"Nunca chamem ninguém de senhor, pois ninguém é senhor de ninguém"
Carlos Lamarca
Carlos Lamarca nasceu no dia 27 de outubro de 1937, no bairro do Estácio, zona norte, do Rio de Janeiro. Seu pai, Antônio Lamarca era sapateiro, e sua mãe, Gertrudes, dona de casa. Lamarca tinha seis irmãos. Desde criança era um homem decidido e sempre teve liderança nas brincadeiras com os outros garotos. Cursou o primário na Escola Canadá e o ginasial no Instituto Arcoverde, sendo o único único dos filhos a chegar a ter curso superior.
Em 1947, Carlos Lamarca ingressa na Escola Preparatória de Cadetes em Porto Alegre e se mostra um cadete muito aplicado. Em 1957, é transferido para Rezende, para Academia Militar de Agulhas Negras. Na Academia, Lamarca lê o jornal "A Voz Operária", do PCB, (esse jornal era colocado debaixo dos travesseiros dos cadetes escondido) e começa a se simpatizar com as idéias comunistas. Em 1958, Lamarca fica noivo de Maria Pavan, uma amiga de infância. Em 1959 ainda aspirante e contra o regulamento, casa-se secretamente com Maria, que já esperava o primeiro filho. Lamarca e Maria vão morar no campo do Santana no Rio de Janeiro e no dia 5 de maio de 1960 nasce César Lamarca.Ainda em 1960 Lamarca é declarado oficialmente aspirante, e vai servir em São Paulo, no 4º Regimento de Infantaria em Quitaúna, Osasco. Em 1962 vai servir como segundo tenente nas forças da ONU, na ocupação do canal de Suez, no Oriente Médio. No Suez, Lamarca começa a tomar consciência da pobreza do povo Árabe e compara a situação do povo Árabe com a do povo brasileiro. Nessa época Maria Pavan já estava grávida novamente; a criança nasce em outubro de 1962 e se chama Cláudia. Em 1963, volta ao Brasil, quando as idéias comunistas vão ganhando mais força em Lamarca através da leitura de clássicos marxistas. Lamarca serve até 1965 na 6ª companhia da polícia do Exército, em Porto Alegre. Lamarca considerava Leonel Brizola um autentico líder popular, admirou a sua tentativa de resistência no Rio Grande do Sul e deplorou a atitude de Jango considerando-a covarde. Lamarca jamais concordara com o golpe militar, e não suportava ser guardião de presos políticos. Numa noite de sábado, em dezembro de 1964, promoveu a fuga do Capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Dandt que era acusado de atividades subversivas. Foi aberto um inquérito para apurar os responsáveis, mas o inquérito não deu em nada.
Após esse acontecimento Lamarca pede transferência para o 4º regimento de Infantaria em Quitaúna. Em Quitaúna Lamarca reencontra velhos amigos: o cabo José Mariane, o sargento Darcy Rodrigues, todos eles de oposição dentro do Exército. Em Quitaúna Lamarca organiza um clube, um local para que os militares de oposição pudessem discutir política dentro do Quartel. Mariane, Darcy e Lamarca estavam convencidos da necessidade de estruturar o foco guerrilheiro numa área rural. Lamarca se une ao grupo de revolucionários do 4ª Regimento, e logo a rede política se expande e chega até outras corporações. Apesar da atividade política Lamarca segue a risca suas obrigações no exército, tornando-se um oficial exemplar e se mostrando um excelente atirador. Perante os soldados Lamarca era severo mas amigo, sempre procurando ajudá-los e chegando até a emprestar dinheiro, mas perante os outros oficias era o inverso. Em 25 de agosto de 1967, Carlos Lamarca é promovido a Capitão. Nesse ano ele retoma os estudos sobre marxismo, o trabalho político que desenvolve com os outros militares "revolucionários" vai prosperando, e a sua idéia de guerrilha se consolida em seus planos.
Em 1967 Lamarca sente muito a morte de Che Guevara e diz "perdemos um dos maiores líderes internacionalistas mas a vida é assim: ou se morre ou se vence. Che Guevara morreu, mas deixa sua semente, raízes que não morrerão".
O ingresso na VPR e a VAR-Palmares
Em 1968 Lamarca procura uma organização que tivesse em seus planos deflagrar guerrilha e levar o povo ao poder. Entra em contato com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), com Carlos Marighela, ex-dirigente do PCB e principal comandante da ALN (Aliança de Libertação Nacional), e encontra-se também com a direção do PC do B. Lamarca e o sargento Darcy ingressam na VPR em dezembro de 1968. Lamarca foi convencido pelos dirigentes da VPR que após roubar as armas do quartel a VPR teria um local para iniciar a guerrilha rural. O sargento Darcy desviava do quartel munição e granadas, já que ele falsificava documentos sobre o gasto de munição nos treinamentos. Três dias antes de Lamarca roubar as armas do quartel, militantes da VPR são presos, e por saberem os nomes de Lamarca, Darcy e Mariane os três resolveram tirar as armas do quartel imediatamente. Então no dia 24 de janeiro de 1969 Lamarca entra com sua Kombi no quartel de Quitaúna e retira 63 fuzis FAL, três metralhadoras INA e munição. Em certo momento, dois sargentos perguntam a Lamarca para que as armas estavam sendo retiradas, e ele responde que é para um treinamento de tiro, e nesse momento Lamarca passa a viver na clandestinidade. Na verdade a VPR ainda não tinha condição de fazer a guerrilha, como havia dito.
