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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pesquisas eleitorais – Por: José Nilton Mariano Saraiva

Em qualquer curso de nível superior, normalmente existe uma determinada disciplina que é o “terror” da maioria dos alunos, o “bicho-papão” que põe muitos a duvidarem ou questionarem a escolha feita, a adiarem o mais que puder aquele encontro indesejável; e no entanto, como em toda regra há as famosas exceções, evidentemente que aqui e acolá surge algum “gênio” no assunto, aquele “cobra” com imensa facilidade de abordá-lo, o “bamba” que com ela se identifica ao primeiro contato, daí a paparicagem, a bajulação, a tietagem a partir de então, por parte dos colegas e até do próprio professor. Alguém desconhece que a “matemática” constitui-se, desde o maternal, um verdadeiro martírio para os que não têm habilidade ou intimidade com os números ??? Alguém cometeria a desmesurada insensatez de tentar cursar Medicina se tem dificuldade em absorver ou até certa aversão às disciplinas Biologia e Química ??? Pois bem, no curso de Ciências Econômicas a “tragédia”, o potencial “inimigo” a ser evitado sine dia, até não mais puder, responde pelo nome de “estatística” (e o pior é que a “bicha” normalmente se desdobra em três semestres: Estatística I, II e III e ainda constitui-se “pré-requisito” para a “Econometria”, outra coisa horrorosa). É mole ??? E quando você tem a desventura de pegar um "mestre" (professor ???) gozador, pernóstico ou extremamente sarcástico que anuncia em alto e bom som do alto da sua cátedra, logo no primeiro dia de aula, que a “probabilidade” é de que não mais de 10% (dez por cento) dos seus alunos conseguirão aprovação ao final do semestre ??? Pois é, vivenciamos isso no curso de “Economia”, da Universidade Federal do Ceará. O concluímos, é certo, mas a “Estatística” e o “querido mestre” (hoje aposentado, para o bem de todos e felicidade geral da nação) para sempre ficaram guardados em nosso coração. Mas, inquirirão os que se aventurarem a uma rápida passada d’olhos nas mal-traçadas acima: o que tem a ver a nossa experiência pessoal com o título do artigo – “pesquisas eleitorais” ??? E a resposta, contundente, é: só tudo.
Você já ouviu, por exemplo, algo a respeito de probabilidade, técnica de amostragem, coleta de dados, universos pesquisado, seleção de amostra, checagem, grau de precisão, homogeneidade, intervalo de confiança, margem de erro amostral, aleatoriedade, heterogeneidade, e por aí vai. Pois eles são banais e corriqueiros “instrumentos” usados na nossa “querida” estatística e fazem parte de qualquer pesquisa, sobre qualquer coisa. Vamos a eles ???
Primeiramente, o que vem a ser uma “pesquisa eleitoral” ??? Literalmente, a pesquisa eleitoral da intenção de voto nada mais é que a “auscultação” de um determinado segmento populacional, no tocante à sua preferência na escolha dos candidatos a serem sufragados nas urnas. Há que se ter a definição do seu foco, prazos, conteúdo, abrangência, identificação da amostra; depois, são estabelecidos os instrumentos de pesquisa (se através de questionário, cartões, planilhas), o treinamento dos pesquisadores, a coleta dos dados, checagem, processamento e análise dos dados; por último, a divulgação dos resultados e acompanhamento de seus desdobramentos. Como é definida a amostra de uma pesquisa? Num primeiro estágio, para definição da amostra de uma pesquisa, são sorteados ou escolhidos os municípios que farão parte do levantamento; depois, os bairros e pontos onde serão aplicadas as entrevistas; por fim, os entrevistados são selecionados aleatoriamente de acordo com o sexo, faixa etária e grau de instrução. Os dados utilizados para composição da amostra são obtidos junto ao IBGE, TSE e TREs.
Mas - perguntará você - por que eu nunca respondi a uma pesquisa ??? Acontece que as pesquisas têm amostras médias de 2.500 entrevistas e no país há 126 milhões de eleitores, segundo o TSE. Assim, em um levantamento nacional, apenas "um eleitor" em cada grupo de aproximadamente 50.000 é entrevistado, ou seja, seriam necessários 50.000 levantamentos com essa amostra para atingir o total do eleitorado, sem que nenhum indivíduo seja pesquisado mais de uma vez. Normalmente, as amostras nacionais têm entre 2.000 e 2.500 entrevistas, mas não há tamanho mínimo ou ideal para uma amostra eleitoral. O mais importante é a sua representatividade, ou seja, como são selecionados os entrevistados. Da mesma forma, é o grau de similaridade da pesquisa com o universo pesquisado. O tamanho é calculado com base no grau de precisão que se deseja, no nível de detalhamento, na análise dos resultados e dependendo do tempo e recursos disponíveis. Costuma-se utilizar amostras entre 2.000 e 3.000 entrevistados.
Todas as pesquisas, por elas utilizarem “amostra probabilística”, têm margem de erro amostral. Esse erro é calculado em função do tamanho e da heterogeneidade da amostra e dos resultados obtidos. A “margem de erro” normalmente divulgada refere-se a uma estimativa de erro máxima para uma “amostra aleatória simples”. Assim, considerando o “erro amostral”, fica estabelecido um “intervalo de confiança” - limites para mais e para menos em relação ao valor obtido.
Qual tipo de intenção de voto é mais importante numa reta final de eleição: a espontânea ou a estimulada? O ideal é observar conjuntamente os resultados. As taxas obtidas na intenção de voto espontânea podem indicar o grau de consolidação do voto em um candidato, mas os resultados da pergunta estimulada são mais utilizados pelos analistas, pois apresenta menor taxa de indecisão e quanto mais próxima a eleição, maior é a tendência de que se aproximem dos resultados apurados. Os dois tipos de respostas são importantes: a espontânea mostra quem já está "firme com cada candidato" e a estimulada mostra como o eleitor se comportaria se tivesse de decidir naquele momento da entrevista. Que fatores garantem a credibilidade de uma pesquisa? Pesquisas dependem das técnicas utilizadas e da eficácia com que são aplicadas, questionários e amostras bem elaborados, entrevistadores treinados e análises isentas dos resultados e identificação do contratante. Também asseguram a qualidade da pesquisa o modo de apresentação e divulgação dos resultados. E no caso de eleições, há regras importantes, como o registro no Tribunal Regional Eleitoral ou no Tribunal Superior Eleitoral.
Que fatores podem comprometer a credibilidade de uma pesquisa? Amostras e questionários não muito claros, divulgação parcial dos resultados, divulgação dos resultados muito tempo depois do levantamento, divulgações mal feitas dos resultados pelos veículos de comunicação e a falta de registro no TSE ou TRE.
E aí, deu pra sacar ou você vai continuar estranhando por não ser sido um dos entrevistados ???

3 comentários:

socorro moreira disse...

Braqvíssimo !

Abraços.

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Caro Zé Nilton Mariano

Há uns dez anos, aqui na esquina próxima do meu prédio, fui entrevistado por um pesquisador do IBOP. Portanto fui um entre os 50.000 que compuseram o universo da tal pesquisa. E sabe o que o entrevistador me perguntou? "O que o senhor sugere ao governador como aplicar o dinheiro da venda da Coelce? E eu respondi: "Anote aí: ele deve gastar tudo na próxima campanha política."

jose nilton mariano saraiva disse...

Socorro: agradecemos, mais uma vez.
Carlos: taí o tipo de pesquisa tendenciosa; mereceu a resposta que foi dada.