É tal a união e a interação entre a alma e o corpo, que tudo o que se passa numa reflete-se no outro. E como nesta terra o que nos é dado conhecer nos outros de imediato é o que eles mostram no seu aspecto físico, é através desse prisma que percebemos os traços do espírito.
Tudo no homem, quando bem interpretado, é indicativo de sua alma. Um simples gesto pode revelar um espírito autoritário ou débil. O andar frequentemente indica a resolução ou a inconstância da alma. E até o sono reflete a placidez ou a agitação em que se revolve aquele espírito humano.
Entretanto, se tudo no corpo humano é expressivo, nada o é tanto e tão admiravelmente como o rosto. Nele se refletem com ênfase as virtudes e os vícios da alma, a harmonia interna e as paixões, as alegrias e os sofrimentos. Sobretudo o olhar é que transmite com especial riqueza o que vem do espírito, tal como um eco faz identificar o timbre da voz que o emitiu.
Por isso Santa Teresinha, com aquela perspicácia suave e penetrante que é própria aos puros de coração, dizia que o rosto é espelho da alma.
Por isso Santa Teresinha, com aquela perspicácia suave e penetrante que é própria aos puros de coração, dizia que o rosto é espelho da alma.
Esta propriedade do rosto vai tão longe, que em alguns casos ele deixa transparecer não só as virtudes ou defeitos de uma alma, mas até a presença da benção de Deus. O Pe. Ribadenera escreve a respeito de Santo Inácio de Loyola, seu Fundador: “mesmo quando se calava, parecia que seu semblante inflamava os presentes e que o brilho de todo o seu rosto os abrandava e derretia com o divino amor”.
Impressionante por sua vez, é o discernimento que o Papa Leão XII teve do espírito de Lamennais, padre francês, analisando os traços de seu rosto.
O Pe. La Mennais (este era o seu verdadeiro nome), de grande inteligência, teve duas fases bem marcadas em sua vida pública. Numa primeira foi tido nos meios católicos como defensor da Religião, apologista brilhante. Pensou-se seriamente em nomeá-lo cardeal. Na segunda fase tornou-se um pregoeiro dos princípios revolucionários, foi condenado por Roma, apostatou do Catolicismo e morreu impenitente e desesperado em 1854.
No auge da primeira fase, em 1824, então com 42 anos e grande fama, Lamennais foi a Roma para uma audiência com o Papa Leão XII. Amigos do sacerdote intercediam junto ao Sumo Pontífice para conceder-lhe o chapéu cardinalício, e o Papa parecia inclinado a essa concessão. Tanto assim que cumulou-o de bondades, chegando a oferecer-lhe um apartamento no Vaticano, tendo ele mesmo em seu quarto, uma fotografia do sacerdote francês.
Pois bem. Eis o que Leão XII viu em Lamennais durante a audiência, segundo o próprio Papa contou alguns dias depois ao Cardeal Bernetti. Escreve o cardeal:
“O Santo Padre, com voz calma e quase triste, me disse: ‘Quando Nós o recebemos e conversamos com ele, ficamos tomados de espanto. Desde esse dia temos sem cessar, diante dos olhos, sua face de danado’.
“O Santo Padre me dizia isto tão seriamente, que eu fiquei muito surpreso. Sim – acrescentou o Papa, olhando-me fixamente – sim ,esse padre tem uma face de danado. Há algo de heresiarca marcado em seu rosto.
Seus amigos da França e da Itália quereriam para ele o chapéu de cardeal. Este homem é por demais possuído pelo orgulho, para depois fazer a Santa Sé arrepender-se de uma bondade que seria de justiça se se olhassem apenas suas obras da primeira fase. Mas agora considerai cada traço de seu rosto e dizei-me se não há nele um sinal visível da maldição celeste’.”.
(Carta do Cardeal Bernetti ao Duque de Laval-Montmorency, de 30-8-1824).
Seus amigos da França e da Itália quereriam para ele o chapéu de cardeal. Este homem é por demais possuído pelo orgulho, para depois fazer a Santa Sé arrepender-se de uma bondade que seria de justiça se se olhassem apenas suas obras da primeira fase. Mas agora considerai cada traço de seu rosto e dizei-me se não há nele um sinal visível da maldição celeste’.”.
(Carta do Cardeal Bernetti ao Duque de Laval-Montmorency, de 30-8-1824).
(Postado por Armando Lopes Rafael)
Um comentário:
Gostei dessa análise. Muitas vezes é assim que a gente decifra o outro. Pelas feições, pelo olhar...
e se o olhar é o espelho da alma...
Abraço,
Claude
Postar um comentário