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Seu Manuel Justino era um descendente de escravos que chegou à Serra Verde nos anos 50/60. Era um homem sério e correto e tornou-se muito considerado na fazenda pela sua conduta reservada e respeitosa. Tinha uma postura altiva e ao mesmo tempo, sempre tratava as pessoas com uma humilde reverência denotando a dignidade herdada dos seus ancestrais. Quando o vi pela primeira vez, ele me perguntou: “qual é a sua graça?” Achei interessante a abordagem diferenciada e respondi meu nome prontamente. Logo nasceram os elos de amizade entre os Justino e os meus. Eu gostava de ouvir suas palavras, suas histórias. Parecia ter uma sabedoria inata. Tinha um vocabulário peculiar, diferente das pessoas que eu estava acostumada a ouvir por ali. Achava engraçado ele dizer: “as filhas de seu Hubert ‘não têm bondade’...” e para quem não conhece a expressão, isso significa apenas “ser simples” tratar as pessoas sem orgulho nem arrogância.
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Seu Manuel era casado com Dona Ritinha e trouxe na bagagem três filhos apenas (apenas porque as proles nessa época raramente constavam de menos de dez filhos): Petronila, Augusto e Maria (que por não ter o juízo muito “aprumado” foi apelidada de Maria Fulô).
Seu Manuel era casado com Dona Ritinha e trouxe na bagagem três filhos apenas (apenas porque as proles nessa época raramente constavam de menos de dez filhos): Petronila, Augusto e Maria (que por não ter o juízo muito “aprumado” foi apelidada de Maria Fulô).
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Ao chegar, assumiu a carpintaria da fazenda. Fazia os serviços necessários dentro do âmbito de seu ofício. Era ele que reparava as gamelas do engenho, fabricava as formas para a rapadura e as pás de madeira para mexer o mel. Claro, seu trabalho não se limitava apenas a essas necessidades do período da moagem, pois ele era hábil e conseguia realizar muitos outros serviços trabalhando a madeira.
Ao chegar, assumiu a carpintaria da fazenda. Fazia os serviços necessários dentro do âmbito de seu ofício. Era ele que reparava as gamelas do engenho, fabricava as formas para a rapadura e as pás de madeira para mexer o mel. Claro, seu trabalho não se limitava apenas a essas necessidades do período da moagem, pois ele era hábil e conseguia realizar muitos outros serviços trabalhando a madeira.
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Seu Manuel, era também um cristão fervoroso. Era sempre chamado para as novenas e renovações que se realizavam nas casas dos fiéis, espalhados pela fazenda. Rezava e cantava os “benditos” com sua voz forte e grave. Foi por muito tempo o principal “rezador” das renovações, o mais requisitado. Conhecia aqueles manuais e aquelas rezas de cor e salteado e orientava sobre os cânticos que seriam entoados para tal e tal santo a ser reverenciado ou entronado. As principais renovações eram no dia do Coração de Maria e do Coração de Jesus. (A nós descei Divina Luz/ A nós descei Divina Luz/Em nossas almas acendei/O amor, amor de Jesus...) E na casa de “Mãe Cãida” (Cândida) a comemoração terminava com bolo de puba, enraivado, sequilho e filhós.
Seu Manuel, era também um cristão fervoroso. Era sempre chamado para as novenas e renovações que se realizavam nas casas dos fiéis, espalhados pela fazenda. Rezava e cantava os “benditos” com sua voz forte e grave. Foi por muito tempo o principal “rezador” das renovações, o mais requisitado. Conhecia aqueles manuais e aquelas rezas de cor e salteado e orientava sobre os cânticos que seriam entoados para tal e tal santo a ser reverenciado ou entronado. As principais renovações eram no dia do Coração de Maria e do Coração de Jesus. (A nós descei Divina Luz/ A nós descei Divina Luz/Em nossas almas acendei/O amor, amor de Jesus...) E na casa de “Mãe Cãida” (Cândida) a comemoração terminava com bolo de puba, enraivado, sequilho e filhós.
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Sua presença na fazenda foi sempre suave. Meus irmãos gostavam de visitar seu Manuel na carpintaria e também de ouvi-lo. Contava histórias e cantava. Cantava e contava histórias. E mesmo assim seu trabalho ia rendendo no prumo da madeira. Cepilho pra cá, serrote pra lá, formão pra cá, cepo pra lá, as toras aos poucos iam sendo modeladas...
E sua voz ecoava pela ilharga da ladeira:
“Serra, serrão
Madeira, João
Nasce da terra,
Nasce do chão.”
Texto e foto (escaneada) por Claude Bloc
Sua presença na fazenda foi sempre suave. Meus irmãos gostavam de visitar seu Manuel na carpintaria e também de ouvi-lo. Contava histórias e cantava. Cantava e contava histórias. E mesmo assim seu trabalho ia rendendo no prumo da madeira. Cepilho pra cá, serrote pra lá, formão pra cá, cepo pra lá, as toras aos poucos iam sendo modeladas...
E sua voz ecoava pela ilharga da ladeira:
“Serra, serrão
Madeira, João
Nasce da terra,
Nasce do chão.”
Texto e foto (escaneada) por Claude Bloc
6 comentários:
Claude,
Para um leigo, poderia me explicar on que vem a ser bolo de pubá, enraivado e sequilho?
Obrigado,
Cesar Augusto
Claude, não falei!
Ninguém sabe quem conta melhor esta história, se as palavras,se a foto! Se tirasse a foto,
viajava-se numa linda imagem e não haveria outra melhor do que esta! Si tirasse o texto, a foto contaria uma linda história: A justa história de Seu Justino!
Abraços
Eita mulher danada !
E preciso dizer mais ?
Abraçossssssssss
Claude
Neste texto me senti criança no São José, aí pelos anos 50. E relembrei os ínumeros "Mané Justinos" existentes nesse nosso sertão nordestino.
Abraços
Claude,
Só agora pude ler o seu texto, pois ontem o dia foi para consertar o nosso computador.
O seu texto nos toca muito, pois quem convive com o homem do campo sabe como ele tem sabedoria, fé solidariedade e partilha com os outros. As pessoas do campo nos dão grandes licões, sem nunca ter cursado uma universidade.
Abraços
Magali
Claude
A idade vai pregando umas peças na vida da gente. Imagine só que quando comecei a passar os olhos no texto, veio uma pequena recordação de algo que se passou na minha vida, e não consigo pegar o fio da meada. Eu só sei que existia o Manuel Justino, e fico a bater, Manuel Justino, Manuel Justino...............................se Deus quizer ainda recupero esse pedaço da memória.
Obrigado por dar esse pontapé inicial.
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