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quinta-feira, 3 de março de 2011

Zuca Sampaio, o arquétipo da aristocracia caririense -- por Armando Lopes Rafael

Residência construída por Zuca Sampaio, na Praça do Rosário em Barbalha, no início do século XX. O imóvel é conhecido como a Casa de Mãe Yayá (como era conhecida a esposa de Zuca Sampaio), sendo um dos mais bonitos solares dos que foram conservados em Barbalha.

(Explicação a priori: utilizo a palavra arquétipo aplicando-a a pessoas que exprimem em grau eminente as características de um povo, constituindo um paradigma. Zuca Sampaio é o arquétipo da aristrocracia que existiu na Região do Cariri até algumas décadas passadas).
José de Sá Barreto Sampaio – mais conhecido por Zuca Sampaio – nasceu em Barbalha, no dia 7 de agosto de 1861. Filho de Sebastião Manuel de Sampaio e Francisca de Sá Barreto Sampaio, um casal genuinamente católico. Sua mãe, antes de falecer, pediu que fosse enterrada na calçada da igreja-matriz de Santo Antônio. Ainda hoje se vê, no adro do vetusto templo, uma lápide mortuária onde consta: “Francisca de Sá Barreto Sampaio pediu ser sepultada aqui, para sobre suas cinzas passar o Santíssimo Sacramento e para ficar perto de sua querida imagem de Nossa Senhora das Dores”. Sobre Zuca Sampaio, o Padre Azarias Sobreira publicou um opúsculo: José de Sá Barreto Sampaio - um sertanejo de escol. Dessa obra retiramos algumas informações.
Zuca foi comerciante honestíssimo e bem sucedido, de proceder sempre retilíneo, atuando na firma Sampaio e Irmãos, de 1892 até 1914. Neste último ano, as tropas da Sedição de Juazeiro invadiram Barbalha e roubaram o estoque dessa loja de tecidos, a maior do Cariri. Restou ainda o clima de insegurança, obrigando Zuca Sampaio, esposa e filhos a se refugiarem – durante algum tempo – numa fazenda do sertão pernambucano, localizada a mais de 100 km de Barbalha. Isso não o impediu de, todos os meses, na primeira sexta-feira, fazer longos percursos a cavalo para comungar, costume que o acompanhava, desde a infância. Naquela fazenda, se refez dos prejuízos sofridos, enquanto aguardava a hora de retornar a sua cidade natal e recomeçar suas atividades comerciais, bruscamente interrompidas.
Na juventude, Zuca Sampaio alimentou, durante anos, o desejo de ser padre. Desejou ser um sacerdote nos moldes do Padre Ibiapina e só desistiu desse intento, após longas conversas com o então vigário de Barbalha, Padre João Francisco da Costa Nogueira, virtuoso modelador da família católica barbalhense. Este o aconselhou a constituir uma família. Só aos 33 anos, veio a contrair matrimônio com Maria Costa Sampaio – Mãe Yayá – procedendo do casal nove filhos: Dr. Leão Sampaio, Dr.Pio Sampaio, Antônio Costa Sampaio, general Manoel Expedito Sampaio, professora Maria Alacoque Sampaio, José Costa Sampaio, Paulo Sampaio e mais dois falecidos, na tenra infância.
Zuca trabalhava, o dia inteiro, no seu estabelecimento comercial, com ligeiro intervalo para o almoço. Próximo ao pôr-do-sol, passava na sua residência para o jantar. Em seguida, pegava o candeeiro, livros e anotações e ia ensinar as primeiras letras no “Gabinete de Leitura”, instituição por ele fundada, destinada à alfabetização de pessoas carentes de Barbalha. Ali, ensinava os princípios morais, a doutrina cristã e o amor à pátria. Foi o leigo católico de maior projeção daquela cidade, tendo, ainda, presidido, por longos anos, à Conferência de São Vicente de Paulo, da qual foi um dos fundadores, em 1889 – amparando a pobreza daquela comunidade – além de ser um dos líderes da construção da bela Igreja do Rosário (foto ao lado).
Ao lado disso, priorizava uma sólida formação moral e intelectual aos seus filhos, os quais vieram a se destacar – depois de passarem por boas escolas e academias, em capitais de Estados brasileiros – como a fina flor da elite barbalhense.
Padre Azarias é enfático ao afirmar: “Sua franqueza ia ao extremo.Interessando-se pela sorte de todos, condoendo-se de todos os infortunados, jamais o intimidava a ira dos maus ou o melindre dos poderosos, se se tornava necessária uma palavra franca, em defesa da inocência, da fé ou da moral”.
Eis, em rápidas linhas, e de forma incompleta, o perfil moral de Zuca Sampaio, um aristocrata caririense.
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

4 comentários:

Armando Rafael disse...

O Solar conhecido como “A Casa de Mãe Yayá” é conservado na sua originalidade. Pertence hoje a bisnetos de Zuca Sampaio que ali instalaram uma das melhores clinicas oftalmológicas do Cariri. A Casa Sampaio (estabelecimento comercial de Zuca Sampaio) ainda hoje existe, sendo propriedade um neto seu, Iônio Sampaio. Membros da atual geração da família Sampaio também ajudam na conservação da Igreja do Rosário.

Uma filha de Zuca Sampaio, a professora Alacoque Sampaio, (autora (letra e música) do Hino de Barbalha e falecida em 1994) era poetisa e publicou três volumes com suas poesias, todos com o sugestivo título “A Casa de Mãe Yayá”.

Armando Rafael disse...

Por oportuno, reproduzo a primeira estrofe e o estribilho da letra singela e bonita do Hino de Barbalha:

“Canta, Barbalha,
A tua fé cheia de esplendor;
Canta, Barbalha,
As esperanças do teu porvir;
Canta, Barbalha,
As alegrias que hão de vir;
Canta, Barbalha,
A caridade que diz amor!

Terra querida
És nossa vida
Tudo daremos
Em teu favor.
Terra de Santo Antônio
O nosso grande protetor!

Edilma Rocha disse...

Armando,

Como gostei desta matéria !
Sou apreciadora das historias de nossas cidades do Cariri e suas pessoas... Quando encontro seus textos sei que será prazerosa a leitura...
Não conhecia estes relatos da família Sampaio.
Obrigada por tão importantes informaçãoes.

Abraço !

Claude Bloc disse...

Armando,

Gostei demais desse seu artigo. Inclusive indiquei essa leitura aos filhos de Darci Libório Sampaio, viúva de Jairo Sampaio, descendente de Zuca Sampaio.

Você sempre nos enriquece com seus textos.

Abraço,

Claude