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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Queremos um Rei! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A formação do povo judeu ocorreu através do agrupamento de famílias nômades que se uniam em clãs e depois em tribos. Para sobreviverem, esses grupos peregrinavam juntos, compartilhando suas crenças e costumes até se fixaram em áreas e espaços desocupados nas regiões montanhosas da terra por ele dita prometida.

As "Doze Tribos de Israel" foi provavelmente a mais bem sucedida e duradoura experiência socialista que a humanidade conheceu. Resistiu durante mais de duzentos anos aos ataques das cidades-estados, coisa que se mostrou improvável de ocorrer nas repúblicas ditas socialistas do século XX com relação ao poderio econômico e bélico formado pelo atual sistema capitalista hegemônico.

As tribos constituíam uma sociedade igualitária com partilha de bens, tendo como preocupação principal a sobrevivência dos seus membros. Esses gozavam dos mesmos direitos e tinham deveres iguais. Uma sociedade em que cada tribo tinha autonomia suficiente, não existia a figura de um poder centralizador, nem governo, nem câmaras legislativas, constituição, poder judiciário ou qualquer outro tipo de legislação que não a observância à lei de Javé, isto é: aos dez mandamentos. Não havia um exército constituído que pudesse defender as tribos dos constantes ataques dos exércitos das cidades-estados equipados com armas e carros de guerra na região que também era habitada por filisteus, amorreus, heteus, cananeus e outros povos fixados nas terras da Cisjordânia e Transjordânia no país de Canaã.

As tribos possuíam apenas um "conselho de anciões" formado pelos chefes dos clãs que dirimia as dúvidas entre pessoas e entre as próprias tribos e mediava pequenas questões. Na defesa dos ataques e invasões inimigas existia a figura do "juiz", bem diferente das funções dos juízes atualmente existentes. Nas tribos, os juízes eram líderes que surgiam espontaneamente quando alguma tribo era invadida por povos inimigos. Eles lideravam a reação e a luta em defesa do povo. Entre os mais destacados juizes estão Otoniel, Débora, Barac, Gedeão, Jefté, Sansão e o profeta Samuel.

Numa sociedade exclusivamente rural, a terra era propriedade de todos e distribuídas por sorteio. Não havia cobrança de impostos, taxas e outros tributos necessários à sustentação do poder. Aqueles que se colocavam à serviço da comunidade o faziam em benefício dos membros de cada tribo. Todos trabalhavam e o excedente da produção individual era distribuído igualmente com aqueles que produziam menos, devido às constantes épocas de estiagem ou à infertilidade dos solo. Essa partilha se verificava inclusive entre as tribos cujas colheitas não fossem suficientes.

As tribos como organização social entraram em crise devido aos constantes ataques promovidos pelos reis das cidades-estados, o surgimento do arado, que possibilitou o aumento da produção agrícola e o surgimento de classes ricas. Com o advento da pecuária bovina, as terras antes próprias para o plantio de grãos foram destinadas à produção de pastagens. Essas causas fizeram com que os mais ricos exercessem pressões junto ao profeta Samuel no sentido de que fosse escolhido um rei para Israel. À principio o profeta foi contra a monarquia. "Vocês querem um rei? Pois este é o direito do rei que governará vocês: ele convocará os filhos de vocês para cuidar dos carros e cavalos dele, e correr à frente do seu carro. Ele os obrigará a ararem a terra dele, a fazerem a colheita para ele, a fabricarem armas de guerras e as peças dos seus carros. As filhas de vocês serão convocadas para trabalharem como perfumistas, cozinheiras e padeiras. Ele tomará os campos, as vinhas de vocês, e as dará aos oficiais e ministros. Os melhores servos e servas, os bois e jumentos de vocês ele os tomará para que fiquem a serviço dele e cobrará, como tributo, a décima parte dos rebanhos. E vocês mesmos serão transformados em escravos dele. Quando isso acontecer, vocês se queixarão do rei que escolheram. Nesse dia, porém, Javé não dará nenhuma resposta a vocês." (1Sm 8, 10-18)

O povo não deu ouvidos ao profeta: "Não tem importância. Teremos um rei que nos governará e seremos como as outras nações. Nosso rei nos governará, irá à nossa frente para comandar nossas guerras." Era o fim do sistema das tribos em Israel. A monarquia em Israel iniciou-se com rei Saul, solidificou-se com o Rei Davi e teve seu apogeu com o Rei Salomão.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Fonte de Pesquisa: Bíblia Sagrada - Edição Pastoral - Paulus Editora e "Coleção Bíblia em Comunidade", Vol 4 - As famílias se organizam em grupos, Edições Paulinas, 4a Edição - 2004.

8 comentários:

Claude Bloc disse...

Carlos,

O resultado de sua pesquisa na elaboração desse texto não deixa a dever aos melhores historiadores.

Parabéns!

Muitas bênçãos a você e a Magali no ano que se inicia.

Claude

Edilma disse...

Carlos,

Parabéns pelo exelente texto!
Espero continuar digna da sua sincera amizade.
Votos de um Feliz Ano Novo a voce e Magali.

