a menina está de cama com febre
e sonha com um dilúvio
a casa navegando como a arca de Noé
quando acordou a casa navegava
com alguns bichos e ela
passou uma mulher com um cachorrinho
mas não passou Tcheckhov
nem Moby Dick
a cultura morreu afogada
Quando chegou Moisés já era tarde
nem o cabelo de Sansão se salvou
nem a língua de Dalila
ou a bandeja de prata de Salomé
a menina ficou abandonada no mundo
sozinha para criar uma outra humanidade
mas feliz da vida porque estava viva
e antes só do que mal acompanhada
(Gregório Vaz)
3 comentários:
Ah, Gregório Vaz sou eu, também. É um heterônimo. Meu lado mais bravo.
Carlos Brandão,
Um só escritor já é orgulho demais aqui no Cariricaturas, imagine em dose dupla.(Gregório Vaz)
Quisera eu possuir apenas hum dos seus sete livros de poesia.
Um escritor laureado por homenagens por todo o Brasil e presente quase que diariamente por aqui como um simples colaborador.
A modestia parece lhe ser familiar, caro poeta.
Acho que essa menina saiu sã e salva das águas do nosso Rio Granjeiro. Para mim é uma referencia poética, se me permite...
Abraço !
José Carlos,
Um poema ao mesmo tempo doce e atento às questões da vida.
Creio que seu lado bravo é também sutil, sábio e coerente.
(Prazer em conhecer Gregório Vaz)
Abraço,
Claude
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