Maria Pavan e os dois filhos saem do Brasil por segurança e vão morar em Cuba até 1969. Após o roubo ao quartel Lamarca passa a viver em aparelhos em São Paulo. Três meses após o roubo, Lamarca participa de sua primeira ação armada, ocorrida no dia 9 de maio de 1968, quando a VPR assaltou dois bancos, o Mercantil e o Itáu, ao mesmo tempo. Durante o assalto Lamarca vê o guarda civil Orlando Pinto Saraiva apontar a arma em direção a Darcy e então dispara e acerta a nuca do guarda. Mesmo participando da luta armada Lamarca desejava a guerra de guerrilhas no campo. A rotina de Lamarca se mantia, ele era obrigado a passar o dia todo escondido em apartamentos da VPR, com isso ele ocupa seu tempo estudando marxismo lendo sobre Trotsky, Lenin, Mao, Che Guevara, já que ele nesse momento ainda não possuía grandes conhecimentos teóricos.
Lamarca enfrenta outro problema; além de não existir a área de guerrilha, a VPR a partir de janeiro de 1969 estava passando por um momento difícil após a prisão de vários militantes. Devido à crise, a VPR convoca um congresso para se discutir as próximas ações. Nesse congresso Lamarca é nomeado dirigente, ele aceita esse cargo a contra gosto, pois perseguia somente o papel de líder da guerrilha rural e não de uma organização tipicamente urbana onde seria obrigado a dar respostas a problemas não militares. Já como dirigente Lamarca conhece Iara em abril de 1969. Era uma militante que passara por algumas organizações e que no inicio de 1969 tinha a função de manter contato ente a VPR e a Colina. Em junho de 1969 a VPR se une à Colina e forma VAR- Palmares. As duas tinham divergências, mas possuíam um ponto em comum, a luta armada através da guerrilha, para uma futura união das duas organizações. Lamarca e Iara se apaixonam, mas Lamarca tenta lutar contra esse sentimento, já que não seria justo com Maria que estava fora do país. Lamarca reluta em ficar com Iara, mas no meio de 1969 ele assume seu relacionamento com Iara e passam a viver juntos sempre que possível.
No dia 18 de julho de 1969 Lamarca e seus companheiros roubam o cofre da casa da amante de Adhemar de Barros, um político corrupto, e quando o abrem vêem uma montanha de dinheiro, um total de 2 milhões e 500 mil dólares. Os militantes tiveram que trocar os dólares também no mercado negro, já que as casas de cambio freqüentemente eram vigiadas. Cada militante recebeu 800 dólares para despesas, uma parte foi utilizada para preparar novas ações, uma fortuna foi gasta para manter os militantes na clandestinidade e 600 mil dólares caíram nas mãos da repressão.
A nova VPR
Entre Julho e Agosto de 1969 se realiza o congresso da VAR-Palmares. Desse congresso, Lamarca, Iara e outros companheiros saem da VAR por causa de entre outros motivos a relutância da VAR em se dirigir ao campo para guerra de guerrilhas. Com isso Lamarca refunda a VPR absorvendo vários dissidentes da VAR. A nova VPR é fundada oficialmente no final de 1969, comprando um sítio no vale do Ribeira que seria usado para treinar os militantes para guerrilha. Em janeiro de 1970 já havia chegado todos os militantes que receberiam treinamento, inclusive Iara. Mas um sério distúrbio ginecológico hormonal fez com que Iara fosse obrigada a abandonar o campo de treinamento.
Após o treinamento, o plano seria enviar alguns militantes para duas regiões do nordeste para desencadear a guerra de guerrilhas, mas a prisão de Mário Japa, dirigente da VPR que conhecia a localização do sítio de treinamento, fez com que se desmobiliza-se parcialmente o campo de treinamento, já que Mário estando preso e sofrendo torturas poderia entregar o campo. Preocupados com a vida de Mário Japa a VPR decide seqüestrar o cônsul do Japão. Com o seqüestro, Mário e outros companheiros são soltos, mas a repressão continua a prender vários militantes, e dois desses militantes delatam a área de treinamento. Lamarca ao saber da delação, inicia a evacuação da área. Oito companheiros saem do campo de treinamento, nove permanecem, eram eles: Lamarca, os ex-sargentos Darcy Rodrigues e José Araujo Nóbrega, Gilberto Faria Lima, Ioshitante Fujimoto, Edmauro Gopfert, Diogenes Sabrosa, o ex-soldado Ariston Lucena e José Lavenchia. Os guerrilheiros estavam escondidos em áreas perto do campo principal. Lá pelo dia 22 de Abril já havia 1500 homens à procura dos guerrilheiros, com a ajuda de vários helicópteros e aviões com pára-quedistas. José Lavenchia e Darcy Rodigues são presos pelo exército no dia 27 de Abril, e os outros guerrilheiros continuavam a fugir. Lamarca e seu pequeno grupo se mostram extremamente eficientes contra o exército. José Araujo Nobrega e Edmauro também são presos pelo exército. No dia 8 de Maio, Lamarca, num confronto consegue render um tenente, dois sargentos, dois cabos e doze soldados, e lê os termos de rendição para o tenente:
1- os guerrilheiros não fuzilariam ninguém;
2- os feridos seriam atendidos, facilitando o transporte dos mesmos;
3- os guerrilheiros apenas trocariam algumas armas sem expropriar nenhuma;
4- reabasteceriam de munição as armas;
5- O tenente levantaria o bloqueio do exército em Sete Barras (cidade próxima).
O tenente concordou com os termos só que não ordenou o levantamento do bloqueio, fazendo com que Lamarca e seu grupo caíssem numa emboscada. Os guerrilheiros conseguem fugir da emboscada e decidem executar o tenente, afinal, ele não havia cumprido o acordo e não havia condição de prosseguir com ele naquela situação de cerco. O tenente deveria ser fuzilado mas para não fazer barulho o executam com uma coronhada de fuzil no dia 10 de maio. Lamarca e seu pequeno grupo continuavam a fugir, começam a fazer contato com os camponeses da região para obter comida e se impressionam com a maneira como eram bem recebidos na maioria das vezes. Alguns camponeses que ajudaram o grupo de Lamarca foram mortos e torturados pelo exército.
