro é, parecem-se como elementos das ruas, algo para substantivar as calçadas. E você até reconhece rostos já anteriormente vistos. Não sabe nada sobre ele. Cruza ao seu lado, toma junto a si um cafezinho no balcão do botequim e se estiver atropelado no meio da rua é o mesmo exacerbado outro.

Se o sol domina a cena, não apenas abaixo dele estarão as pessoas. Milhões se enfurnaram, como na idade da pedra, em suas locas de compras, de alimentação, seja para dormir e quem sabe até para fazer sexo e garantir a espécie. Tudo no climatizado ambiente de catacumbas escuras, iluminadas pelo artifício.

A noite não muda a essência das ruas, mas as luzes geradas a milhares de quilômetros iluminam com cores para despertar o desejo difuso de consumir. O desejo da felicidade de prateleira, que tão logo se substitui com o próximo embrulho. As luzes da cidade dizem mais uma vez do anonimato humano.

Chega-se a esta conclusão e o triste panorama parece obturar a luz do olhar. Aí é que o fator humano surpreende, como uma aurora boreal, metamórfica, bruxuleante e plena de pinceladas se diluindo na periferia. O fator humano é incrivelmente mutante, arrasa as estruturas que parecem solidificar conceitos e visões como verdade do último segundo.

Ao dobrar a curva do Calombo, ali na Lagoa Rodrigo de Freitas, a mais perfeita cena de uma identificação especial do homem com história e identidade. Sentado na posição de motorista, esperando alguém, com o carro sobre a calçada. O mundo todo no seu anônimo movimento e ele ali por inteiro.

Com um jornal nas mãos, os braços para fora do carro, tentando achar um ponto mais iluminado daquela área apenumbrada. Busca as histórias de vida nas linhas do jornal.

2 comentários:

socorro moreira disse...

Belo poema.
Simbólico
Recheado de induções
permeado de humanismo
e a individualidade imperativa
empurrando a vida
Difícil a mistura com o coletivo
Uma lição difícil !
O anonimato também
é presente do ser livre
Mas existe um momento
ou todos os momentos
em que a gente mostra a cara
além do espelho
Enxerga a p´ropria imagem
tão carentes de viço,
brilho, e sorriso.
Não é feliz o rosto que permanece no escuro
Mesmo que a alma brilhe
ela no fundo grita,
por uma expressão de alegria coletiva.
Ainda temos tempo...

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Socorro, você é muito generosa comigo. Especialmente eu que estava preocupado com a nota que publiquei. Mas não pelo motivo que todos podem pensar. É o destempero de ter colocado você numa geração de coroas como eu e Everardo. Aliás você, a Claude e a Edilma. Desculpa viu. Eu já ia às festas na AABB e vocês ainda brincavam de guisado.