Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

No silêncio do corpo - Por Ana Cecília S. Bastos

O campo é um centauro, dizia o professor. Uma encruzilhada hermenêutica que construo mas me incorpora definitivamente em seu intransponível horizonte de equívocos. A análise é um centauro. Eu sou um centauro, às vezes sem existência real, só mitologia, torrentes de palavras neste momento.
Contemplo minhas patas e garras, a cauda do dragão no átrio da Igreja. Seu incenso. Que me açoita e revela o meu eu, minha pertença, o mim. Algo muito fundo.
Do profundo do tempo me amaste, Senhor.
Eu vã, eu louca e ausente, mas ali estou e sou eu, e não sou, fora desse átrio, origem e destino, nenhuma dúvida jamais nesse lugar. Do profundo do tempo esse sintoma me toma e define. Asma como eu. Ana como eu. Que me trava quando contra mim para que eu talvez caminhe em meu favor, mas pelo avesso, e me silencia, me paralisa quando preciso. E como preciso, desesperadamente.
O mundo contra mim, o fluxo contra mim, o eu ignoto remoto no pátio da Igreja, no vão da porta, no átrio.
A Nave.
Asma, unha cravada na pele da alma.
Nenhum sangue.

Desenho de Ígor Souza.
por Ana Cecília

4 comentários:

socorro moreira disse...

Belo, belíssimo !!!
Tua poesia, me converte !
O dia amanhecendo ...Tão lindo quanto ele !

Abraços, Ana .

Ana Cecília S. Bastos disse...

Querida Socorro,
seu comentário me comove. Há tanta coisa nesse escrito, um dia conversamos sobre tudo isso.
Se essas palavras tocam você assim, é porque seu coração e sua sensibilidade pedem uma conversão, com toda a beleza que há.
abraço grande!

Claude Bloc disse...

Ana Cecília,

Este é um dos mais belos textos que li ultimamente. Tocante e de uma suavidade tão forte ao mesmo tempo que nos penetra a alma e nos faz festejar a vida nos recônditos do nosso ser.

Agradeço a você por me proporcionar esta leitura deliciosa e não menos reflexiva.

Abraço,

Claude

Francisco Assis de Sousa Lima disse...

Ana

Dizem que o ser humano, ao se constituir biologicamente, refaz o percurso embrionário de toda a escala zoológica. Em paralelo, tua poesia tem algo de esfinge revelando a ti mesma num percurso existencial,psíquico e espiritual.

Assis.