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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Junto com Kadhafi quem mais morrerá? José do Vale Pinheiro Feitosa

De todas as conveniências e soluções que o assassinato de Muammar Kadhafi resultar, uma é inegável. Existe uma população armada pelas potências ocidentais, Europa, mais a Inglaterra e os EUA. A morte de Kadhafi foi uma ação de intervenção estrangeira na Líbia.

A intervenção estrangeira foi executada pelos povos mais envolvidos neste tipo de ação desde o século XV. A base do colonialismo é Européia e a estrutura do imperialismo é da junção pós-segunda guerra dos EUA com a Europa ocidental, até o fim da União Soviética.

A destruição física da Líbia promovida pela OTAN e com o armamento entregue aos rebeldes por ela não é um capítulo terminal de uma ditadura. Pelo contrário é o capítulo mais evidente do princípio de guerras em consequência da crise do capitalismo. Quem acompanhou o fim das colônias na África e os movimentos de libertação da Ásia bem sabe o quanto são processos destrutivos e pendulares. Situações políticas contraditórias se sucedem em hegemonia em questão de horas.

A morte de Kadhafi já deu o réquiem deste momento: o assassinato dos inimigos políticos do império. Só em 2011 os EUA e a Europa estiveram envolvidos em três grandes e evidentes assassinatos. Esta prática pode se ampliar de modo a tornar a política algo parecido com as máfias em luta. Nada impede, por exemplo, que um presidente americano ou europeu sofra atentado.

O outro lado é o cinismo que todo assassinato “mafioso” trás e o quanto afasta a sociedade da democracia e da construção de síntese nos ambientes contraditórios. Ora a morte comemorada do inimigo é a mesma comemorada pelo inimigo sobre nossos mortos. Quem não tem medida para evitar tais assassinatos, sabe disso tudo, resta-lhe o cinismo.

Querem observar algo cínico? A Arábia Saudita e o Marrocos, alguém tem visto alguma catilinária televisiva ou jornalista contra tais regimes? Está bem podem alegar que o povo não se encontra nas ruas, mas o Yemen? Qual a razão da sobrevivência do regime? Há uma aliança entre EUA e o regime, tai a morte eleitoral daquele líder da Al Qaeda. As imagens na televisão são absolutamente cínicas: a multidão na rua e o presidente restabelecido dos tiros levados, cercado por uma enorme assembléia de membros do regime.

Retornando ao efeito pendular e instável desta ordem. Como ficam os interesses da China, do Brasil e de muitos outros países que foram estimulados a investir na unidade territorial e produtiva da Líbia? Vão ter que pagar pedágio para Europeus e Americanos? E aí todo mundo vai aceitar barato tais medidas?

Quem acompanhou toda emergência do fim destes regimes fechados e a longo prazo, especialmente em populações ávidas por uma boa qualidade de consumo, sabe o quanto são instáveis. Existe em todo o norte da África, a rondar as forças em luta, a possibilidade que desta primavera logo surja um outono, com o crescimento de regimes religiosos fundamentalistas. A possibilidade de regimes autoritários de viés fascista aumenta muito nestes momentos. Além, é claro, uma desagregação nacional como ocorreu na Somália, por exemplo.

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