Lamarca decide que o companheiro Gilberto Faria Lima, que não estava identificado pelos órgãos de repressão, deveria sair da região para buscar ajuda em São Paulo. No dia 30 de Maio Gilberto pega um ônibus para a Capital sem problemas. No dia 31 de maio Lamarca e seu grupo montam uma emboscada e conseguem capturar um veiculo do exército, fazem 5 prisioneiros, sendo um sargento e quatro soldados. Os guerrilheiros vestem os uniformes dos prisioneiros e conseguem passar pelo bloqueio do exército sem problemas, Seguem para São Paulo e, ao chegarem lá, abandonam o caminhão e deixam os prisioneiros amarrados na caçamba. Lamarca e seu grupo conseguem incrivelmente escapar do Vale do Ribeira, mesmo sendo perseguidos por milhares de soldados e sendo bombardeados por aviões. Essa vitória prova que um pequeno grupo se movimentando rapidamente, com tática de guerrilha é extremamente eficiente. Após a fuga no Vale do Ribeira, Lamarca encontra sua organização em crise devido à prisão de vários militantes. No início de junho de 1970 o Conselho Permanente de Justiça da 2° Auditoria Militar de São Paulo condena Lamarca à revelia a 24 anos de prisão pelo roubo de armas do Quartel de Quitaúna, condena o ex-cabo Mariane a 12 anos e o ex-sargento Darcy Rodrigues a 16 anos.
Devido à situação difícil por que passava a VPR, ele decide junto com a ALN realizar mais um seqüestro. O seqüestro foi realizado no Rio de Janeiro, quando alguns militantes cercaram o carro do embaixador da Alemanha Ocidental e o seqüestraram. No dia 12 de junho, um dia após o seqüestro, o presidente Médici e os ministros da justiça militar e das relações exteriores decidem aceitar parte das exigências dos seqüestradores. Os militares permitem que seja publicado na imprensa um manifesto dos militantes de nome "Ao povo brasileiro". No dia 13 de junho o governo concorda em libertar presos políticos, e dois dias depois um avião levanta vôo levando 40 presos políticos para a Argélia. Entre os presos libertados estão: José Lavenchia, Darcy Rodrigues, José Araújo Nobrega e Edmauro Gopfert. Em Setembro de 1970 Lamarca vai para um aparelho no interior do estado do Rio. Lamarca ainda acreditava na guerrilha, mas estava muito preocupado com o crescente número de companheiros presos e torturados, e também percebia que grande parte do povo não estava preocupado com os presos políticos e com as torturas que eles sofriam, mas que o trabalhador explorado continuava submisso e calado.
No dia 7 de Dezembro de 1970, Lamarca comanda o seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, no bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro. No momento do seqüestro o agente de segurança Hélio Araújo de Carvalho é ferido e morre no hospital, o motorista é dominado e os militantes levam o embaixador para o cativeiro. A VPR faz as seguintes exigências para libertar o embaixador: O governo deveria soltar 70 presos políticos, divulgar textos de propaganda e distribuir gratuitamente passagens nos trens do subúrbio até o final das negociações. Mas dessa vez o presidente Médici endureceu e só concordou em libertar os presos políticos. A VPR manda várias listas com os nomes dos presos que deveriam ser soltos mas o governo não concorda em libertar alguns presos citados. A nova estratégia do governo surpreende a VPR que só tinha duas opções: aceitar as condições do governo ou matar o embaixador. A maioria decide matar o embaixador, mas Lamarca é contra porque matar o embaixador iria repercutir mal junto ao povo e afinal se deixaria de libertar 70 companheiros que estavam sofrendo todo o tipo de tortura nos porões da ditadura. Então Lamarca, como comandante da operação, diz: "Sou o comandante da ação, decido eu. Não vamos matar Bucher". Após se chegar a um acordo acerca dos presos que seriam libertados, 70 presos políticos partem no dia 16 de janeiro rumo ao Chile de Allende.
Lamarca no MR-8
Após o fim do seqüestro Lamarca e Iara passam uns dias morando juntos. A decisão de Lamarca de não matar o embaixador é o estopim para uma série de discussões dentro da VPR, que queria que Lamarca saísse do país já que ele era o homem mais procurado, mas Lamarca não aceita e permanece no Brasil. No dia 22 de março de 1971 Lamarca rompe com a VPR e entra para o MR-8. Lamarca gostava de todos da VPR, mas politicamente considera a VPR muito vanguardista, negava qualquer espaço para o povo e não via como mudar essa situação. Por isso entra para o MR-8, e Iara o acompanha. No MR-8 Lamarca via novamente a possibilidade de ir para o campo, implantar o foco guerrilheiro e levar o povo ao poder, o MR-8 reservava ao povo um papel no processo revolucionário, o que foi um dos motivos da aproximação de Lamarca. De repente, o MR-8 começa a ruir: no dia 14 de maio Stuart Edgard Angel de 27 anos, membro da direção do MR-8, é preso e levado para a base aérea do Galeão, onde é torturado de todas as formas para dizer a localização de Lamarca, mas apesar disso Stuart não o entrega. Stuart morre, asfixiado e intoxicado por monóxido de carbono, após ser amarrado na traseira de um jipe da Aeronáutica e ser arrastado de um lado para o outro com a boca no cano de descarga do jipe. Os oficiais que participaram do assassinato de Stuart eram o Brigadeiro Burnier, Carlos Afonso Dellamara comandante do CISA, o tenente-coronel Abílio Alcantra e Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena, todos do CISA., Alfredo Poeck, capitão do Cenimar, e o agente do Dops Jair Gonçalves da Mota.
