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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Noel Rosa - Por Norma Hauer

ELE NASCEU COM O COMETA HALLEY

Era o ano de 1910.
Terminara a “Revolta da Chibata”, mas chegara o Cometa Halley.

Podemos imaginar como as pessoas “temerosas dos castigos de Deus” deveriam estar apavoradas , enquanto outras admiravam um dos fenômenos naturais do início do século XX.

Mas em uma casa modesta da Rua Teodoro da Silva, um casal aguardava a ansioso a chegada de “seu rebento”.

Era o dia 11 de dezembro de 1910. E quem estava nascendo? Alguém que viveria apenas 26 anos, mas que enriqueceria de tal modo nossa música popular, que hoje, 100 anos depois é lembrado e amado por todas as gerações que vieram depois dele.

É UM VERDADEIRO FENÔMENO!

Seu nome: NOEL DE MEDEIROS ROSA , ou simplesmente NOEL ROSA.

Ele começou a ficar conhecido quando, juntamente com Henrique Fôreis, o Almirante, e o "Bando de Tangarás" fez suas primeiras apresentações em uma das emissoras de rádio pioneiras, a Rádio Clube do Brasil.

Isso em 1929. Não completara ainda 19 anos.
Apresentou, ao violão, um choro de sua autoria de nome "Baianinha", que nunca foi gravado, mas que lançou seu nome em um tempo que os poucos receptores de rádio existentes ainda eram criados de modo artesanal, com cristais de galena.

Nesse mesmo ano, seu nome despontou em uma gravação de um samba que marcou definitivamente sua presença no meio musical: "Com Que Roupa?".

Ali ele mostrou seu talento e sua "charge" que o acompanhou em muitas de suas composições, como "Gago Apaixonado"; "Cordiais Saudações"; "Conversa de Botequim"; "A.E.I.O.U", "Cem Mil Réis"; "De Babado"; "É Bom Parar";
"Tarzan, o Filho do Alfaiate", "O Orvalho Vem Caindo" e dezenas de outras.

Noel também foi romântico, como em "P'ra Que Mentir?"; “Último Desejo"; Feitio de Oração"; "Não Tem Tradução; "P'ra Esquecer"... e em sua única canção "Meu Sofrer", gravação original de Gastão Formenti. Anos depois de sua morte foi mudada para "Queixumes" e gravada por Carlos Galhardo.
É sua única canção, além de ser a única que ele compôs com parceiro (Henrique Brito), que caiu em domínio público.

E seus sambas, enaltecendo Vila Isabel, o bairro que ainda hoje (e será sempre) o bairro de Noel?
"Feitiço da Vila" e "Palpite Infeliz" são dois que nos vem à lembrança quando se pensa em Vila Isabel.

Ali estão um túnel, uma estátua, uma escola e várias casas comerciais lembrando seu nome, o que nem era preciso porque falar em Vila Isabel é falar em Noel Rosa.

Noel ainda participou dos filmes "Alô, Alô Carnaval " e "Cidade Mulher"; neste apresentou um samba exatamente com o nome de "Cidade Mulher", referente ao Rio de Janeiro.

Cidade de amor e aventura
Que tem mais doçura
Que uma ilusão.
Cidade mais bela que o sorriso,
Maior que o paraíso
Melhor que a tentação

Cidade que ninguém resiste
Na beleza triste
De um samba-canção.
Cidade de flores sem abrolhos
Que encantando nossos olhos
Prende o nosso coração

Cidade notável,
Inimitável,
Maior e mais bela que outra qualquer.
Cidade sensível,
Irresistível,
Cidade do amor, cidade mulher.

Cidade de sonho e grandeza
Que guarda riqueza
Na terra e no mar.
Cidade do céu sempre azulado,
Teu Sol é namorado
Da noite de luar

Cidade padrão de beleza,
Foi a natureza
Quem te protegeu
Cidade de amores sem pecado,
Foi juntinho ao Corcovado
Que Jesus Cristo nasceu .

Esse samba foi depois gravado por Orlando Silva

Noel participou também de várias peças teatrais, como "Deixa Essa Mulher Chorar" ; "Samba, Prontidão e Outras Coisas"; "O Barbeiro de Niterói"; "O Poeta da Vila e Seus Amores"...

Imaginar o que foi Noel Rosa em seus poucos anos de vida, tendo deixado mais de duzentas composições (a maioria sucesso, como a sempre lembrada "Pastorinhas") é imaginar que tivemos um gênio entre nós que, como todos os gênios, viveu pouco e pouco cuidou de sua saúde.


Recentemente tivemos um filme sobre NOEL ROSA que o apresentou "rodando de bar em bar na Lapa" e nada falou sobre sua participação no rádio, principalmente no Programa Casé , o programa que o tornou conhecido em todo o Brasil.

Um boêmio da Lapa, jamais seria referenciado até hoje se não fosse lançado no rádio, o grande divulgador dos artistas de sua época.
Cheguei a acompanhar os improvisos dele e de Marilía Batista com a música de "De Babado", no Programa Casé", na antiga Rádio Phiilips do Brasil (PRC-6).

Até anúncios (como se dizia na época) viravam “gingles” com a música de “De Babado”, como os que anunciavam “O Dragão”, da Rua Larga.

“O Dragão” fica em frente à Light ou a Light fica em frente ao “Dragão”? Era uma loja de artigos de cozinha que sobreviveu anos após a morte de Noel.

Eis um dos “gingles”

“De babado, sim,
Meu amor ideal, sem babado não.

“No dia que fores minha ,
Juro por Deus , coração.
Te darei uma cozinha
Que vi ali no Dragão.



NOEL ROSA faleceu em 4 de maio de 1937, há "apenas" 73 anos. Hoje é tão popular como se ainda vivesse.

Entretanto, ele ficou algum tempo esquecido, até que, em meados dos anos 50, Aracy de Almeida lançou dois álbuns com 12 discos de 78 rotações , que recebeu o nome de “Noel Rosa”, somente com composições suas.

Sobre NOEL existem dois livros que dizem tudo a seu respeito""Noel Rosa-Uma Biografia", de João Máximo e Carlos Didier, com tudo que se poderia falar sobre ele e "No Tempo de Noel Rosa", de Almirante.

Apesar das minúcias sobre Noel do primeiro, onde se vê o quanto os autores pesquisaram para fazer um trabalho perfeito, prefiro o de Almirante porque este “viveu” NOEL ROSA.

Norma Hauer

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