Abraço !

Armando Rafael disse...

- 1 -

Caro Carlos:

Parabéns! Seu artigo profundo e que merece uma reflexão.
Se Deus quis que os homens vivessem em sociedade – e se a sociedade necessita de um governo – podemos afirmar que todo o poder vem Deus. A antiga sociedade judaica tinha um governo teocrático. Este seria, em tese, o governo ideal de uma sociedade.
Aliás, o Papa Leão XIII ensinou: “No tocante à origem do poder político, a Igreja ensina com razão, que o poder provém de Deus. É o que ela achou expresso com evidência nas Sagradas Escrituras e nos monumentos da antiguidade cristã”. (cfe. Encíclica “Diuturnum Illud” de 29-6-1891, “Documentos Políticos, pags.112-113)

“É por Mim que os reis reinam, é por Mim que os soberanos mandam, que os árbitros do mundo fazem justiça” (Prov.8,15-16)

Armando Rafael disse...

- 2 –

Ao optar por um governo monárquico (abrindo mão do governo teocrático) os judeus certamente saíram perdendo. Mas com a Monarquia ainda conservaram -- àquela época -- uma forma de governo melhor do que a atual republicana, esta colocada em prática pelos erros lançados através da sangrenta Revolução Francesa, a qual disseminou -- mundo afora -- os erros do naturalismo e laicismo, ao pregar, erroneamente, que não é em Deus – e sim no povo – que se deve buscar a origem e fundamento exclusivo de todo o poder.

Voltemos aos ensinamentos de Leão XIII:
“Os que devem governar a coisa pública podem ser eleitos, em determinadas circunstâncias, pela vontade e juízo da multidão, sem que a doutrina católica se oponha a isso. Tal eleição apenas designa o governante, porém não lhe confere a autoridade de governar. E o poder não é entregue à maneira de um mandato, mas apenas é estabelecida a pessoa que exercerá tal poder”. ( Cfe. Encíclica “Parvenu”,de 19-3-1902, Vozes, Petrópolis, 2ª ed. 1952—pags. 11-12)

Armando Rafael disse...

-- 3 –
Na atual Constituição Brasileira no seu art. 1º (como aliás as anteriores constituições republicanas de 1934, 1937, 1946 e 1967) consta: “todo o poder emana do povo”.

Trata-se de uma verdadeira profissão de fé laica, sem nenhum alcance efetivo para garantir as liberdades populares. Uma prova do que afirmo? Nesses 120 anos de República o Brasil tivemos 55 anos de ditadura e estados de sítio/emergência, com suspensão de garantias constitucionais; O Congresso foi fechado “manu militari” 6 vezes; vivemos sob duas longas ditaduras (a de Getúlio Vargas por 15 anos; e a dos militares por 20 anos; num total de 35 anos). O que manteve efetivamente a República foi o cacete e o fusil, pois tivemos, neste período, mais de dez mil pessoas com direitos cassados; censura à imprensa; fechamento de sindicatos; presos políticos desaparecidos; estados de sítio; 1 presidente suicidou-se durante uma crise política; 2 foram impedidos de tomar posse; foram depostos à força; 3 revoluções: de 1893, 1930 e 1964; 7 constituições; centenas de emendas constitucionais; um maço de “atos institucionais e por aí vaí...

“todo o poder emana do povo”? Isso entra em franca contradição com o preâmbulo da Carta Magna no qual é invocado o Nome Santo de Deus.

Armando Rafael disse...

--- 4 --

E para finalizar:

Qual a melhor forma de governo?
São Tomás de Aquino consagra a essa questão cinco capítulos de sua obra “De Regimine Principum”. Nos comentários a Aristóteles e na sua “Suma Teológica” também escreveu sobre o mesmo tema.

E em síntese, o que diz o doutor da Igreja:? “A forma de governo ideal é a monarquia temperada com elementos aristocráticos e democráticos”.

Esquematizemos o que disse o Doutor Angélico: “Das três formas puras ou simples de governo – monarquia, aristocracia e democracia – a primeira é de si a melhor; a) porque é a mais apta para conservar a paz e a unidade; b) porque permite um melhor aproveitamento das forças sociais; c)porque imita de modo mais perfeito o governo divino; d)porque está mais de acordo com a natureza; e)porque assim o demonstra a experiência da História”.

Novamente parabéns pelo seu escrito.

Cordial abraço e um feliz 2012.

Armando

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

À Claude e Edilma.

Muito obrigado pelas palavras de incentivo de vocês. Fiquei feliz por terem gostado!
Desejo também um ano de 2012 de muitas realizações.
Felicidades!

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Caro Armando

Muito obrigado por ter nos dado lições tão bonitas e edificantes quanto essas que você transcreveu. Concordo com você que todo poder emana de Deus e não do povo. O ser humano, apesar de ter conquistas tão profundas é incompleto por si mesmo e depende do poder divino em todos os seus atos. Sem o sopro do Espírito Santo nada faremos.
Agradeço também suas palavras de incentivo.
Um grande abraço!