Neste momento o MR-8 estava cercado no Rio de Janeiro e Lamarca e Iara estavam correndo perigo, então os dois partem em direção à Bahia (Iara consegue vencer a resistência da Organização em deixa-la ir junto com Lamarca já que não se sabia como absorvê-la no trabalho no campo). Lamarca e Iara chegam à Bahia mas não ficam juntos, pois Lamarca se dirige a Buriti Cristalino e Iara a Salvador. No dia 29 de junho de 1971 Lamarca chega a área de campo em Buriti Cristalino, e fica escondido no meio do mato, somente recebendo visitas de companheiros do MR-8 que levavam sua comida. Esses companheiros já estavam na região fazendo um trabalho de conscientização e educação com os camponeses. No dia 30 de julho Lamarca e seus companheiros discutem sobre a região e sobre as perspectivas de atuação, e percebem que seria um erro fazer a guerrilha ali, era necessário que a região tivesse alguma importância econômica para que a ação pudesse abalar o governo, e todo aquele agreste não tinha nenhuma importância para o país. Então ficou decidido que ali só se faria um trabalho de conscientização, recrutamento e formação de militantes de origem camponesa para mais tarde serem deslocados para uma região mais favorável à guerrilha.
No dia 6 de Agosto o militante Zé Carlos do MR-8 é preso em Salvador e fica a duvida se ele entregaria o local onde estava Lamarca e Iara. Zé Carlos é torturado mas não fala tudo de uma vez, fala sobre onde estava Iara porque achava que ela já tinha ido para Feira de Santana mas estava enganado. No dia 20 de agosto de 1971 os militares invadem o prédio onde estava Iara, prendem o companheiro Jaileno e outras pessoas. Quando Iara parecia estar salva, um menino a vê com duas armas e avisa aos militares. Iara fica presa num quarto porque o menino que a viu bateu a porta que só abria por fora e, acuada, sem chances de escapar, se suicida com um tiro no meio do peito. Com a morte de Iara, os militares têm certeza que Zé Carlos sabia onde estava Lamarca, e ainda possuíam o diário de Lamarca que falava da região onde estava. Em cima das informações de Zé Carlos e com o diário de Lamarca nas mãos, os agentes vão mapeando a região. Lamarca e os militantes ficam sabendo que Zé Carlos estava preso, e mesmo sabendo dos riscos em permanecer em Buriti Cristalino resolvem ficar porque não podiam abandonar todo o trabalho que estava sendo feito com o povo da região. Por precaução montam vários táticas de fuga caso fosse necessário. No dia 28 de Agosto os militares e policiais chegam a Buriti Cristalino. Olderico, militante do MR-8, percebe que tudo havia sido descoberto e quando os militares ordenam que todos saiam das casas ele começa a atirar para que Zequinha e Lamarca que estavam no acampamento ouvissem os tiros e fugissem. A atitude corajosa de Olderico deu certo, e ao ouvirem os tiros no vilarejo Lamarca e Zequinha fugiram pela Caatinga. Olderico é baleado.
A morte na caatinga
Buriti Cristalino foi palco do terror com a presença dos militares e policiais na região: vários camponeses foram torturados e espancados a troco de nada, animais dos camponeses foram fuzilados só por diversão, e o militante Otoniel foi morto. Os militares continuavam a perseguição a Lamarca, que estava muito doente, o que dificultava sua locomoção. O próprio Lamarca dizia para Zequinha o largar e fugir mas Zequinha respondia que "Quem é amigo na vida é amigo na morte!". No dia 17 de Setembro Zequinha e Lamarca estão descansando embaixo de uma árvore, depois de haver percorrido mais de 300km em fuga, quando Zequinha percebe que estão cercados. Ele então grita para Lamarca: " Capitão os homens estão ai", mas Lamarca não tem tempo nem para atirar, sendo fuzilado pelo Major Cerqueira. Zequinha corre ainda alguns metros mas também é morto. Antes de cair Zequinha grita: "Abaixo a ditadura!". Os corpos de Lamarca e Zequinha são levados para Brotas de Macaúbas onde são jogados num campo de futebol para todo mundo ver. Os Agentes se divertiam dando chutes nos cadáveres, rindo e dando gargalhadas de felicidade.
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Inspirados pela revolução cubana, a Vanguarda Popular Revolucionária, tinha como maior líder ex-militar Carlos Lamarca. Fazendo guerrilhas urbanas e mais tarde rurais, a VPR não conseguiu seus objetivos por causa da linha dura dos militares que estavam no poder e suas torturas com os companheiros apanhados. Tinha por convicção, a ideologia Marxista, eram bem disciplinados, talvez pela influência de Lamarca (ex-militar). Roubavam bancos, seqüestravam diplomatas em troca de guerrilheiros ou de dinheiro para patrocinar a guerrilha que consumia muito dinheiro.
Depois de fracassar a guerrilha urbana, Lamarca e alguns guerrilheiros foram para o Nordeste (Bahia) para tentar a guerrilha rural, já que na cidade eles estavam correndo sérios riscos, e a segurança dos guerrilheiros estava sendo quebrada. No começo Lamarca não queria ir para a Bahia, mas se convenceu dá situação critica vivida na cidade. Já lá na Bahia, contavam com a ajuda de alguns cidadãos das aldeias, que lhes davam proteção, comida, descanso...
O Objetivo da VPR na Bahia era divulgar suas idéias e seu movimento tentando convencer a massa para lutar junto com a REVOLUÇÃO, sem esse recurso o movimento morre. Mas o governo jogava duro, e prometeu recompensa ao povo, para quem desse informação ou alguma pista de Lamarca, cujo recebeu atenção especial do governo por ser desertor das forças armadas o que irritava o Exército.
Com o povo contra e o Exército apertando, Lamarca foi cada vez mais encurralado e seus companheiros, na cidade e no campo, foram sendo exterminados ou torturados até a loucura o que dificultava o apoio. Depois de muito fugir, com dificuldades de locomoção, Lamarca deve seu fim, o pior possível para um Militante (Revolucionário), foi morto de costas (veja o laudo, depois de muito tempo depois) sem poder reagir pelo Exército que encurralou eles em uma árvore enquanto descansavam, Dia 17 de setembro de 1971... Estava morta a Vanguarda Popular Revolucionária.
