Em qualquer curso de nível superior, normalmente existe uma determinada disciplina que é o “terror” da maioria dos alunos, o “bicho-papão” que põe muitos a duvidarem ou questionarem a escolha feita, a adiarem o mais que puder aquele encontro indesejável; e no entanto, como em toda regra há as famosas exceções, evidentemente que aqui e acolá surge algum “gênio” no assunto, aquele “cobra” com imensa facilidade de abordá-lo, o “bamba” que com ela se identifica ao primeiro contato, daí a paparicagem, a bajulação, a tietagem a partir de então, por parte dos colegas e até do próprio professor. Alguém desconhece que a “matemática” constitui-se, desde o maternal, um verdadeiro martírio para os que não têm habilidade ou intimidade com os números ??? Alguém cometeria a desmesurada insensatez de tentar cursar Medicina se tem dificuldade em absorver ou até certa aversão às disciplinas Biologia e Química ??? Pois bem, no curso de Ciências Econômicas a “tragédia”, o potencial “inimigo” a ser evitado sine dia, até não mais puder, responde pelo nome de “estatística” (e o pior é que a “bicha” normalmente se desdobra em três semestres: Estatística I, II e III e ainda constitui-se “pré-requisito” para a “Econometria”, outra coisa horrorosa). É mole ??? E quando você tem a desventura de pegar um "mestre" (professor ???) gozador, pernóstico ou extremamente sarcástico que anuncia em alto e bom som do alto da sua cátedra, logo no primeiro dia de aula, que a “probabilidade” é de que não mais de 10% (dez por cento) dos seus alunos conseguirão aprovação ao final do semestre ??? Pois é, vivenciamos isso no curso de “Economia”, da Universidade Federal do Ceará. O concluímos, é certo, mas a “Estatística” e o “querido mestre” (hoje aposentado, para o bem de todos e felicidade geral da nação) para sempre ficaram guardados em nosso coração. Mas, inquirirão os que se aventurarem a uma rápida passada d’olhos nas mal-traçadas acima: o que tem a ver a nossa experiência pessoal com o título do artigo – “pesquisas eleitorais” ??? E a resposta, contundente, é: só tudo.
Você já ouviu, por exemplo, algo a respeito de probabilidade, técnica de amostragem, coleta de dados, universos pesquisado, seleção de amostra, checagem, grau de precisão, homogeneidade, intervalo de confiança, margem de erro amostral, aleatoriedade, heterogeneidade, e por aí vai. Pois eles são banais e corriqueiros “instrumentos” usados na nossa “querida” estatística e fazem parte de qualquer pesquisa, sobre qualquer coisa. Vamos a eles ???
Primeiramente, o que vem a ser uma “pesquisa eleitoral” ??? Literalmente, a pesquisa eleitoral da intenção de voto nada mais é que a “auscultação” de um determinado segmento populacional, no tocante à sua preferência na escolha dos candidatos a serem sufragados nas urnas. Há que se ter a definição do seu foco, prazos, conteúdo, abrangência, identificação da amostra; depois, são estabelecidos os instrumentos de pesquisa (se através de questionário, cartões, planilhas), o treinamento dos pesquisadores, a coleta dos dados, checagem, processamento e análise dos dados; por último, a divulgação dos resultados e acompanhamento de seus desdobramentos. Como é definida a amostra de uma pesquisa? Num primeiro estágio, para definição da amostra de uma pesquisa, são sorteados ou escolhidos os municípios que farão parte do levantamento; depois, os bairros e pontos onde serão aplicadas as entrevistas; por fim, os entrevistados são selecionados aleatoriamente de acordo com o sexo, faixa etária e grau de instrução. Os dados utilizados para composição da amostra são obtidos junto ao IBGE, TSE e TREs.
Mas - perguntará você - por que eu nunca respondi a uma pesquisa ??? Acontece que as pesquisas têm amostras médias de 2.500 entrevistas e no país há 126 milhões de eleitores, segundo o TSE. Assim, em um levantamento nacional, apenas "um eleitor" em cada grupo de aproximadamente 50.000 é entrevistado, ou seja, seriam necessários 50.000 levantamentos com essa amostra para atingir o total do eleitorado, sem que nenhum indivíduo seja pesquisado mais de uma vez. Normalmente, as amostras nacionais têm entre 2.000 e 2.500 entrevistas, mas não há tamanho mínimo ou ideal para uma amostra eleitoral. O mais importante é a sua representatividade, ou seja, como são selecionados os entrevistados. Da mesma forma, é o grau de similaridade da pesquisa com o universo pesquisado. O tamanho é calculado com base no grau de precisão que se deseja, no nível de detalhamento, na análise dos resultados e dependendo do tempo e recursos disponíveis. Costuma-se utilizar amostras entre 2.000 e 3.000 entrevistados.
Todas as pesquisas, por elas utilizarem “amostra probabilística”, têm margem de erro amostral. Esse erro é calculado em função do tamanho e da heterogeneidade da amostra e dos resultados obtidos. A “margem de erro” normalmente divulgada refere-se a uma estimativa de erro máxima para uma “amostra aleatória simples”. Assim, considerando o “erro amostral”, fica estabelecido um “intervalo de confiança” - limites para mais e para menos em relação ao valor obtido.
Qual tipo de intenção de voto é mais importante numa reta final de eleição: a espontânea ou a estimulada? O ideal é observar conjuntamente os resultados. As taxas obtidas na intenção de voto espontânea podem indicar o grau de consolidação do voto em um candidato, mas os resultados da pergunta estimulada são mais utilizados pelos analistas, pois apresenta menor taxa de indecisão e quanto mais próxima a eleição, maior é a tendência de que se aproximem dos resultados apurados. Os dois tipos de respostas são importantes: a espontânea mostra quem já está "firme com cada candidato" e a estimulada mostra como o eleitor se comportaria se tivesse de decidir naquele momento da entrevista. Que fatores garantem a credibilidade de uma pesquisa? Pesquisas dependem das técnicas utilizadas e da eficácia com que são aplicadas, questionários e amostras bem elaborados, entrevistadores treinados e análises isentas dos resultados e identificação do contratante. Também asseguram a qualidade da pesquisa o modo de apresentação e divulgação dos resultados. E no caso de eleições, há regras importantes, como o registro no Tribunal Regional Eleitoral ou no Tribunal Superior Eleitoral.
Que fatores podem comprometer a credibilidade de uma pesquisa? Amostras e questionários não muito claros, divulgação parcial dos resultados, divulgação dos resultados muito tempo depois do levantamento, divulgações mal feitas dos resultados pelos veículos de comunicação e a falta de registro no TSE ou TRE.
E aí, deu pra sacar ou você vai continuar estranhando por não ser sido um dos entrevistados ???
3 comentários:
Braqvíssimo !
Abraços.
Caro Zé Nilton Mariano
Há uns dez anos, aqui na esquina próxima do meu prédio, fui entrevistado por um pesquisador do IBOP. Portanto fui um entre os 50.000 que compuseram o universo da tal pesquisa. E sabe o que o entrevistador me perguntou? "O que o senhor sugere ao governador como aplicar o dinheiro da venda da Coelce? E eu respondi: "Anote aí: ele deve gastar tudo na próxima campanha política."
Socorro: agradecemos, mais uma vez.
Carlos: taí o tipo de pesquisa tendenciosa; mereceu a resposta que foi dada.
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