Francisco de Goya
Fuendetodos, 1746 - Bordéus, 1828
Pintor espanhol. Goya é um pintor que percorre a pintura espanhola e europeia desde o neoclassicismo de fins do século xviii até ao romantismo. Na sua produção, de uma extraordinária abundância, a originalidade e a variedade compensam com vantagem uma ou outra imperfeição em algum dos seus quadros. A sua arte vai evoluindo ao longo da vida.
Esquematicamente, pode dizer-se que Goya, partindo do rococó, se entrega à cor com fúria e liberdade e vai sucessivamente descobrindo a beleza dos cinzentos e dos pretos, sem com isso renunciar às cores intensas. Pintor de execução rápida, soluciona as composições de maneira concisa. Realista apaixonado, dá rédea solta a este impulso em quadros de grande riqueza expressiva, tais como O 3 de Maio de 1808 em Madrid, enquanto o contém e tempera nos seus cartões para tapeçarias, de ar mais rococó. Por outro lado, Goya cultiva magistralmente a pintura da imaginação, que dá passagem para o grotesco, para o fantástico e para o monstruoso da natureza humana. Estudando em Madrid e em Itália, a sua mais significativa obra de juventude consiste num conjunto de mais de sessenta cartões para tapeçarias, representando a maior parte cenas populares madrilenas, romarias e verbenas, povoadas por personagens bem ataviadas que bebem, dançam e se divertem. Os mais notáveis são A Cabra-Cega, O Espantalho, A Vindima e O Baloiço. A complexidade destes cartões aumenta, ao ponto de A Pradaria de Santo Isidro não ser transformado em tapeçaria.
Ninguem sabe quem foi a modelo e nem porque Francisco Goya fez dois quadros, a maja vestida e a maja nua. A obra foi feita entre 1800 e 1803 e ambos quadros podem ser vistos no Museu do Prado, em Madri.
Group on the BalconyMariana Waldstein
Desta época são O Crucifixo, de inspiração neoclássica, bem como os seus primeiros retratos da corte. Goya fixa nos retratos a sua excepcional penetração psicológica, bem como a sua destreza técnica e o seu impiedoso realismo. Pinta reis, aristocratas, governantes, escritores, actores e toureiros: Carlos III, A Família de Carlos IV, que é o melhor, implacavelmente fiel à realidade; O Conde de Floridablanca, A Família do Duque de Osuna, A Marquesa de Pontejos, O Marquês de San Adrián, A Tirana, etc. Além de alguns auto-retratos, pinta também a Maja vestida e a Maja desnuda, que são duas obras-primas de tema e tratamento insólitos na pintura espanhola da época. Tal como os retratistas ingleses, é um mestre nas representações infantis, como na do seu neto Marianito. Nos retratos da sua última época o uso do preto é de importância fundamental.
A partir de certa altura, Goya começa a padecer de uma doença que lhe provoca uma surdez progressiva. Começa então a isolar-se, a ensimesmar-se. Deixa de ver, como acontecera com os cartões, o lado agradável da humanidade, fixa-se nos seus defeitos, nos seus aspectos grotescos. Neste sentido, são características Os Caprichos, série de gravuras que revelam uma faceta ascética do artista que continua a manifestar-se até à sua morte. São também desta época os frescos de Santo António da Florida, nos quais se serve de um tema religioso para mostrar uma variedade de tipos populares.
Quando se verifica a invasão napoleónica, Goya alia-se às hostes dos afrancesados. Nomeado pintor de José Bonaparte, retrata alguns generais franceses. Os acontecimentos desta guerra, cheia de horrores e de sangue, vão mais tarde inspirar-lhe duas das suas mais notáveis pinturas, O 3 de Maio e A Carga dos Mamelucos. São obras transbordantes de um poderoso ímpeto interior e de uma ardente imaginação. Na série de gravuras Os Desastres da Guerra assomam novamente a veia pessimista e a acentuada expressividade, chegando esta a transformar-se numa forma particular de expressionismo. Terminada a guerra e restituído o trono a Fernando VII, Goya continua a trabalhar na corte, mas quando, em 1823, se instala a monarquia absolutista, parte com muitos outros liberais espanhóis para França, instalando-se em Bordéus. É deste período final A Leiteira de Bordéus e outras obras extraordinárias, cujo exuberante cromatismo e poderosa técnica de pincel antecipam o impressionismo.
Na obra de Goya detectam-se impulsos e maneiras de executar que vão posteriormente constituir princípios orientadores de diversos desenvolvimentos importantes da história da pintura nos séculos xix e xx. Assim, na exaltação da cor, nos processos narrativos, existe já o germe do romantismo. Pelo impiedoso naturalismo, pela crítica aguda, é plenamente um pintor realista. Pela técnica pictórica dos seus últimos anos, em que se serve da justaposição de pinceladas de cores puras para formar novas cores e delimitar as massas, os impressionistas reconhecem-no como um precursor. A deformação da realidade, tão significativa nas suas gravuras, é nitidamente expressionista. E tem em comum com os surrealistas as visões fantásticas e oníricas que povoam a sua excepcional obra gráfica
http://www.vidaslusofonas.pt/francisco_de_goya.htm
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