Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sábado, 25 de julho de 2009

Vida de Violeiro


Vida de Violeiro

Onde nasci me falavam
(desde que me entendo gente)
de famosos cantadores,
violeiros repentistas,
e eu pretendia ser um.
Dentre os mais considerados,
Inácio da Catingueira,
um gênio no desafio,
e o grande Cego Aderaldo,
a quem Baden celebrou
nas notas de um ponteado.
Vejam só, que ricas rimas,
o mundo perdeu de mim:
nem viola, nem repente,
e, como diz um parente,
nem retórica, nem dim dim.
Mas,
(e graças a Deus em tudo,
pra tudo, se acha um mas)
quando eu tinha quinze anos
escrevi em redondilha
sextilha que diz assim:
“Eu tinha catorze anos
quando minha mãe nasceu,
sol brilhou sobre o seu medo
e espiou dentro do meu,
eu tinha catorze anos
quando minha mãe morreu”.
Meu pai, hoje vos confesso,
naquele tempo me dava
um lugar de acompanhante
no coro dos enjeitados:
(isso era o que eu achava)
lugar para mim, jamais
de “puxador” de bendito,
um posto alto demais.
No entanto
(graças a Deus inventaram
conjunções adversativas),
consegui que aquele verso,
por incrível que pareça
abrisse os olhos do velho
ao talento que surgia:
- Quem sabe puxei aos Sátiro!,
ramo antigo da família
que cultivava o repente,
tinha alguns que eram letrados,
dizem, tão inteligentes,
porém estudaram tanto
que na plena juventude
doidos varridos ficaram.
Em suma, sem o saber,
meu pai me reconhecia,
quem sabe, até me incluía
na linha do Zé Limeira,
o poeta do absurdo,
e para brindá-lo agora
transcrevo um seu breve estudo:
“Nessa vida de viola
vivo pra diante e pra trás,
nunca mais tive alegria
depois que perdi meus pais,
minha vida é de caboclo,
quatro é muito, cinco é pouco,
dez não dá, sete é demais”.

Assis Lima

3 comentários:

socorro moreira disse...

Mestre Assis Lima,


"...Ninguém aprende samba no colégio", mas o exercício da rima faz o verso.
Ficamos muito felizes com a sua adesão ao nosso coletivo.
Imagino o que será tantas sensibilidades soltas , trocando impressões de vida !

Chegou com a viola na mão, e a trova, na ponta da língua.Chegou encantando...Pena que a resposta seja tímida.

Seja bem vindo !


Abraços,

Socorro Moreira

Claude Bloc disse...

Com a viola no saco
Canto a saudade, o lamento
Seguindo na mesma estrada
Lapidando o pensamento.

Não sei se diga em verso
Tudo o que quero dizer:
Seja bem vindo ao BLOG
Já contamos com você.

Agradecemos sua presença.
Sua colaboração engrandece nosso blog coletivo !

Abraço,

Claude

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

E o mundo não é para se ter inveja. Um Francisco de Assis é como uma parte substancial daquilo que nos achamos. De uma parte nossa não temos medo, inveja, ou disputa, sobretudo plenitude. Pois nem aos quinze anos ou aos sessenta poderia deixar de pensar como estes versos belíssimos:

“Eu tinha catorze anos
quando minha mãe nasceu,
sol brilhou sobre o seu medo
e espiou dentro do meu,
eu tinha catorze anos
quando minha mãe morreu”.