Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Folhas secas

- Claude Bloc -

Já era fim de tarde. Um sol laranja vigiava, no meu jardim, a areia e as pedras por onde eu andava descalça. Minha cabeça procurava em vão, entre as lembranças, os caminhos para onde os sonhos corriam, mas nunca os encontrava. Eles sempre estavam adiante. E eu pensava: Um dia os alcanço!
 De minha concha, observava o mundo pela janela e, aos poucos ia crescendo a vontade e a coragem de enfrentar o tempo. Saí devagar me esgueirando por entre a folhagem, escondida de outros olhares, rodopiando pela tarde ainda quente, sumindo pelos telhados. Pulando por sobre os muros.
A tarde me vê. Sinto que nem suspira pra me observar nessa rotina terrestre. Só ela me vê, mas fica muda. A rua se espicha entre casas e passa olhando o meu jardim onde a cidreira enrama. É nesse verde que cumpro minha pena diária, minha rotina.
Uma mulher varre as folhas secas... Bato as asas bem de leve. Ela nem me vê. Apenas espia a vida, como se o mundo fosse vazio. Nesse exato momento sinto o vento. Ele traz forte o cheiro maciço do manjericão e da malva. Embriago-me e deleito-me com os odores das plantas molhadas, para esquecer as criaturas duras desse mundo. Solto-me no ar, sigo o hálito da terra, o perfume das rosas.
De repente volto a reparar naquela mulher no meu jardim. Creio que sente cansaço e tenta guardar-me consigo, por entre seus pensamentos. Arrisco-me nos ares com a intenção de aproveitar as alturas enquanto meus rastros são tranquilamente apagados das flores cheiradas por mim. Aqui e ali, meus dedos tocam as poças d’água. O tempo dá um nó. A tarde vai findando. No jardim volto a pousar e a varrer as folhas secas. O sonho está despertando.
Boa noite!

Claude Bloc



2 comentários:

Edilma disse...

Claude,

Este é um dos textos mais belo que voce já escreveu.
Quem lhe conhece sabe que veio do fundo do coração que está sempre cheio de esperanças renovadas.
Bom dia!

Claude Bloc disse...

Obrigada, mana...

Gosto quando gostam do que escrevo e quando falam com sinceridade a respeito de minhas palavras.

Pena que por aí as pessoas considerem isso bajulação. Não sabem ter a sensibilidade necessária para distinguir um sentimento verdadeiro de uma simples necessidade de aparecer.

De você e para você essa amizade fraterna que nos faz melhores a cada dia.

Abraço,

Claude