Carlos Lamarca
Carlos Lamarca nasceu no dia 27 de outubro de 1937, no bairro do Estácio, zona norte, do Rio de Janeiro. Seu pai, Antônio Lamarca era sapateiro, e sua mãe, Gertrudes, dona de casa. Lamarca tinha seis irmãos. Desde criança era um homem decidido e sempre teve liderança nas brincadeiras com os outros garotos. Cursou o primário na Escola Canadá e o ginasial no Instituto Arcoverde, sendo o único único dos filhos a chegar a ter curso superior.
Em 1947, Carlos Lamarca ingressa na Escola Preparatória de Cadetes em Porto Alegre e se mostra um cadete muito aplicado. Em 1957, é transferido para Rezende, para Academia Militar de Agulhas Negras. Na Academia, Lamarca lê o jornal "A Voz Operária", do PCB, (esse jornal era colocado debaixo dos travesseiros dos cadetes escondido) e começa a se simpatizar com as idéias comunistas. Em 1958, Lamarca fica noivo de Maria Pavan, uma amiga de infância. Em 1959 ainda aspirante e contra o regulamento, casa-se secretamente com Maria, que já esperava o primeiro filho. Lamarca e Maria vão morar no campo do Santana no Rio de Janeiro e no dia 5 de maio de 1960 nasce César Lamarca.Ainda em 1960 Lamarca é declarado oficialmente aspirante, e vai servir em São Paulo, no 4º Regimento de Infantaria em Quitaúna, Osasco. Em 1962 vai servir como segundo tenente nas forças da ONU, na ocupação do canal de Suez, no Oriente Médio. No Suez, Lamarca começa a tomar consciência da pobreza do povo Árabe e compara a situação do povo Árabe com a do povo brasileiro. Nessa época Maria Pavan já estava grávida novamente; a criança nasce em outubro de 1962 e se chama Cláudia. Em 1963, volta ao Brasil, quando as idéias comunistas vão ganhando mais força em Lamarca através da leitura de clássicos marxistas. Lamarca serve até 1965 na 6ª companhia da polícia do Exército, em Porto Alegre. Lamarca considerava Leonel Brizola um autentico líder popular, admirou a sua tentativa de resistência no Rio Grande do Sul e deplorou a atitude de Jango considerando-a covarde. Lamarca jamais concordara com o golpe militar, e não suportava ser guardião de presos políticos. Numa noite de sábado, em dezembro de 1964, promoveu a fuga do Capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Dandt que era acusado de atividades subversivas. Foi aberto um inquérito para apurar os responsáveis, mas o inquérito não deu em nada.
Após esse acontecimento Lamarca pede transferência para o 4º regimento de Infantaria em Quitaúna. Em Quitaúna Lamarca reencontra velhos amigos: o cabo José Mariane, o sargento Darcy Rodrigues, todos eles de oposição dentro do Exército. Em Quitaúna Lamarca organiza um clube, um local para que os militares de oposição pudessem discutir política dentro do Quartel. Mariane, Darcy e Lamarca estavam convencidos da necessidade de estruturar o foco guerrilheiro numa área rural. Lamarca se une ao grupo de revolucionários do 4ª Regimento, e logo a rede política se expande e chega até outras corporações. Apesar da atividade política Lamarca segue a risca suas obrigações no exército, tornando-se um oficial exemplar e se mostrando um excelente atirador. Perante os soldados Lamarca era severo mas amigo, sempre procurando ajudá-los e chegando até a emprestar dinheiro, mas perante os outros oficias era o inverso. Em 25 de agosto de 1967, Carlos Lamarca é promovido a Capitão. Nesse ano ele retoma os estudos sobre marxismo, o trabalho político que desenvolve com os outros militares "revolucionários" vai prosperando, e a sua idéia de guerrilha se consolida em seus planos.
Em 1967 Lamarca sente muito a morte de Che Guevara e diz "perdemos um dos maiores líderes internacionalistas mas a vida é assim: ou se morre ou se vence. Che Guevara morreu, mas deixa sua semente, raízes que não morrerão".
O ingresso na VPR e a VAR-Palmares
Em 1968 Lamarca procura uma organização que tivesse em seus planos deflagrar guerrilha e levar o povo ao poder. Entra em contato com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), com Carlos Marighela, ex-dirigente do PCB e principal comandante da ALN (Aliança de Libertação Nacional), e encontra-se também com a direção do PC do B. Lamarca e o sargento Darcy ingressam na VPR em dezembro de 1968. Lamarca foi convencido pelos dirigentes da VPR que após roubar as armas do quartel a VPR teria um local para iniciar a guerrilha rural. O sargento Darcy desviava do quartel munição e granadas, já que ele falsificava documentos sobre o gasto de munição nos treinamentos. Três dias antes de Lamarca roubar as armas do quartel, militantes da VPR são presos, e por saberem os nomes de Lamarca, Darcy e Mariane os três resolveram tirar as armas do quartel imediatamente. Então no dia 24 de janeiro de 1969 Lamarca entra com sua Kombi no quartel de Quitaúna e retira 63 fuzis FAL, três metralhadoras INA e munição. Em certo momento, dois sargentos perguntam a Lamarca para que as armas estavam sendo retiradas, e ele responde que é para um treinamento de tiro, e nesse momento Lamarca passa a viver na clandestinidade. Na verdade a VPR ainda não tinha condição de fazer a guerrilha, como havia dito.
