Um socó desafia uma garça, abaixo da Ponte Velha, de Barra Bonita, SP,
apontando para a estrada de Igaraçu do Tietê, de 1 km., que eu garbosamente
percorri muitas vezes brincando, quando criança.
A MESA DOS MORTOS
Os mortos acordam, sentam-se à mesa comigo.
Têm pedras nas mãos e pássaros sobre os ombros.
É perigoso que as pedras matem os pássaros.
As palavras são pesadas como pedras.
Às vezes é preciso que as palavras matem os pássaros.
A minha mãe e o meu pai contam histórias.
Têm terra na boca e contam histórias.
As suas palavras são como a água no meio do mato.
Nas suas palavras, a alma de todos os que vieram antes.
O meu avô corta lenha com um machado negro.
O machado do meu avô corta a lenha da memória.
Se é verde, fica a secar ao sol.
É preciso apagar a memória das árvores.
Tanta água represada.
Deus preside a conferência dos mortos.
Deus guia a minha mão.
Não escreve por mim: muitas vezes apaga o que escrevo.
Deus me ensina: as palavras morrem.
As palavras precisam apagar o que existe.
É preciso deixar lugar para o eterno.
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Poema de 2007.
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Um comentário:
José Carlos,
Sua presença é sempre marcada por uma boa escrita. Desta vez uma reflexão sobre a vida, sobre as forças da natureza, sobre esta passagem terrena e a espreita da morte.
Obrigada pela sua participação por entre nós,
Abraço,
Claude
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