Querida Sofia
Hoje o cosmo acima e abaixo da linha do meu horizonte parece que se tornou mais amplo. Tinha muito mais coisas do que imaginava seria tudo o que via. Por exemplo, o que a tarde do último sábado, dia 28 de junho de 2010, teve a mais do que as tardes cariocas. Seja no Maracanã, na praia, no Aterro do Flamengo, na Lagoa, no Norte Shopping em Madureira ou os cinemas de Santa Cruz.
Foi uma tarde muito maior que o espaço em que nos encontramos. As dezenas de barracas com comidinhas de São João, as bandeirolas, as mesas espalhadas naqueles vários ambientes da tua escola. Ali onde permaneces as horas luminosas do sol nos teus dois anos de idade.
Sabe, pequena, aquela multidão - nossos dedos são menos numerosos -, chegava a quase mil num vai e vem que impressionava uma vez que o ir e vir era ali, naquele mesmo lugar. Muitos ainda chegavam, mas o circular era no ambiente.
Não vou te lembrar de toda a variedade de coisas nas barraquinhas, do algodão doce colorido, do salsichão, da tapioca, da canjiquinha, não vou enumerar isso tudo. Os estalinhos, o pula-pula ou o jogo de argolas. Nem vou relembrar as crianças subindo os troncos das árvores de tua escola diante dos olhos apavorados das mães. Tampouco aquela variedade de mulheres e homens, crianças de carrinho aos adolescentes, dos avós cansados dos seus cabelos brancos a suportarem tamanha movimentação.
Pequena o teu avô nunca te viu tão desmesurada, não existiam motivos para a régua dele de medir o mundo desde que nele te encontras. Eras a pequena frente ao incomensurável do mundo sobre humano. Mas, neste sábado, todas as dimensões ultrapassaram os próprios limites, pelo menos aqueles ele que achava que os era.
Naquele sábado de São João se encontravam dezenas de brasis, desde aqueles coloniais, passando pelos imperiais, os regionais e até a rua cheia de automóveis de agora. Abria o sentimento para a música e evoluía a mais remota música folclórica dos povos que ferveram na história do país.
A grande medida, querida criança, do momento quando se juntava a vida rural que dirigira os destinos do teu país aos tempos de hoje quando é somente apêndice da urbanidade de tua geração. E por assim a escola fazer este São João, quando tu compreendes um pouco, tenhas por certo que no futuro tal estará em tua alma que será, por isso mesmo, muito maior no tempo e no espaço em que te desenvolverás.
Uma alma pode ser muito pequena, do mesmo modo que poderá ser grande. E estas dimensões não são dadas fora dos nossos horizontes. É neles e deles que um dia poderá ser tão grande como sábado, contigo vestida como uma caipira, formando uma roda ao som da música ancestral que é particularmente forte, pois nasceu bem no coração do antes que viera muito antes daquelas horas nossas por ali.
2 comentários:
Sentimentos compartilhados e entendidos !
Abraços pra você, Teresa e Sofia.
Sofia é linda !
Tem os olhos dos Feitosa !
Postar um comentário