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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sábado, 24 de outubro de 2009

A chegada de George Gardner a Crato - por Armando Rafael

Crato, 1859 - Aquarela de José Reis - acervo do Museu de Artes de Crato
Dois anos fazia que George Gardner viajava pelo Império do Brasil, pois aqui aportou em 22 de julho de 1836.
Ele chegou ao Ceará, ao meio dia de 22 de julho – na data que completava dois anos do seu desembarque no Rio de Janeiro. Certamente, foi com alívio e alegria que o Botânico inglês contemplou a foz do Rio Jaguaribe, emoldurada pelas areias brancas do litoral cearense, ponto final da travessia. Mas só no dia seguinte, 23 de julho, utilizando um bote, ele desceu pelo rio, até atingir, a pouca distância, a vila de Aracati.

Gardner não demonstrou interesse em conhecer a vila de Fortaleza que, desde 1810 era a capital do Ceará. Optou por percorrer outras povoações do interior. No Ceará, o roteiro traçado pelo pesquisador incluiu, além de Aracati – porto por onde se exportava o couro e o charque produzidos na Província – a vila de Icó, importante entreposto comercial, em pleno sertão. Seu destino final, na Província do Ceará, era a vila de Crato, menor e mais atrasada que as duas acima citadas e localizada ao sopé da Chapada do Araripe.

As redondezas de Crato eram dotadas de exuberante vegetação – com boa variedade de fauna e flora nativas – possuindo dezenas de fontes naturais, além de depósitos de fósseis do período Cretáceo Inferior. Era isso que atraía o interesse do intelectual inglês. Gardner demorou cerca de 12 dias em Aracati. No dia 3 de agosto, sob forte chuva, rumou, com seus ajudantes e algumas malas, em busca de Icó, onde faria uma parada antes de atingir Crato.
Ao final da tarde do dia 9 de setembro de 1838, após ter cavalgado sobre terra plana e arenosa, de ter contemplado grandes plantações de cana, onde sentiu o cheiro do mel vindo dos engenhos de rapadura, a invadir a atmosfera com seu aroma adocicado, avistou Crato. Extasiado com a beleza da localidade, ele escreveu as linhas abaixo:

"Impossível descrever o deleite que senti, ao entrar neste distrito, comparativamente rico e risonho, depois de marchar mais de trezentas milhas através de uma região que, naquela estação, era pouco melhor que um deserto.

A tarde era das mais belas que me lembra ter visto, com o sol a sumir-se em grande esplendor por trás da Serra do Araripe, longa cadeia de montanhas, a cerca de uma légua para Oeste da Vila, e o frescor da região parece tirar aos seus raios o ardor que pouco antes do poente é tão opressivo ao viajante, nas terras baixas.

A beleza da noite, a doçura revigorante da atmosfera, a riqueza da paisagem, tão diferente de quanto, havia pouco, houvera visto, tudo tendia a gerar uma exultação de espírito, que só experimenta o amante da natureza e que, em vão eu desejava fosse duradoura, porque me sentia não só em harmonia comigo mesmo, mas “em paz com tudo em torno".

Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

2 comentários:

Heladio disse...

Meu caro Armando
Imagino quantas belezas naturais este arrojado explorador, teve a feliz oportunidade de contemplar. E o que podemos observar hoje,somente degradação ambiental,com a total indiferença dos nossos governantes.
Heladio

Armando Rafael disse...

Caro Heládio:
Você tem inteira razão.
E não só é degradação ambiental.
Existe a degradação urbana. Basta ver a situação das praças centrais da cidade.
E a última campanha de arborização da urbe já tem mais de 30 anos.
Alguém justifica tudo isso?