(Essa é para a amiga Claude explicar. )
O Pavão do Mestre
O Pavão do Mestre é uma narrativa cantada, que aprendi com uma pessoa muito querida que nasceu no Inhamuns, precisamente na cidade de Aiuaba. Ela cantava "O Pavão do Mestre" e nós, crianças, ficávamos entorpecidos com a triste história de Antoninho. Era uma maneira que Cacun, senhora assim carinhosamente chamada, conseguia nos deixar quietos, ou melhor, em estado de choque. Cresci e a historinha do Pavão do Mestre e Antoninho me acompanhou. Por curiosidade e saudade, fui atrás das origens da história e verificar se havia enredo parecido em historinhas para crianças que fizesse parte de alguma coletânea nesse mundão. Para minha supresa, não encontrei nada parecido, encontrei quase igual! "O pavão do mestre" é uma narrativa portuquesa, originária da cidade de Santiago do Cacém, região do Alentejo. É sede de um dos maiores municípios de Portugual. Essas historias contadas e reproduzidas através do anos costuma modificar-se, e vejam que interessante: de Portugual para o Ihamuns, o que virou O pavão do mestre:
O Pavão do Mestre (Portugal)
Um dia à tarde, no Porto/Um caso se praticou/O ladrão do professor/Um lindo rapaz matou/Pois ele tinha um pavão/E um dia o encontrou morto/Logo disse para si/Isto foi algum garoto/Dos que eu trago na lição/Antoninho assim qu’ouviu/Tremeu-lhe o coração/
Bom dia ó meu paizinho/Bom dia lhe venho dar/Matei o pavão ao mestre/Trato-lho de o ir a pagar.
Bom dia senhor professor/Bom dia lhe venho dar/Meu filho matou-lhe o pavão/Estou pronto para lho pagar/
Mande seu filho à escola/Cá tem a mesma entrada/E com respeito ao pavão/Ó meu amigo não é nada/ Vai à escola meu filho/Que lá tens a mesma entrada/Falei com o senhor professor/Ele disse que não era nada/Deite-me a benção meu pai/Que não lhe peço mais nada/
Amanhã por estas horas/Minha cabeça degolada/Assim que entrou para a aula/Logo o retirou da lição/Foi-lhe cortar a cabeça/Foi pô-la ao pé do pavão.
Ó estudantinhos da aula/Vistes por lá meu Antoninho?/
Lá o vimos, lá estava ele/Com seu corpo aos saltinhos/
Seu pai assim que ouviu/Encheu-se de raiva e terror/Foi pegar no seu revólver/Foi matar o professor/
Boa tarde senhor regedor/Venho-me entregar à prisão/Matei o senhor professor/Com um tiro no coração/
Vá-se embora meu amigo/Que você tem toda a razão/Por causa de um pavão/Lá está seu filho num caixão.
Recolhido em: Santiago do Cacém
Por: José Paulo
O Pavão do Mestre (Inhamuns)
O pavao tava voando por de cima de um balcao/atirei uma pedrinha o pavao caiu no chão/atirei uma pedrinha o pavao caiu no chao/menino pegue o pavão nao deixe o pavao voar/ele e´ verde amarelo parece ser liberal/papai eu nao te conto, papai eu vou te contar/matei o pavao do mestre acho bom o senhor pagar/bom dia senhor mestre como vai como passou/vim pagar o seu pavão que Antonino matou/o pavão nao e´nada não énada não senhor/quero que diga a Antonino amanhã venha estudar/mamãe eu não te digo mamãe vou te dizer/amanha eu vou pra aula sabendo que vou morrer/bom dia senhor mestre bom dia cabra ladrão/hoje vou fazer contigo o que fez com meu pavão/ menino que vem da aula dá noticia de Antonino/Antonino ficou preso coraçao pequenino/o velho entrou na sala com sua pistola na mao/atirou no velho mestre e acabou com a geraçao/atirou no velho mestre e acabou com a geraçao.
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Maia Amélia Castro
6 comentários:
Maria Amélia,
Você já explicou tudo. Restou-me apenas a vontade de voltar atrás no tempo e ouvir de novo a história da boca do contador.
Sentar à sombra de um pé-de-juá e deixar correr o tempo, lentamente, devagar...
Abraço,
Claude
Meu Deus, eu não to acreditando...
Eu cresci ouvindo esta história. Um pouco diferente, mas é essa aí.
Minha bisavó quem contava e cantava. Ela morreu ha alguns meses e eu lembrei disso, porém nao me recordava da história, so alguns pedaços. Resolvi procurar na net e olha aí... tive sorte.
Eu também tive saudade. Eram minhas irmãs mais velhas que cantavam; certamente aprenderam na escola. Morávamos no interior do Estado do Espírito Santo, e eu, com 5 ou 6 anos de idade, ainda não frequentava a escola, mas passei a odiar a figura do mestre. Hoje, com 76 anos, moro em Minas Gerais. Poucos anos atrás, saudoso da infância, lembrei-me de pesquisar na internet a história de "Antoninho e o pavão". Frustrei-me, nada encontrei. Inconformado, fiz nova pesquisa outros anos depois, e lá estava. Versões diferentes. Imprimi a que achei mais bonita e que mais se aproximava daquela que minhas irmãs cantavam. Porém, quando tento cantar, em certo ponto sinto a voz completamente embargada. Coisas da velhice. - Rio Novo, MG, 05/05/2011. Josias R. Barcellos.
Sempre chorei ouvindo minha vozinha cantar essa história. Ela ria, me acariçiava e dizia que era apenas uma história. Crescir pedindo para ela copiar a letra e ela sempre deixava para depois. Quando ela "perdeu a visão" lastimei, e disse que agora ela cantaria a música que eu copiava a letra mas, também deixei para depois. Assim, minha vó perdeu a voz, faleceu e eu fiquei apenas com a lembrança de alguns versos e, a culpa por não ter memorizado ou copiado a primeira canção que marcou a minha vida.
Obrigada por consegir resgatar algo que pensei nunca mais rever...
Gilvânia
Não tem como não se emocionar, que surpresa gratificante encontrar essa história novamente que marcou minha infância por essa história contada da minha mãe, que ouviu da minha vó que já dorme em nosso Deus. A música da narrativa e tão triste quanto o texto e igualmente emocionantes de tal modo que nos prende a vagar no imaginário... saudades eternas...
Minha bisavó me deitava no colo e ficava mechendo no meu cabelo enquanto cancatolava a historia, e até hoje quando vou visita-la peço para contar a historia. ela nao se lembra dela inteira mas eu jamais esquecerei! muito emocionante!
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