Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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sexta-feira, 18 de junho de 2010
O calor do sol
1. O calor do sol
Os patos marcham na água do riacho.
O peru grita, protesta, contra o sol
E a solidão de ser um bicho entre os bichos.
Os bezerros pastam à sombra das jabuticabeiras.
Um mais afoito deita-se e espera, enquanto
Os outros mugem e se coçam, inquietos.
A lenha verde queima no fogão.
As labaredas sobem pelas paredes,
Estralam, estouram e caem por terra.
A água cai do alto da caixa d’água
Para o pequeno lago das carpas douradas.
A água canta e valsa entre a folhagem.
Contemplo as rosas vermelhas no galho.
A laranja explode com o calor do sol.
2. Alguns bichos
O peru caminha no pasto
Perto do lago onde a pata
Navega com os seus patinhos.
A ovelhinha malhada
Mama com desespero amoroso
Na tetas da mãe.
O porco me olha com olhos humanos
E fuça e rola e extasia-se
Com a lama do chiqueiro.
O cavalo olha para trás
Antes de beber a água do rio.
Tem as costelas da dor à mostra.
As vacas penetram no mato
Seguidas da imponência das garças.
3. A nudez e a sede
A corruíra na raiz da velha figueira.
A maritaca no alto do telhado.
O leque da pomba abana o tempo.
O homem se encontra, como num espelho,
Ruga a ruga, no tronco da figueira.
O sol estrala refletido nas folhas verdes.
À frente a paineira despida, seca, nua
Como se fosse morrer. A maior nudez
É a nudez da morte.
A estrada esburacada perde-se ao longe.
Ninguém vai, ninguém vem. Solitária,
Conversa com seus próprios buracos.
Os cactos partem-se ao sol, com sede.
Um cão chega, cheira e urina num cacto.
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Um comentário:
Imagens e versos ... Tudo em sintonia !
Delícia lê-los !
Abraços a você e a Sônia
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