Maria Pavan e os dois filhos saem do Brasil por segurança e vão morar em Cuba até 1969. Após o roubo ao quartel Lamarca passa a viver em aparelhos em São Paulo. Três meses após o roubo, Lamarca participa de sua primeira ação armada, ocorrida no dia 9 de maio de 1968, quando a VPR assaltou dois bancos, o Mercantil e o Itáu, ao mesmo tempo. Durante o assalto Lamarca vê o guarda civil Orlando Pinto Saraiva apontar a arma em direção a Darcy e então dispara e acerta a nuca do guarda. Mesmo participando da luta armada Lamarca desejava a guerra de guerrilhas no campo. A rotina de Lamarca se mantia, ele era obrigado a passar o dia todo escondido em apartamentos da VPR, com isso ele ocupa seu tempo estudando marxismo lendo sobre Trotsky, Lenin, Mao, Che Guevara, já que ele nesse momento ainda não possuía grandes conhecimentos teóricos.
Lamarca enfrenta outro problema; além de não existir a área de guerrilha, a VPR a partir de janeiro de 1969 estava passando por um momento difícil após a prisão de vários militantes. Devido à crise, a VPR convoca um congresso para se discutir as próximas ações. Nesse congresso Lamarca é nomeado dirigente, ele aceita esse cargo a contra gosto, pois perseguia somente o papel de líder da guerrilha rural e não de uma organização tipicamente urbana onde seria obrigado a dar respostas a problemas não militares. Já como dirigente Lamarca conhece Iara em abril de 1969. Era uma militante que passara por algumas organizações e que no inicio de 1969 tinha a função de manter contato ente a VPR e a Colina. Em junho de 1969 a VPR se une à Colina e forma VAR- Palmares. As duas tinham divergências, mas possuíam um ponto em comum, a luta armada através da guerrilha, para uma futura união das duas organizações. Lamarca e Iara se apaixonam, mas Lamarca tenta lutar contra esse sentimento, já que não seria justo com Maria que estava fora do país. Lamarca reluta em ficar com Iara, mas no meio de 1969 ele assume seu relacionamento com Iara e passam a viver juntos sempre que possível.
No dia 18 de julho de 1969 Lamarca e seus companheiros roubam o cofre da casa da amante de Adhemar de Barros, um político corrupto, e quando o abrem vêem uma montanha de dinheiro, um total de 2 milhões e 500 mil dólares. Os militantes tiveram que trocar os dólares também no mercado negro, já que as casas de cambio freqüentemente eram vigiadas. Cada militante recebeu 800 dólares para despesas, uma parte foi utilizada para preparar novas ações, uma fortuna foi gasta para manter os militantes na clandestinidade e 600 mil dólares caíram nas mãos da repressão.
A nova VPR
Entre Julho e Agosto de 1969 se realiza o congresso da VAR-Palmares. Desse congresso, Lamarca, Iara e outros companheiros saem da VAR por causa de entre outros motivos a relutância da VAR em se dirigir ao campo para guerra de guerrilhas. Com isso Lamarca refunda a VPR absorvendo vários dissidentes da VAR. A nova VPR é fundada oficialmente no final de 1969, comprando um sítio no vale do Ribeira que seria usado para treinar os militantes para guerrilha. Em janeiro de 1970 já havia chegado todos os militantes que receberiam treinamento, inclusive Iara. Mas um sério distúrbio ginecológico hormonal fez com que Iara fosse obrigada a abandonar o campo de treinamento.
Após o treinamento, o plano seria enviar alguns militantes para duas regiões do nordeste para desencadear a guerra de guerrilhas, mas a prisão de Mário Japa, dirigente da VPR que conhecia a localização do sítio de treinamento, fez com que se desmobiliza-se parcialmente o campo de treinamento, já que Mário estando preso e sofrendo torturas poderia entregar o campo. Preocupados com a vida de Mário Japa a VPR decide seqüestrar o cônsul do Japão. Com o seqüestro, Mário e outros companheiros são soltos, mas a repressão continua a prender vários militantes, e dois desses militantes delatam a área de treinamento. Lamarca ao saber da delação, inicia a evacuação da área. Oito companheiros saem do campo de treinamento, nove permanecem, eram eles: Lamarca, os ex-sargentos Darcy Rodrigues e José Araujo Nóbrega, Gilberto Faria Lima, Ioshitante Fujimoto, Edmauro Gopfert, Diogenes Sabrosa, o ex-soldado Ariston Lucena e José Lavenchia. Os guerrilheiros estavam escondidos em áreas perto do campo principal. Lá pelo dia 22 de Abril já havia 1500 homens à procura dos guerrilheiros, com a ajuda de vários helicópteros e aviões com pára-quedistas. José Lavenchia e Darcy Rodigues são presos pelo exército no dia 27 de Abril, e os outros guerrilheiros continuavam a fugir. Lamarca e seu pequeno grupo se mostram extremamente eficientes contra o exército. José Araujo Nobrega e Edmauro também são presos pelo exército. No dia 8 de Maio, Lamarca, num confronto consegue render um tenente, dois sargentos, dois cabos e doze soldados, e lê os termos de rendição para o tenente:
1- os guerrilheiros não fuzilariam ninguém;
2- os feridos seriam atendidos, facilitando o transporte dos mesmos;
3- os guerrilheiros apenas trocariam algumas armas sem expropriar nenhuma;
4- reabasteceriam de munição as armas;
5- O tenente levantaria o bloqueio do exército em Sete Barras (cidade próxima).
O tenente concordou com os termos só que não ordenou o levantamento do bloqueio, fazendo com que Lamarca e seu grupo caíssem numa emboscada. Os guerrilheiros conseguem fugir da emboscada e decidem executar o tenente, afinal, ele não havia cumprido o acordo e não havia condição de prosseguir com ele naquela situação de cerco. O tenente deveria ser fuzilado mas para não fazer barulho o executam com uma coronhada de fuzil no dia 10 de maio. Lamarca e seu pequeno grupo continuavam a fugir, começam a fazer contato com os camponeses da região para obter comida e se impressionam com a maneira como eram bem recebidos na maioria das vezes. Alguns camponeses que ajudaram o grupo de Lamarca foram mortos e torturados pelo exército.
