Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Padre Lourenço Vicente Enrile – por Armando Lopes Rafael



O dia era 13 de novembro de 1876.
Na cidade de Crato – na Rua das Flores (hoje crismada de Rua Teófilo Siqueira), em casa do farmacêutico prático Secundo Chaves, localizada próximo aonde hoje funciona a Cúria Diocesana – um sacerdote de 43 anos, com o organismo minado pela tuberculose, sentia que sua existência terrena chegava ao fim. Em meio à febre, acessos constantes de tosse e hemoptise, o Padre Lourenço Vicente Enrile (foto ao lado) – primeiro reitor do Seminário São José – rendeu sua bela alma a Deus, nos braços do farmacêutico Secundo Chaves, seu amigo e benfeitor.
Dias antes, o farmacêutico, após muita insistência, conseguiu que o Padre Lourenço Enrile deixasse o prédio do Seminário e viesse para sua residência onde teria mais conforto no tratamento da pertinaz moléstia. Debalde foram os esforços do farmacêutico. O Crato perdeu, naquele dia, um de seus mais virtuosos sacerdotes.
Padre Enrile nasceu em Finalborgo, diocese de Savóia, na Itália em 28 de fevereiro de 1833. Cento e trinta e cinco anos depois da chegada do Frei Carlos Maria de Ferrara – fundador de Crato – a Itália nos mandara outro valoroso missionário. Padre Enrile chegou ao Cariri em 1875, para colocar em funcionamento o Seminário São José. Aqui viveu menos de dois anos, tempo suficiente para alcançar – junto à sociedade cratense – o conceito de um sacerdote digno, piedoso e exemplar.
Segundo o “Álbum do Seminário de Crato”, editado em 1925:

“Não se limitava a ação do primeiro reitor em guiar os destinos da casa, da posição em que o colocara o Sr. Bispo, mas entregava-se a todos os misteres. Desde a sala de aulas até a cozinha, sua atividade se desenvolvia a contento de todos os que habitavam o Seminário.
“Trabalhava sem tréguas, durante o dia, e, à noite quando todos dormiam, ainda vigiando, percorria o dormitório e mais compartimentos da casa, não deixando de consagrar algum tempo ao estudo.
“Os primeiros albores da madrugada, como determinavam as regras da Congregação, já o encontravam no cumprimento do dever.
“Padre Enrile era um modelo de sacerdote católico, que reunia aos vastos conhecimentos de que era possuidor uma piedade sólida, haurida em Paris na Casa Mãe dos Lazaristas. Manejava a língua portuguesa com rara facilidade, de modo que prendia a atenção de todos quando proferia seus memoráveis sermões. À capela do Seminário, em meio de grande massa popular, afluía, ainda, o que o Crato tinha de intelectual naquele tempo, para ouvir a palavra fácil e erudita do Padre Enrile.
“Em todos os misteres do sacerdócio, era o Padre Enrile exato e admirável. Edificava o povo, quando após os trabalhos do Seminário, saía em busca dos moribundos levando-lhes o pão dos anjos e o conforto de sua palavra cheia de unção.
É ainda o “Álbum do Seminário de Crato” que informa:
“Quando do seu falecimento, a população em peso acorreu ao Seminário e de todos os olhos caiam lágrimas a fio, e todos os lábios ciciavam preces pelo repouso da alma do prateado morto”.
Os veneráveis restos mortais do Padre Enrile encontram-se sepultados numa das colunas da capela do Seminário São José.
Conforme o “Álbum do Seminário de Crato”: “Jamais se assistira (até aquela data) em Crato a enterro tão concorrido e a morte tão chorada”...

Seminário Diocesano São José de Crato, nos dias atuais (foto de Pedro Léo)

2 comentários:

Claude Bloc disse...

Armando,

Você não imagina como sua presença aqui é de total relevância de enorme alegria para o Cariricaturas.
Agradeço pelo gentil acesso e sobretudo pelo teor levantado por você.

Há coisas da nossa História que andavam perdidas do nosso conhecimento.
Você tem nos iluminado com seu trabalho dedicado e sério, trazendo à luz os fatos que se sedimentam agora em nossa mente através de você, dos seus esclarecimentos.

Obrigada, Armando.

Abraço,

Claude

Claude Bloc disse...

Em tempo: A foto de Pedro Léo está o máximo!

O foco em cores no seminário deu um efeito especial à imagem.

Claude