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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Coisas nossas, Por Zé Nilton

Só lembranças...

Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero”.(Chico Buarque de Hollanda).

Prazeroso seria puxar pela reminiscência dos amigos, principalmente de uma legião afeita a desafiar, quase que diariamente, as nossas retinas fadigadas para olhar pessoas, paisagens e acontecimentos, como faz o nosso confrade, o Blog do Sanharol, e indagar “quem são os da foto”? Sem dúvida muitos acabariam “descobrindo” quem é quem no quadro.

Mas não se trata disto. Quero falar de lembranças e de propósito.

Corria o ano de 1962. Um dia qualquer do mês de dezembro, com 12 anos completos, descia Lameiro abaixo, tangendo um jumento, levando água lá da “fonte de Dona Zulmira da Franca Alencar” para a minha casa.

De repente, ao passar em frente à residência das irmãs filhas de Santa Tereza, um homem de óculos de fundo de garrafa, do lado de dentro da cerca de arame, com gestos firmes, diz:

-Êi, Zezinho, - (todos os garotos, como fazia também o Mons. Montenegro, eram chamados assim)-, você quer aprender música e ajudar a missa?

Eu, meio abobalhado, nem disse que sim nem que não. Em casa, falei à minha mãe, que foi comigo, no outro dia, “saber dessa história”.

Padre Ágio foi em férias para o Sul, e eu fiquei aprendendo latim com uma irmã, muito linda e de voz rouca, que acabou sendo a minha primeira paixão e meu primeiro pecado, por pensamento.

Em janeiro de 1963, o Padre inicia o curso de teoria musical com 12 garotos. No mesmo ano estava formado o “Quarteto Villa-Lobos”. Olhem aí na foto: eu ao violão, PITUCHA (Alexandre Reinaldo dos Santos), de saudosa memória, ao contrabaixo, Augusto MOREIRA, de Figueiredo (de saudosa memória) no acordeón e o Padre Ágio no violino.
No natal daquele ano fizemos a nossa primeira apresentação pública no Hospital São Francisco, dirigido pelo saudoso Mons. Pedro Rocha de Oliveira.

Monsenhor Rochinha acostumado a assistir a Orquestra S. José, do Seminário, com cerca de 53 músicos, criada pelo sacerdote maestro, quando da nossa apresentação, abriu a cortina do auditório, dizendo:

- Em com as senhora e senhores, a orquestra do Pe. Ágio!

Muitos aplausos. Eu deveras envergonhado. Como quatro músicos formariam uma orquestra? Mas tudo perdoado por conta do entusiasmo do inquieto Monsenhor.

Outra decepção (talvez), esta do público, no mesmo auditório, no natal de 1966, agora com a formação de sete músicos. Explicando: desde 1965 a música “Olê, Olá”, de Chico Buarque, tocava nas rádios, na interpretação de Nara Leão. Chico gravou no ano de 1966. Pois bem, quando anunciamos a música “Oilê, Oilá”, vieram calorosos aplausos. Eu, já todo me “chiquetando”, senti o porquê da ovação. Que nada, a música era outra, e o título também. Mas no calor do momento, e a música do Chico fazendo sucesso, claro que o público esperava ser aquela obra prima da “unanimidade nacional”. No entanto tratava-se de uma toada do paulista Mário Pinto da Motta, também chamada “Deixa o Pinho Soluçar”, interpretada pela dupla paulistana Cascatinha e Inhana.

“Oilá, oilê
Deixa meu pinho gemê
Oilê, oilá
Deixa o pinho soluçá.
Minha viola
É puro sangue brasileiro
Pois foi feita de um pinheiro
Que veio do Paraná
Quando ela geme
Desabafa minha mágoa
Os meus olhos enchem d'agua
Com vontade de chorar.”

Em 1967, o hoje Mons Ágio cria a Sociedade Lírica do Belmonte, onde ainda hoje funciona, e cujo embrião resultou da formação dos músicos da Vila Santa Terezinha.

E é aqui que eu quero chamar a atenção. Não podemos nunca deixar desfalecer um projeto como o da SOLIBEL. As atividades desenvolvidas pelo complexo educativo-musical contribuíram para mudar a fácies do Belmonte e adjacências. Não é de hoje que a Sociedade Lírica passa por problemas de toda ordem. Um dia critiquei, mas conversei depois com pessoas ligadas às atividades, que têm dando o seu sangue pela continuidade do “sonho realizado”. Não me resta outra coisa a não ser também ajudar a que ela cumpra a sua tão singela missão.
(Foto reproduzida do livro “Um Sonho Realizado”, de Padre Ágio Augusto Moreira, edição do autor, s/d, Crato-Ce., p. 32)


E para quem gosta, no nosso programa Compositores do Brasil de hoje, às 14 horas, na Rádio Educadora do Cariri (www.radioeducadora1020.com.br), o singular Zé Rodrix e suas músicas ritmistas e pra cima.


Bom fim de semana.




4 comentários:

Armando Rafael disse...

Parabéns Zé Nilton!
Pelas reminiscências...
E pela forma sutil de como você provou que é um dos fundadores da “Orquestra do Padre Ágio”.
Assim como tem aquela estrofe do samba:
“A nêga é minha, ninguém tasca eu vi primeiro!”,
você também pode dizer: “A honra (de fundador) é minha, ninguém tasca eu cheguei primeiro”...

Edilma disse...

Zé Nilton,

Que bela narrativa de uma historia, que bela iniciativa e perserverança.
Pessoas assim fazem a nossa historia acontecer.
Parabéns!

Abraço!

Zé NIlton disse...

Caro Armando,
Sei de seu entusiasmo pelo trabalho da Escola Villa-Lobos, da orquestra e das atividades desenvolvidas pela Solibel. Acho que temos que ajudar pela permanência daquele centro educativo em nosso meio.
Abraços

Zé NIlton disse...

Caríssima Edilma,
Obrigado pela postagem, e meus mais efusivos parabéns por levar tão longe a sua arte, que é a cara do Crato.
Sua obra chegou às portas da Europa, e Póvoa de Vazim é o luxo da cultura lusitana.
Excelente!