Lamarca decide que o companheiro Gilberto Faria Lima, que não estava identificado pelos órgãos de repressão, deveria sair da região para buscar ajuda em São Paulo. No dia 30 de Maio Gilberto pega um ônibus para a Capital sem problemas. No dia 31 de maio Lamarca e seu grupo montam uma emboscada e conseguem capturar um veiculo do exército, fazem 5 prisioneiros, sendo um sargento e quatro soldados. Os guerrilheiros vestem os uniformes dos prisioneiros e conseguem passar pelo bloqueio do exército sem problemas, Seguem para São Paulo e, ao chegarem lá, abandonam o caminhão e deixam os prisioneiros amarrados na caçamba. Lamarca e seu grupo conseguem incrivelmente escapar do Vale do Ribeira, mesmo sendo perseguidos por milhares de soldados e sendo bombardeados por aviões. Essa vitória prova que um pequeno grupo se movimentando rapidamente, com tática de guerrilha é extremamente eficiente. Após a fuga no Vale do Ribeira, Lamarca encontra sua organização em crise devido à prisão de vários militantes. No início de junho de 1970 o Conselho Permanente de Justiça da 2° Auditoria Militar de São Paulo condena Lamarca à revelia a 24 anos de prisão pelo roubo de armas do Quartel de Quitaúna, condena o ex-cabo Mariane a 12 anos e o ex-sargento Darcy Rodrigues a 16 anos.
Devido à situação difícil por que passava a VPR, ele decide junto com a ALN realizar mais um seqüestro. O seqüestro foi realizado no Rio de Janeiro, quando alguns militantes cercaram o carro do embaixador da Alemanha Ocidental e o seqüestraram. No dia 12 de junho, um dia após o seqüestro, o presidente Médici e os ministros da justiça militar e das relações exteriores decidem aceitar parte das exigências dos seqüestradores. Os militares permitem que seja publicado na imprensa um manifesto dos militantes de nome "Ao povo brasileiro". No dia 13 de junho o governo concorda em libertar presos políticos, e dois dias depois um avião levanta vôo levando 40 presos políticos para a Argélia. Entre os presos libertados estão: José Lavenchia, Darcy Rodrigues, José Araújo Nobrega e Edmauro Gopfert. Em Setembro de 1970 Lamarca vai para um aparelho no interior do estado do Rio. Lamarca ainda acreditava na guerrilha, mas estava muito preocupado com o crescente número de companheiros presos e torturados, e também percebia que grande parte do povo não estava preocupado com os presos políticos e com as torturas que eles sofriam, mas que o trabalhador explorado continuava submisso e calado.
No dia 7 de Dezembro de 1970, Lamarca comanda o seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, no bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro. No momento do seqüestro o agente de segurança Hélio Araújo de Carvalho é ferido e morre no hospital, o motorista é dominado e os militantes levam o embaixador para o cativeiro. A VPR faz as seguintes exigências para libertar o embaixador: O governo deveria soltar 70 presos políticos, divulgar textos de propaganda e distribuir gratuitamente passagens nos trens do subúrbio até o final das negociações. Mas dessa vez o presidente Médici endureceu e só concordou em libertar os presos políticos. A VPR manda várias listas com os nomes dos presos que deveriam ser soltos mas o governo não concorda em libertar alguns presos citados. A nova estratégia do governo surpreende a VPR que só tinha duas opções: aceitar as condições do governo ou matar o embaixador. A maioria decide matar o embaixador, mas Lamarca é contra porque matar o embaixador iria repercutir mal junto ao povo e afinal se deixaria de libertar 70 companheiros que estavam sofrendo todo o tipo de tortura nos porões da ditadura. Então Lamarca, como comandante da operação, diz: "Sou o comandante da ação, decido eu. Não vamos matar Bucher". Após se chegar a um acordo acerca dos presos que seriam libertados, 70 presos políticos partem no dia 16 de janeiro rumo ao Chile de Allende.
Lamarca no MR-8
Após o fim do seqüestro Lamarca e Iara passam uns dias morando juntos. A decisão de Lamarca de não matar o embaixador é o estopim para uma série de discussões dentro da VPR, que queria que Lamarca saísse do país já que ele era o homem mais procurado, mas Lamarca não aceita e permanece no Brasil. No dia 22 de março de 1971 Lamarca rompe com a VPR e entra para o MR-8. Lamarca gostava de todos da VPR, mas politicamente considera a VPR muito vanguardista, negava qualquer espaço para o povo e não via como mudar essa situação. Por isso entra para o MR-8, e Iara o acompanha. No MR-8 Lamarca via novamente a possibilidade de ir para o campo, implantar o foco guerrilheiro e levar o povo ao poder, o MR-8 reservava ao povo um papel no processo revolucionário, o que foi um dos motivos da aproximação de Lamarca. De repente, o MR-8 começa a ruir: no dia 14 de maio Stuart Edgard Angel de 27 anos, membro da direção do MR-8, é preso e levado para a base aérea do Galeão, onde é torturado de todas as formas para dizer a localização de Lamarca, mas apesar disso Stuart não o entrega. Stuart morre, asfixiado e intoxicado por monóxido de carbono, após ser amarrado na traseira de um jipe da Aeronáutica e ser arrastado de um lado para o outro com a boca no cano de descarga do jipe. Os oficiais que participaram do assassinato de Stuart eram o Brigadeiro Burnier, Carlos Afonso Dellamara comandante do CISA, o tenente-coronel Abílio Alcantra e Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena, todos do CISA., Alfredo Poeck, capitão do Cenimar, e o agente do Dops Jair Gonçalves da Mota.
