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"

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terça-feira, 21 de junho de 2011

O fundador de Juazeiro do Norte – por Armando Lopes Rafael

Embora a maioria das pessoas pense que se deve ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte, renomados historiadores afirmam ter sido o brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro o verdadeiro fundador do núcleo primitivo, que deu origem a atual cidade. É o caso de Amália Xavier de Oliveira que defende o brigadeiro Leandro como o fundador da hoje centenária cidade de Juazeiro do Norte.

E isso ocorreu porque, dentre suas várias propriedades rurais o brigadeiro escolheu uma delas para viver seus últimos dias. Era a Fazenda Tabuleiro Grande, (localizada onde hoje se ergue a cidade de Juazeiro do Norte) assim descrita por Amália Xavier de Oliveira:

“... imensa extensão de terra, partindo do município de Crato e espraiando-se em direção à serra de São Pedro, era a Fazenda Tabuleiro Grande, pertencente ao brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro e que, portanto fazia parte da gleba de terra do engenho Moquém que seus avós doaram aos seus pais como dote, quando eles se casaram. O ponto mais pitoresco da fazenda era uma ligeira elevação do terreno, próximo ao rio Salgadinho, onde havia três grandes juazeiros, formando um triângulo e sobressaindo, entre os demais, pelo tamanho de sua fronde e pela beleza do verde de sua clorofila. Sob esta fronde acolhedora, procuravam abrigo os viajantes feiristas, que, de Barbalha, Missão Velha e outras imediações se dirigiam a Crato para vender seus produtos e comprar mantimentos para a semana (...)

"Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda perto da casa já existente".

Em 15 de setembro de 1827 foi lançada a pedra fundamental da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Assistiu a essa solenidade o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, aquela época caminhando para os 87 anos de idade. A imagem de Nossa Senhora das Dores, destinada à capelinha, foi adquirida pelo brigadeiro em Portugal e ainda hoje é conservada, em excelente estado, na Casa Paroquial de Juazeiro do Norte.

Deve-se, pois, ao brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – conhecida inicialmente por Fazenda Tabuleiro Grande, depois chamada de Joaseiro – com a edificação da Casa Grande, de uma capela, além de residências para os escravos e agregados da família.

Quem era esse Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro? Monsenhor Francisco Holanda Montenegro, no seu livro "As Quatro Sergipanas", descreve assim o perfil moral do fundador de Juazeiro do Norte: “... a relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco, sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o equilíbrio e o bom senso."

Quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, em 11 de abril de 1872, já como sexto capelão, encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Contava o lugarejo, à época da chegada deste sacerdote, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande. Naquele povoado – à época da chegada do Padre Cícero – residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves.

Não padece dúvidas de que o brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, viveu seus últimos dias na Fazenda Juazeiro, antiga Tabuleiro Grande, onde hoje se ergue a cidade de Juazeiro do Norte, por ele fundada, como afirma dona Amália Xavier de Oliveira.

É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela Beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”. A partir desse episódio, Juazeiro ficaria conhecida nacionalmente. Nos dias atuais, milhares de romeiros visitam Juazeiro do Norte, durante todo o ano. A devoção à Mãe das Dores, como é carinhosamente tratada por seus devotos, foi espalhada por todo o Nordeste brasileiro. Hoje Juazeiro do Norte ganhou lugar entre as 100 maiores cidades brasileiras. E seu progresso vertiginoso é motivo de orgulho não só para os caririenses, mas para todos os brasileiros.

Fontes de referências:
– Amália Xavier de Oliveira. O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3 ed. Recife: Editora Massangana, 1981.
– Monsenhor Francisco Holanda Montenegro. As Quatro Sergipanas. Edição da Universidade Federal do Ceará, Coleção Alagadiço Novo. Fortaleza, 1996.

Um comentário:

Zé NIlton disse...

Quando Padre Cícero chegou ao povoado de Juazeiro, em 11 de abril de 1872, para fixar residência, o local era um pequeno aglomerado humano com uma capelinha erigida pelo primeiro capelão, o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, uma escola, cerca de 35 casas (a maioria de taipa) e duas pequenas ruas (Rua Grande e Rua do Brejo). Cinco famílias importantes habitavam o local: Macedo, Gonçalves, Sobreira, Landim e Bezerra de Menezes. O restante da população era formado por escravos e arruaceiros afeitos à bebedeira e à prostituição.
Assim diz, Armando a História. O pesquisador Pe. Gomes de Araújo dar esta versão.
Interessante observar que o eminente Ralf Della Cava não cita a fonte escrita pela escritora, que ele chama Doutora, em outro seu escrito, sobre a criação de Juazeiro. Acho que isto se deve a asséptica formação histórica dos americanos em torcer o nariz para tudo que se diga ser MEMÓRIA. E o livro da excelente Amália Xavier, chamado " O Pe. Cícero que eu conheci", é pura memória. Lá está escrito, também, o que você escreveu, e que o pesquisador Gomes já havia dito no seu "Povoamento do Cariri".
Boa polêmica esta. Não para dessantificar o nosso Pe. Cícero, como querem alguns que ficam nervosos quando se mostra a face histórica dos fenômenos de Juazeiro. Mas, para por as coisas em ordem. A História é mestra...