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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 6 de fevereiro de 2010


O Rei Momo do Carnaval

Diretor cultura da Liesa, Hiram Araújo relembra a importância histórica da figura do Rei Momo e explica a origem da Chave da Cidade


Hiram Araújo
(Especial para o Dia na Folia)

Vivemos um novo modelo do Rei Momo do carnaval carioca. Durante 70 anos nos acostumamos a ver a figura do Rei Momo encarnada numa pessoa gorda. Quanto mais gordo era melhor. O saudoso “Bola” chegou a pesar 240 Kg. Esta imagem nasceu de uma brincadeira, por ocasião da oficialização do carnaval carioca em 1933.

Aproveitando o ensejo, os jornalistas de A NOITE resolveram criar a figura de um “Rei do Carnaval” em carne e osso. Entre os jornalistas existia um redator de turfe, volumoso, gordo, brincalhão e gozador chamado Moraes Cardoso. Ele foi o escolhido para encarnar a figura do monarca da folia.
Foi então, que um jornalista se lembrou do Momo que na mitologia grega era o Deus da galhofa, da irreverência e do delírio, filho da noite, que por seu temperamento excêntrico havia sido expulso do Olimpo, vivendo no “sub-olimpo” incentivando os festins orgiásticos. Mas tinha um problema, ele era um Deus e a idéia era criar um “Rei do Carnaval”.
O único exemplo concreto de um rei do carnaval era o do Rei das Saturnálias romanas, escolhido entre os soldados mais belos, que durante o reinado era tratado como verdadeiro senhor, comendo, bebendo, e se divertindo a valer, para depois, quando a festa acabava, ser levado ao altar de Saturno e sacrificado. Morria o Rei.Fosse Moraes Cardoso magro e teríamos seguido a verdadeira tradição da festa.

Mas como carnaval é farsa, paródia, transformou o Deus em Rei e criou-se o Rei Momo gordo. Afinal de contas, podia-se justificar a mentirinha dizendo-se que Momo significava o domingo gordo, quando se comia carne à exaustão. Os pintores góticos faziam esse contraste entre o domingo gordo e a quaresma esquálida. Foi assim que durante 70 anos nos acostumamos com o Rei Momo gordo.

A farsa durou 70 anos, até que o Prefeito César Maia, baseado nas recomendações da Organização Mundial de Saúde, considerando e excesso de peso prejudicial à saúde, baixou um decreto terminando a exigência do peso mínimo. O Prefeito não só acertou com relação à saúde como também historicamente.

Em 2004 foi eleito um negro esbelto de 1.80m e 83 Kg. chamado Wagner Jorge, que desempenhou a função muito bem, e em 2005 foi eleito o jornalista Marcelo Reis de 1.80m de altura e 110 Kg., consolidou o novotipo de Rei Momo do carnaval carioca. Alex de oliveira que foi Rei Momo em 1997, 98 e 99 com peso de 220 kg. Fez uma cirurgia de redução do estômago e perdeu 110 kg, enquadrando-se no papel de Rei Momo Magro. E seu reinado de Rei Momo Magro foi até 2008.

Com as regras atuais do concurso determinando: altura mínima de 1.60 cm, idade máxima de 50 anos e deixando livre o peso (anteriormente, durante o reinado do Rei Momo Gordo, o peso mínino exigido era de 110 kg) é possível ser eleito novamente o Rei Momo Gordo. É fundamental determinar nas normas do concurso, a exigência máxima de peso: 80 kg.

A Chave da Cidade

Sempre foi costume no carnaval a entrega da chave da cidade ao Rei Momo. Na hora da solenidade o Prefeito tinha de improvisar uma chave de isopor ou papelão, para cumprir a tradição. Uma figura importante do carnaval carioca chamado José Geraldo de Jesus, o Candonga, então bolou uma idéia: confeccionar uma chave definitiva.

Em 1976 Candonga procurou Roberto Faissal e Albino Pinheiro e mostrou a eles uma chave de madeira, coberta com lantejoulas coloridas, com cerca de 2m de extensão que, segundo ele, parece coisa de castelo antigo.

No dia da solenidade da entrega da chave, Candonga a passava ao Prefeito, que dava ao Rei Momo a chave simbólica da cidade. Quando acabava o carnaval, Candonga a pegava de volta, guardando-a com todos os cuidados em sua casa.Dessa forma Candonga se tornou o guardador oficial da chave da cidade até sua morte.

Candonga era o único mortal que tinha permissão de estacionar seu carro, um velho Cadillac, em pleno sambódromo, nos fundos do 2º. Box ou curral da bateria. Nele guardava, para dar generosamente aos amigos, um poderoso tônico chamado CRAVO ESCARLATE, preparado a partir de raízes encontradas no nordeste, com cana-de-açúcar, longamente fermentada, herança de seu avô.

A chave hoje se encontra em poder de sua filha Cristina, que vem mantendo a tradição. Cristina é uma das 47 filhas que Candonga deixou. Além da bebida Cravo Escarlate, o saudoso Candonga e agora seus filhos, distribuem garrafas de água aos instrumentistas suados, diretamente na boca, para não atravessar o ritmo da bateria.

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