Neste momento o MR-8 estava cercado no Rio de Janeiro e Lamarca e Iara estavam correndo perigo, então os dois partem em direção à Bahia (Iara consegue vencer a resistência da Organização em deixa-la ir junto com Lamarca já que não se sabia como absorvê-la no trabalho no campo). Lamarca e Iara chegam à Bahia mas não ficam juntos, pois Lamarca se dirige a Buriti Cristalino e Iara a Salvador. No dia 29 de junho de 1971 Lamarca chega a área de campo em Buriti Cristalino, e fica escondido no meio do mato, somente recebendo visitas de companheiros do MR-8 que levavam sua comida. Esses companheiros já estavam na região fazendo um trabalho de conscientização e educação com os camponeses. No dia 30 de julho Lamarca e seus companheiros discutem sobre a região e sobre as perspectivas de atuação, e percebem que seria um erro fazer a guerrilha ali, era necessário que a região tivesse alguma importância econômica para que a ação pudesse abalar o governo, e todo aquele agreste não tinha nenhuma importância para o país. Então ficou decidido que ali só se faria um trabalho de conscientização, recrutamento e formação de militantes de origem camponesa para mais tarde serem deslocados para uma região mais favorável à guerrilha.
No dia 6 de Agosto o militante Zé Carlos do MR-8 é preso em Salvador e fica a duvida se ele entregaria o local onde estava Lamarca e Iara. Zé Carlos é torturado mas não fala tudo de uma vez, fala sobre onde estava Iara porque achava que ela já tinha ido para Feira de Santana mas estava enganado. No dia 20 de agosto de 1971 os militares invadem o prédio onde estava Iara, prendem o companheiro Jaileno e outras pessoas. Quando Iara parecia estar salva, um menino a vê com duas armas e avisa aos militares. Iara fica presa num quarto porque o menino que a viu bateu a porta que só abria por fora e, acuada, sem chances de escapar, se suicida com um tiro no meio do peito. Com a morte de Iara, os militares têm certeza que Zé Carlos sabia onde estava Lamarca, e ainda possuíam o diário de Lamarca que falava da região onde estava. Em cima das informações de Zé Carlos e com o diário de Lamarca nas mãos, os agentes vão mapeando a região. Lamarca e os militantes ficam sabendo que Zé Carlos estava preso, e mesmo sabendo dos riscos em permanecer em Buriti Cristalino resolvem ficar porque não podiam abandonar todo o trabalho que estava sendo feito com o povo da região. Por precaução montam vários táticas de fuga caso fosse necessário. No dia 28 de Agosto os militares e policiais chegam a Buriti Cristalino. Olderico, militante do MR-8, percebe que tudo havia sido descoberto e quando os militares ordenam que todos saiam das casas ele começa a atirar para que Zequinha e Lamarca que estavam no acampamento ouvissem os tiros e fugissem. A atitude corajosa de Olderico deu certo, e ao ouvirem os tiros no vilarejo Lamarca e Zequinha fugiram pela Caatinga. Olderico é baleado.
A morte na caatinga
Buriti Cristalino foi palco do terror com a presença dos militares e policiais na região: vários camponeses foram torturados e espancados a troco de nada, animais dos camponeses foram fuzilados só por diversão, e o militante Otoniel foi morto. Os militares continuavam a perseguição a Lamarca, que estava muito doente, o que dificultava sua locomoção. O próprio Lamarca dizia para Zequinha o largar e fugir mas Zequinha respondia que "Quem é amigo na vida é amigo na morte!". No dia 17 de Setembro Zequinha e Lamarca estão descansando embaixo de uma árvore, depois de haver percorrido mais de 300km em fuga, quando Zequinha percebe que estão cercados. Ele então grita para Lamarca: " Capitão os homens estão ai", mas Lamarca não tem tempo nem para atirar, sendo fuzilado pelo Major Cerqueira. Zequinha corre ainda alguns metros mas também é morto. Antes de cair Zequinha grita: "Abaixo a ditadura!". Os corpos de Lamarca e Zequinha são levados para Brotas de Macaúbas onde são jogados num campo de futebol para todo mundo ver. Os Agentes se divertiam dando chutes nos cadáveres, rindo e dando gargalhadas de felicidade.
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Inspirados pela revolução cubana, a Vanguarda Popular Revolucionária, tinha como maior líder ex-militar Carlos Lamarca. Fazendo guerrilhas urbanas e mais tarde rurais, a VPR não conseguiu seus objetivos por causa da linha dura dos militares que estavam no poder e suas torturas com os companheiros apanhados. Tinha por convicção, a ideologia Marxista, eram bem disciplinados, talvez pela influência de Lamarca (ex-militar). Roubavam bancos, seqüestravam diplomatas em troca de guerrilheiros ou de dinheiro para patrocinar a guerrilha que consumia muito dinheiro.
Depois de fracassar a guerrilha urbana, Lamarca e alguns guerrilheiros foram para o Nordeste (Bahia) para tentar a guerrilha rural, já que na cidade eles estavam correndo sérios riscos, e a segurança dos guerrilheiros estava sendo quebrada. No começo Lamarca não queria ir para a Bahia, mas se convenceu dá situação critica vivida na cidade. Já lá na Bahia, contavam com a ajuda de alguns cidadãos das aldeias, que lhes davam proteção, comida, descanso...
O Objetivo da VPR na Bahia era divulgar suas idéias e seu movimento tentando convencer a massa para lutar junto com a REVOLUÇÃO, sem esse recurso o movimento morre. Mas o governo jogava duro, e prometeu recompensa ao povo, para quem desse informação ou alguma pista de Lamarca, cujo recebeu atenção especial do governo por ser desertor das forças armadas o que irritava o Exército.
Com o povo contra e o Exército apertando, Lamarca foi cada vez mais encurralado e seus companheiros, na cidade e no campo, foram sendo exterminados ou torturados até a loucura o que dificultava o apoio. Depois de muito fugir, com dificuldades de locomoção, Lamarca deve seu fim, o pior possível para um Militante (Revolucionário), foi morto de costas (veja o laudo, depois de muito tempo depois) sem poder reagir pelo Exército que encurralou eles em uma árvore enquanto descansavam, Dia 17 de setembro de 1971... Estava morta a Vanguarda Popular Revolucionária.
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