Em treze de setembro de 1921 nascia no coração dos Inhamuns uma das figuras mais ilustres que o Cariri teve no século XX e princípio do atual século. Falamos de Madre Feitosa, ou Maria Carmelina Feitosa, nascida em Tauá e criada em Arneirós. Filha de Crispim Morais e Maria Josina Feitosa, Madre Feitosa teve a sua terceira morada em Crato onde a encontramos até hoje cercada de festas pelo seu aniversário.
Não pelos laços de parentescos ou apenas pela grande amizade que minha família tem por ela, a verdade é que não teria oportunidade melhor para retornar a escrever nos blogs do Cariri que não os 90 anos de Madre Feitosa. Estive ausente do Rio desde a metade do julho passado e marco minha reestréia em companhia de uma grande figura.
São memórias, mas daquelas memórias que ficam mesmo quando o mais extremado esquecimento nos acontece. Era no quarto final dos anos 50 e fomos eu, minha irmã e minha mãe passar uns dias em Icó na companhia de uma tia que na ocasião morava ali. E o Icó causa impressão em qualquer um.
Foi ali que vi Madre Feitosa pela primeira vez, numa casa das irmãs de Santa Teresa, já guardando uma doçura que imaginei apenas efeito de sua religiosidade. Ela continua assim, uma fala mansa, gestual econômico e recatado e todos nós somos tomados de surpresa com a grande executiva da educação que ela é.
Madre Feitosa, pela duração de sua obra e pela grandeza das instituições que dirigiu, talvez seja uma das mais longevas dirigentes de ensino do Ceará. Não apenas no Crato ou somente no Cariri. E arrisco mais, talvez seja uma das dirigentes mais antigas em atuação no Estado, com escolas financeiramente equilibradas e que não cessam suas atividades.
Posso está enganado, mas Madre Feitosa, deva ser o dirigente em escola religiosa que mais tempo está em atividade, por estimativas não checadas, é possível que nenhum reitor do Seminário, diretor dos colégios religiosos, particulares ou públicos tenham superado a marca desta suave mulher construtora do futuro das gentes.
Madre Feitosa já tem “bisnetos” de seus alunos, e pensar que a longevidade e a dedicação desta mulher quebram o princípio básico da vida burguesa e capitalista. Quem imagina um “executivo” do ensino que não viva no luxo e com excedente de consumo. Aliás, se tornam educadores com este fito. Mas Madre Feitosa não. É uma questão religiosa por certo que é, mas é uma questão essencialmente humana, de caráter e ética que é devido a ela mesma.
Talvez que pelos pais e sua família esta personalidade tenha sido estimulada. Estive recentemente nas duas terras inhamunzeiras em que Madre Feitosa nasceu e passou a infância. Ali ainda percebi uma dignidade, uma postura educada como uma era de cavalheiros. Pessoas com pouca educação, mas com um trato humano tão respeitoso que dão engulhos quando os comparamos aos novos ricos em suas Hilux e a grosseria de um som rompendo a calma da vida.
Madre Feitosa, aceite minhas lembranças por este dia. Espero que leia este texto, embora sabendo da volumosa homenagem a que é centro no dia de hoje.
2 comentários:
Zé do Vale,
Sair dos umbrais do silêncio com um texto de tanta beleza, verdade e propriedade é no mínimo entusiasmante.
Madre Feitosa é um ícone de nossa terra que se destaca sobretudo pela luta incansável e pela imagem vigorosa de uma mulher de fibra.
Foi ela que me encaminhou ao que hoje sou e devo a ela meu caminho de retidão e minha corajosa batalha pela vida profissional...
Abraço, Zé...
Claude
José do Vale:
Li e gostei deste seu artigo, equilibrado, justo e veraz!
Assino embaixo tudo o que você escreveu.
Participei da Santa Missa rezada ontem à noite na Catedral de Nossa Senhora da Penha, pelos 90 anos de Madre Feitosa. O bispo de Crato, dom Fernando Panico, fez – na ocasião – uma prédica que reputo das mais felizes, entre todas as que ele fez ao longo de mais de dez anos como Pastor do Rebanho de Cristo no Cariri. O templo estava repleto. Presença das principais autoridades do Crato e do povo simples.
Após a missa houve a queima de fogos de artificio na velha Praça da Sé, para o deleite de todos.
São momento como aqueles – verdadeiras forças construtivas do bem – que elevam uma comunidade.
Armando
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