Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Noite de domingo - Emerson Monteiro

Menos um final de semana para encontrar o tal tesouro. Roupas servidas durante a missão ficaram jogadas ao cesto de cheiro característico do suor das pessoas, dias compassados. Dentes escovados. Olhos ainda ardidos na busca perdida revivem o silêncio das necessidades urgentes apenas naquele momento. Só restam, pois, fiapos de música girando desafinados pelo ar do quarto vazio. Saudades surdas, insistentes, mordem por dentro, na noite calada, fervilhante, artesanal, as entranhas impacientes.
Lá fora, lua aberta no céu, enquanto portas fechadas escondem a SOLIDÃO dos pavimentos adormecidos de grandes blocos gelados. Dimensões no entanto proporcionais à ansiedade devassam o mistério desses rastros luminosos de holofotes poderosos a varrer o céu com longos riscos, à procura de naves extraviadas que alimentariam os sonhos, desde as velhas jornadas noturnas anteriores.
Métodos de cura e drama igualitário querem superar o desânimo perante a repetição intermitente do nível médio da ambição. Talvez aceitações produzam efeitos brilhantes de lesmas que deslizaram na véspera pelas paredes do teto, em termos de convencimento de quanto o poder de mudar os trilhos do vento significaria respostas inteligentes ao sol do dia seguinte. Nisso tudo, um mastro de navio encalhado indicava nas sombras desenho escuro dos mapas eternos.
Pele enrijecida, ainda quente do verão, representa limite extremo do chão de si próprio, fogueira inevitável do existir. Tatuagem solta em ritmos eletrizantes, recordações iguais de experiências como resultado semelhante da velha impossibilidade, idêntica, de romper as muralhas do fosso individual alvacento. As ilustrações do piso escorrem de volta pelas paredes enegrecidas do firmamento. Tintas fosforescentes contornadas de garras dos animais que vigiavam as frestas da trincheira cobertas de bruma em lânguidos volteios; quase nenhum sobrevivente, nas tentativas abortadas de vencer o isolamento.
Aquém, um pretérito se dilui e encharca o solo pegajoso das conquistas guardadas nos trastes e monturos abandonados. As esperas e atitudes esconderam as fórmulas impróprias de exercer o direito de vasculhar estantes mofadas, gesto instintivo de prevalecer a qualquer preço ao sumir incontido.
Notas pelos cantos, e os insetos cortantes invadem o ventre das cordilheiras. Monstros em figuras de gente. Guerrilheiros de outras facções mercenárias, adversários de modos exaustos, músculos flácidos de cobaias mecânicas. Luzes que incendeiam os sonhos, enredos apaixonantes e prováveis. Vida bem próxima da realidade inevitável. Angústias justificadas, presentes, espertas.
O cerco se fecha qual punho metálico, a comprimir artérias e veias, retendo a circulação na área dos dedos maiores. Árvores imensas crescem ramagens gigantescas. As pontes levadiças abrem suas bocas transcendentais ao espaço descomunal do continente, na tela. Nisso, as primeiras levas escapam sorrateiras, na superfície do mundo invisível das cadeias atômicas, contato permanente dos outros iguais e suas cólicas que se perdem lentamente ao furor das novas conquistas. Sim, há espécie de claridade insuspeita no extremo oeste da razão, através dos laços do sentimento retorna esplendorosa...

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