Cariricaturas

Enchurradas
- Claude Bloc -

A chuva bateu forte. Trovões, relâmpagos e a euforia infantil passeando na gente. Medos que já passaram. Medos que se apagaram.

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A gente cresceu. Aprendeu a contar o tempo. A deixar as fagulhas se incendiarem em nossa alma. Saudades queimando em plena chuva.

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Olhei praquela água caindo em bica. Uma alegria iluminou meu olhar. Vontade louca de um bom banho ali na bica. Correr pelas ruas do Pimenta outra vez, sem nenhum receio do rídículo. Banhar meus pés na enchurrada e descer rua a baixo chacoalhando a correnteza. Fazer açudes na coxia. Pular dentro deles e me borrifar de lama.

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Revejo os olhares de outrora: Dona Guimar, Dona Marivalda, Dona Joaninha...

- Menina, sai daí, tu vai ficar gripada!

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E minha teimosia me levando rua a baixo, em plena chuva. Até a bodega de seu Pedro Praieira. Lá, encharcada, me considerava uma heroína. Havia vencido as águas, os trovões e a minha vontade de não sair do canto...

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Comprava um "Diamante Negro" e voltava quieta.

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A chuva me molhava insatisfeita. Havia apaziguado minha ansiedade de correr e de brincar. Havia me tornado adulta.

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Agora eu só sabia me lembrar. Lembrar do meu Pimenta nos dias de enxurrada.

Fotos (casa do mano em Sobral) e texto por Claude Bloc